A casa às costas

Nuno André Coelho: “O Pinto da Costa queria muito o Moutinho e o Sporting exigiu em troca ficar comigo. Eu não devia ter aceitado”

Nuno André Coelho: “O Pinto da Costa queria muito o Moutinho e o Sporting exigiu em troca ficar comigo. Eu não devia ter aceitado”
MB Media

O central que lá fora andou por Bélgica, Turquia e EUA, enquanto em Portugal tentou vingar no FCP, Sporting e SC Braga, esteve as três últimas épocas no Chaves, que acabou de descer à II liga. Aos 33 anos, Nuno André Coelho já está a preparar o futuro pós-futebol, na área do imobiliário. Pai de dois filhos, pouco dado a fazer amizades fora do círculo dos amigos de infância, fala abertamente sobre alguns treinadores que teve, compara os balneários e os adeptos do FCP e Sporting, nos tempos em que lá jogou, entre outros pormenores - incluindo o famoso jogo com o Arsenal em que Jesualdo o pôs a jogar a trinco

Nasceu em Penafiel, na freguesia Paço de Sousa. Que atividade tinham os seus pais quando nasceu?
A minha mãe tinha um negócio de fazer florzinhas de açúcar para os bolos de aniversário, mas eu já não me recordo porque passados dois ou três anos acabou com o negócio. O meu pai sempre foi empregado da Câmara Municipal do Porto.

Tem irmãos?
Tenho uma irmã, a Vânia, quem tem 35 anos, e um irmão, o Mário, que tem 25.

Quando se fala de infância, qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça?
Os vizinhos, os amigos, jogar futebol na rua, era assim que passávamos as tardes. Não passavam carros em frente à casa dos meus pais, então juntávamo-nos todos para jogar. Éramos uns seis a oito.

E quando era pequeno, o que é que dizia que queria ser?
Sempre foi futebolista. Apesar de só ter começado a jogar futebol num clube com 12 anos.

Da escola, gostava?
Sempre fui bom aluno. Nunca tirei uma negativa até ao 10º ano, altura em que troquei de escola. Naquele período de passagem do 9º para o 10º anos foi quando saí daquele meio, em Paço de Sousa. Só havia escola até ao 9º ano e fui para Penafiel e aí já foi completamente diferente.

Quando era pequeno torcia por que clube, lá em casa torcia-se por quem?
Pelo FC do Porto (FCP).

Quem eram os seus ídolos?
Vou ser sincero, quando era miúdo não via muito futebol, queria era jogar com os amigos, não era muito de ver futebol. Como a família não tinha muitas posses, também não ia aos estádios com o meu pai. E também prometi a mim mesmo, desde que comecei a jogar futebol, que só entraria no Estádio das Antas, que depois passou a ser do Dragão, quando fosse jogador do FCP.

E cumpriu?
Sim. Nunca vi um jogo do FCP ao vivo antes de ser jogador do clube.

Nuno André Coelho, em 2008, num jogo de qualificação da seleção de sub-21 para o Europeu
Adam Davy - EMPICS

O seu primeiro clube foi o Penafiel. Como aconteceu?
Bem, começar, começar, foi no Paredes. O meu tio, o irmão do meu pai, era presidente do Paredes e por intermédio dele fui para lá treinar. Mas apanhei um treinador que disse que eu nunca iria ser jogador de futebol. O meu pai também não gostava, eu não era convocado, não jogava, só lá ia treinar e então ele decidiu levar-me a outro lado e como o mais perto era o Penafiel, fui lá. A partir daí comecei como extremo-direito. Na altura gostava de correr e de fazer golos.

Quantos anos tinha?
12. Estive lá até aos 18 anos.

Sempre como extremo?
Não. Comecei como extremo-direito mas passado um ano, ano e meio, houve um treinador que me colocou a central.

Gostou ou nem por isso?
Gostei, o que me importava era jogar. Na altura havia falta de centrais, um colega meu tinha-se lesionado, outro estava castigado, e como eu era dos mais altos do plantel o treinador colocou-me a central. A partir daí não saí mais. Passado meio ano era capitão de equipa.

Como é que vai para o FCP? Tinha empresário?
Tenho empresário desde os 17 anos. Quando estava no Penafiel, com os meus 14, 15 anos, jogava sempre na equipa acima, com jogadores mais velhos. O meu pai decidiu que eu deveria ter alguém que percebesse um bocado do meio do futebol e que me orientasse melhor do que ele. Falou com esse meu tio do Paredes, que estava mais dentro do meio. Foi através do escritório do Rui Neno, que o meu tio conhecia, mas quem estava mais comigo era o sócio dele, o Nelson Almeida. Fiz contrato com eles aos 17 anos.

Assinou logo com o FCP?
Não. Quando estou no primeiro ano de júnior fui convocado para a seleção nacional de sub-19, ainda no Penafiel. Eu faço anos em janeiro, comecei essa época no Penafiel com 17 anos e, quando fiz 18, o Penafiel queria que eu assinasse contrato profissional. Eu disse que tinha de chamar o meu empresário, não poderia assinar nada sem ele estar presente. Os responsáveis do Penafiel ficaram estupefactos porque não sabiam que eu tinha empresário. Tudo aquilo que eles queriam que eu fizesse, o meu empresário não concordou. A partir daí, eu, que jogava sempre no Penafiel, como não assinei, não joguei mais. Era o normal antigamente, agora não sei.

O FCP surge então no final dessa época em que deixou de jogar a partir de janeiro.
Sim. O meu empresário, o Nelson Almeida, que nessa altura se tinha separado do Rui Neno, disse-me que eu até podia escolher. Quando fui chamando à seleção, ele disse-me que eu podia escolher entre Benfica, Sporting e FCP.

Tinha os três grandes interessados em si?
É verdade. Não sei se é verdade ou mentira, mas foi o que ele me disse na altura, que existia essa possibilidade.

Foi atrás do coração?
Fui. Sempre fui portista.

Entretanto muda de escola.
Isso foi antes, tinha 16 anos.

Custou-lhe essa mudança da escola?
Sim, muito, pelos amigos. Depois lá havia salões de jogos...

Perdeu-se um bocadinho
Perdi.

Chumbou?
Chumbei no 10º, depois passei e foi no 11º que surgiu a possibilidade de ir para o FCP.

Ai também começam as saídas à noite.
As saídas à noite eram em Penafiel. No Porto nunca saí.

Porquê?
Nunca fui muito de fazer amigos íntimos no futebol, tenho os amigos de infância. Quando saio, saio só na zona de Penafiel com os amigos de infância. O meu pai fazia com que eu chegasse no máximo dos máximos às 00h30 a casa, nunca mais do que isso. E quando me esticava um bocadinho ele ligava-me preocupado, ‘tens de vir para casa, vou buscar-te onde quer que estejas’. Era sempre assim. Mas nunca fui muito de estar até às cinco e seis da manhã.

Nuno André Coelho assinou pelo FCP em 2004/05
Adam Davy - EMPICS

Começa como júnior no FCP.
Vou para o Porto fazer o último ano de júnior.

Quem era o treinador?
O Bandeirinha. Até fiquei um pouco triste com ele, não sei o que é que se passou, porque faço o campeonato todo a titular e chegou àquela fase final para ver quem é o campeão, dos jogos contra Sporting, Benfica, Boavista ou V. Guimarães, e não fiz um minuto sequer na fase final.

Nunca lhe explicou porquê?
Não.

Perguntou-lhe?
Não. Eu era miúdo, era o primeiro ano que estava no FCP e nunca fui muito de pressionar. A única coisa que percebi é que os outros centrais que jogavam eram todos mais novos do que eu um ano. Não sei se era para mostrar mais esses miúdos... Não sei se foi ele que decidiu, se foram ordens acima dele, não faço a menor ideia. Sei que fiquei um bocado revoltado porque eu tinha feito o campeonato inteiro.

Foi viver para a Invicta?
Não, continuei em casa dos meus pais. Não quis viver no Porto.

O que acontece na época seguinte?
Vou para a equipa B, era o Aloísio o treinador.

Gostou dele?
Acho que não funciona como treinador principal. Mais como adjunto. É muito pacato, não fala muito, acho que não tem perfil para ser treinador principal. Mas independentemente disso, comecei na equipa B, não era primeira opção para jogar, havia outros jogadores.

Quem era a sua concorrência na altura?
O Pedro Ribeiro, o Vítor Alves, um africano chamado Joel. Mas como tinha ido para o FCP continuei a ser chamado à seleção nacional. Sempre com o Caçador. Jogava sempre na seleção.

Foi aos torneios de Toulon?
Exatamente. Nessa altura as equipas B só podiam ir até à 2ªB, não podiam subir mais, e o discurso do Caçador era que se tivéssemos oportunidade de passar pelo menos para uma II Liga, naquele tempo Liga de Honra, era muito bom para nós e tínhamos a porta aberta para continuarmos a jogar na seleção, porque estávamos sempre num patamar acima do dos nossos companheiros. Recordo-me que em janeiro, como não jogava, fiz pressão para sair do FCP.

E vai para o Maia.
Sim, em janeiro, só faço meia época.

O treinador era o Eurico Gomes. Gostou dele?
Muito. Como foi jogador percebe aquilo que passamos e se um jogador for aberto com ele, ele deixa-nos à vontade. Mas tive um azar. Eles não pagavam, no fim desse ano o Maia desceu, acabou para o futebol. O FCP não tinha gostado que eu saísse. Eu fiz pressão com o meu empresário, eles lá me deixaram sair mas disseram ‘tu vais mas nós não continuamos a pagar o teu ordenado, quem te paga é o Maia’. Aceitei, o Maia também concordou, mas fiquei a arder.

Nunca recebeu nada?
Depois meti um advogado e recebi dois meses, não recebi mais.

Lembra-se do valor do seu primeiro ordenado?
Quase mil euros limpos.

O que fez ao seu primeiro ordenado?
Gastei-o todo (risos).

Em quê?
(risos) Não faço a menor ideia. Acho que foi tudo à base de roupa, de ténis, dessas coisas assim. Também comprei, logo que juntei algum dinheiro, uma carrinha de dois lugares. Não tinha como ir todos os dias para o clube, ia à boleia. Éramos três da zona de Penafiel e Paredes. Eu, o Hélder Barbosa e um rapaz que depois não seguiu o futebol.

Estava a contar que foi para o Maia e que ficou sem receber…
Sim e há uma curiosidade. Eu vivia em casa dos meus pais e não tinha condições para ir treinar todos os dias. Só tinha recebido aquele ano e meio de ordenado e naquele primeiro ano o ordenado vinha, o ordenado ia. Então não tinha condições para ir diariamente para o Maia e por isso fui falar com o presidente do clube. Perguntei-lhe se pelo menos podia pagar um mês para ajudar e a resposta que obtive foi ‘tu tens de te preocupar em jogar, mais nada’ (risos). Aquilo estava mesmo de rastos. Vou falar com o treinador e disse-lhe que não tinha condições para ir treinar todos os dias. Então ele diz-me que bastava ir na 5ª, 6ª e sábado para jogar no domingo. Foi o que fiz. Na 2ª, 3ª e 4ª era folga para mim. Ficava em casa (risos).

Nessa altura ainda estava na escola?
Já não.

Quando é que largou os estudos?
Na altura em que vou para o FCP, não concluí o 11º.

Nuno André Coelho (à direita) saiu do país pela primeira para o Standard de Liège, da Bélgica
MICHEL KRAKOWSKI

A época acaba, o Maia acaba e depois?
O Maia acaba mas antes tenho o torneio de Toulon, no final dessa época. Fizemos uns seis jogos e fui um dos destaques da seleção nacional. A partir daí, quando regresso, já não vou para o Maia, porque me ligam do FCP a dizer para ir a uma reunião na SAD. Também já tinham falado com o meu empresário. Quando lá chegámos estava o D’Onofrio, que queria me levar para o Standard.

Qual foi a sua reação?
Para já não conhecia o clube (risos), mas fiquei abismado. Ele queriam levar-me num jato privado, eu tinha 20 anos, fiquei... mas disse que não ia, ainda tinha tempo de férias. Mas ele queria levar-me para conhecer a cidade, conhecer o clube. Disse que me levava e trazia, essas coisas todas, optei por não ir mas assinei contrato nesse mesmo dia.

Com quem?
Renovei com o FCP por mais dois ou três anos e assinei contrato de empréstimo com o Standard de Liège.

Vai para a Bélgica sozinho?
Vou.

É a primeira vez que sai de casa?
É e logo para fora.

Chorou muito?
Não, nunca fui muito de lamentar, sempre fui muito desenrascado. Apesar de não conhecer a língua, não sabia falar francês, percebia algumas coisas porque há palavras quase idênticas ao português.

Qual foi o primeiro impacto quando chegou e se viu sozinho?
Fui visitar o estádio, fui visitar a cidade, eles mostraram-me tudo, sempre fantásticos comigo. Estava maravilhado, nas minhas sete quintas. Depois estava lá o Sérgio Conceição, que ainda jogava. O Sá Pinto também foi para lá, o Rogério Matias, o Areias, tínhamos uma pequena comunidade portuguesa.

Conviviam entre vocês?
Sim, mas eu não gostava muito porque eles tinham as famílias.

Então o que fazia nos tempo livres?
Havia um restaurante português que já lá está há vários anos, comecei a frequentar, começámos a conversar, eles conheceram-me e disseram que sempre que precisasse de alguma coisa podia lá ir, estar à vontade. Cheguei mesmo a frequentar a casa do dono do restaurante. No prédio do restaurante, de que esse senhor também era o dono, havia uns apartamentos que ele só alugava a portugueses ou filhos de portugueses que iam para lá estudar. Conheci gente que vivia no Luxemburgo e passava ali algum tempo.

A época correu-lhe bem desportivamente?
Não me posso queixar.

Muito diferente daquilo a que estava habituado?
Sim, muito diferente.

Em que aspeto?
Na pré-época fazíamos três treinos por dia, íamos para a bancada do estádio subir e descer escadas a correr, era uma coisa...muito puxado. O campeonato é mais parecido com o francês, mais de contacto. Neste momento a equipa do FCP é muito física, com intensidade, e era um bocado assim, principalmente os jogadores do ataque. Tudo muito corpulento, com muita velocidade.

Ressentiu-se?
Não, adaptei-me bem. Consegui fazer uns 14 ou 16 jogos. Estivemos numa pré-eliminatória da Liga dos Campeões, em que não passámos. Depois ainda estivemos no playoff da Liga Europa, onde apanhámos o Celta de Vigo, mas também não passámos.

Nessa altura já está com 20 anos. Namorava?
Eu já conhecia a minha atual esposa.

Conhecia-a de onde?
Ela é da zona de Paredes, eu sou de Penafiel. Já a conhecia há algum tempo, tínhamos amigos em comum e um dia combinámos um encontro num barzito.

O que é que ela fazia?
Estudava, tirou o curso de marketing de moda.

Chegou a exercer?
Sim, começou a trabalhar numa loja da Mango, mas mais para a frente largou.

Quando vai para a Bélgica já namorava com ela?
Quando vou ainda não. As coisas não correram muito bem ao início, mas depois existe aquela paragem em janeiro, vim cá e foi a partir daí.

Do que gostou mais e menos na Bélgica?
Gostei muito da cidade de Liége. E dos adeptos, são fantásticos. Foi dos melhores clubes por onde passei ao nível de adeptos. O que gostei menos... o tempo, que é sempre um bocado chuvoso, encoberto, porque de resto não vejo assim mais nada. Também apanhei a fase do Standard em que estavam a começar a fazer a academia, ainda só tinham o campo feito, não tinham mais nada.

Entretanto a época acaba e vai parar ao Portimonense. Porquê?
Porque fui obrigado.

Por quem?
Pelo FCP. O meu empresário deu-me várias opções da I Liga e o FCP disse que eu tinha de ir para o Portimonense, porque já tinham falado com os directores do clube.

Ficou chateado?
Fiquei um bocadinho. Um jogador que faz 16 jogos na liga belga, que joga um playoff da Liga Europa, vir para o campeonato da II Liga portuguesa... Não estava nas minhas contas.

Falou com quem no FCP?
Sempre com o mesmo, com o Antero.

Não havia outra hipótese?
Não, tinha contrato com o FCP, aceitei, não podia fazer nada.

Vai para o Algarve sozinho?
Sim, ainda sozinho.

Como é que foi a adaptação? Gostou?
Gostei. Só há alvoroço ali naquele período da pré-época, em que há muita gente no Algarve, mas depois Portimão é uma cidade pacata. Não gostei muito dos treinadores que por lá passaram.

Quem eram?
Primeiro foi o Luís Martins e, apesar de ter jogado muito com esse treinador, ele tinha saído da academia do Sporting e foi treinar na II Liga, mas acho que não tem perfil para treinador principal. As coisas não correram muito bem, ele é despedido e vem o Vítor Pontes.

E que tal?
As coisas não correram bem. Ele era daquele tipo de treinadores que prometiam e diziam coisas e não cumpriam. E por mais que eu fosse falar com ele, as coisas não davam certo. Porque ele dizia que contava muito comigo e não sei o quê, mas o que é certo é que chegava ao dia do jogo e eu não jogava. Foi assim durante cinco meses, enquanto esteve lá.

A sua família e namorada iam ter consigo?
Sim, iam lá e de 15 em 15 dias. Como havia muitos jogos cá em cima, o médico do clube trazia-me o carro para cima, porque depois eu tinha folga a seguir ao jogo, ficava com a família e depois podia regressar no meu carro.

A seguir vai para o Estrela da Amadora. Também é o FCP que o obriga a ir para lá?
Não. Aí foi o clube que me deu mais condições.

O FCP pagava metade do ordenado e o Estrela a outra metade?
Nessa altura era o FCP que pagava tudo, eu tinha contrato com o FCP.

Mas os outros clubes, neste caso o Estrela da Amadora, não lhe davam mais nada?
Dava-me casa. No Portimonense também foi assim.

Ficou a viver onde?
No Estoril, em Manique. Foi o próprio presidente que disse que tinha a casa ideal para mim e levou-me a um condomínio privado, que tinha acabado de ser feito. Era uma coisa gigante.

Também foi sozinho?
Também fui sozinho.

Como e com quem passava o tempo?
Viviam lá o Monteiro, o Vítor Vinha e juntávamo-nos, íamos ao Cascais Shopping, que era lá ao lado. Nunca fui de jogar Playstation ou outros videojogos.

Nem tinha outro desporto que gostasse de praticar?
Ainda fui jogar duas ou três vezes golfe mas não passou daí, foi só uma experiência.

Como treinador apanhou o Lito Vidigal. Gostou?
Gostei, ele apostou em mim. Fiz quase os jogos todos.

Continuava a ser chamado à seleção?
Sim. Fiz dois torneios de Toulon, um no ano a seguir ao Maia e o outro logo no ano a seguir quando estava no Porto. A partir daí estive nos sub-21, não conseguimos o apuramento, não me recordo se era o Europeu ou o Mundial, e depois fiz uns jogos de sub-23.

Depois da época no Estrela da Amadora regressa ao FCP. Estava confiante de que tinha lugar na equipa portista?
Nem tanto, porque sendo jogador do FCP fiz o percurso normal que outros jogadores tinham feito. E na altura que vou para o FCP, o Maicon é contratado ao Nacional da Madeira pelo Jesualdo Ferreira. Já lá estava o Bruno Alves, Rolando e o treinador pede o Maicon... Eu sabia que ia para lá porque o clube queria que eu voltasse.

Não porque o treinador quisesse.
Exato. Por isso sabia que ia ser a quarta opção.

O que achou dos métodos de Jesualdo Ferreira?
Para mim é um professor, ensina bastante. Foi naquele ano em que o Falcao também veio e ensinou-o de uma maneira... O Falcao não era nem metade do jogador quando veio para cá e que foi quando esteve no Porto. Mas acho que a nível de liderança tem muito que se lhe diga.

Porque é que ele não apostou em si? Sabe?
Quando um treinador aposta num jogador e diz ao clube para o contratar, é claro que a primeira opção dele vai ser aquele, não vou ser eu. Por isso jogava Bruno Alves e Rolando sempre e quando tinha de entrar um central entrava o Maicon. Nesse ano, os únicos jogos que fiz foi para a Taça de Portugal.

Que ganharam.
Ganhámos a Taça de Portugal. Até foi contra o Chaves. E houve aquele jogo que joguei a trinco, com o Arsenal, e que até hoje não percebo o porquê de ele me ter colocado a trinco.

Explique lá isso.
Foi nesse ano que me estreei a jogar na Liga dos Campeões, no campo do Arsenal, a trinco com o Jesualdo. Nunca tinha jogado a trinco na minha vida.

Foi difícil?
Fiz aquilo que me pediram. O jogo acabou 5-0 para o Arsenal. Ele tirou-me ao intervalo quando estava 2-0, por isso a culpa não é minha.

Quando volta ao Porto, volta a casa dos seus pais?
Volto, ainda não tinha casa.

Como é que um jogador se sente quando treina todos os dias e raramente é convocado? Deve ser uma frustração enorme.
É. É não baixar os braços. Nunca fui de baixar os braços, sempre trabalhei, apesar de às vezes os treinadores não contarem comigo, sei que se continuar a trabalhar e a dar o meu máximo nos treinos vai ser melhor para mim. Era nisso que me focava sempre. Todos os dias. Nunca fui de me baldar aos treinos ou de estar lá por estar.

Nunca questionou o Jesualdo?
Não.

Como é que surge o Sporting se até jogou pouco?
Eu ainda comecei no FCP nessa época em que vou para o Sporting, ainda fiz a pré-época no FCP, com o Villas-Boas. O Jesualdo foi embora, acabou o campeonato, fomos de férias, depois tinha de me apresentar no Porto. Fazíamos sempre aquele período no centro de treinos do Olival e só depois é que íamos para estágio. Ainda me apresentei lá. Sentia o Villas-Boas do meu lado, sempre o senti em todos os treinos que fiz, a incentivar-me sempre, sempre. Mas de repente o Antero Henrique chamou-me ao gabinete e inventou uma história. Que tinha falado com o treinador e que ele não contava comigo e que existia a possibilidade de eu ir para o Sporting. ‘Não estou a perceber.’ Mas ele disse ‘epá, vai para casa, pensa’. Depois começaram a sair notícias sobre o Moutinho ir para o FCP e aí é que percebi. Falei com o meu empresário e disse que não queria, porque sabia que o treinador contava comigo e aquilo que o Antero Henrique me estava a dizer não era verdade.

Alguma vez questionou o Villas-Boas sobre se o queria mesmo ou não?
Na altura em que começamos a pré-época, o Villas-Boas disse-me que contava comigo. Depois o meu empresário, através do Antero e dos diretores do Sporting, é que descobre que foi uma exigência que o Sporting fez. O FCP queria muito o Moutinho, o Pinto da Costa queria muito o Moutinho, sempre gostou muito dele, e então a exigência que o Sporting fez, já não sei se foram 10 milhões, uma coisa assim, mais o Nuno André Coelho. O Moutinho assim podia ir para o FCP. Eles fizeram de tudo para que eu dissesse que sim.

E conseguiram.
Eu acabei por dizer que sim porque não estava para ficar a treinar à parte e essas coisas todas que ameaçaram fazer.

Vai para o Sporting…
Desmotivado.

Vai sozinho?
Não, aí a minha esposa, namorada na altura, vem comigo. Ficámos em Alcochete num apartamento do clube.

Adaptou-se bem?
Sim, era um meio pacato, um meio sossegado em que eu me dava bem. Não gostava muito de confusões.

Nuno André Coelho chega ao SC Braga na época 2011/12
Steve Drew - EMPICS

Como é que foi o impacto de chegar ao Sporting vindo do FCP?
Fui direto para o estágio na Suíça. Naquele tempo vivi a troca de treinador e a troca de presidente, foi tudo no mesmo ano. Fui para lá com o Bettencourt e saí de lá com o Godinho. O Sporting estava de rastos nessa altura. Apesar de ir para lá desmotivado, não posso colocar as culpas todas em cima dos outros. Também tenho a minha parte. Mas fiz de tudo para motivar-me e ajudar o Sporting da melhor maneira, só que não dependia só de mim.

As coisas não correram bem, mas entre o Paulo Sérgio e o José Couceiro, com qual é que se deu melhor?
Joguei mais com o Paulo Sérgio, fui a aposta. Exigiu que eu fosse para lá, tinha de apostar em mim, tinha de me pôr a jogar. Com o Couceiro já não joguei. Mas foi no Sporting que tive o jogo mais marcante da minha carreira, com o Brondby, em que perdemos 2-0 em casa no playoff da Liga Europa e fomos lá ganhar 3-0 e eu fiz o segundo golo. Foi um dos jogos mais marcantes da minha carreira. Porque lá está, acho que o problema do Sporting, até hoje, continua a ser o mesmo: os adeptos querem resultados imediatos e não pode ser, o futebol não é assim.

É um clube grande que já não ganha o campeonato há muitos anos - é natural que os adeptos tenham essa exigência.
Mas também há tanto tempo que andam com troca de presidentes, troca de treinadores, troca de não sei o quê... Assim não vai a lado nenhum. Eles discutem sempre. Se um treinador empata ou perde já está em causa. Têm de dar tempo ao tempo. Se nós estivéssemos dois ou três jogos sem perder, sempre a ganhar, estava tudo fantástico. Bastava empatar um jogo...

Acha que são adeptos mais exigentes que os do Porto, por exemplo?
Acho que nesses clubes, e eu passei pelo Sporting e pelo FCP, os adeptos são muito exigentes mas não dão tempo. Os do Porto estão habituados a ganhar, é verdade, basta uma derrota para aquilo ficar logo tudo em alvoroço, mas apoiam sempre a equipa, sempre.Também lá vivi momentos conturbados com o Jesualdo, em que ficamos atrás do SC Braga, no ano em que o Braga ficou em 2º lugar. Mas eles só reagem e agem no momento em que veem que não temos capacidade para ir mais longe. Eles invadiram o estádio num treino, mas só invadiram depois do treino, porque queriam falar com o presidente, com os capitães e com o treinador. E foi já numa fase final do campeonato porque viram que já não havia hipóteses de lutarmos pelo título e queriam conversar, estavam revoltados, é normal. Enquanto no Sporting, o que lá vivi, é que não interessa qual é a fase, se é no início, no meio ou no fim, não interessa, basta uma derrota ou dois ou três resultados menos positivos para eles se atirarem ao treinador, ao presidente, aos jogadores, atiram-se a toda a gente.

Iam para Alcochete chatear-vos?
Muitas vezes. E quando saímos do estádio, depois de um jogo com um resultado menos positivo, quando estávamos a sair do estádio, chingavam-nos.

Não o surpreendeu o que aconteceu em Alcochete no ano passado?
Não, nada, e principalmente com aquele presidente.

O balneário era muito diferente do do Porto?
Muito diferente.

Consegue explicar?
Eu não sei como é que funciona o FCP agora e o Sérgio Conceição deve ter uns métodos completamente diferentes hoje em dia. Mas, na altura, no balneário do FCP não existiam treinadores, não entrava lá ninguém - e se entrasse era com permissão. Tinha de bater à porta e pedir para entrar.

No Sporting isso não acontecia?
Recordo-me de uma situação que aconteceu no balneário do Sporting. Nós estávamos na Liga Europa e no início da época fazemos aquelas medições para os fatos, e recordo-me de uma situação que para mim é surreal numa equipa de um grande em Portugal. Tirámos as medidas e no dia em que fomos para a Academia estavam lá os fatos, só as calças e o casaco. Agora camisas, sapatos, gravatas e cintos, estavam todos metidos dentro de um caixote no centro do balneário, como que a dizer, cada jogador que se sirva, que tire aquilo que quiser. Não faz sentido num clube como o Sporting. Acho que apanhei das piores fases do clube.

É quando está no Sporting que faz a sua estreia na seleção A?
Nunca me estreei.

Não fez um jogo de qualificação para o Euro 2012?
Não. E não gosto do Paulo Bento por isso.

Porquê?
Por causa disso. É assim, antes do Queiróz era o Paulo Bento e o Paulo Bento convocou-me para jogos amigáveis e nunca me colocou a jogar. E aí é que poderia ter-me colocado a jogar, não era o Carlos Queiroz, depois do Paulo Bent, que me ia pôr a jogar para a qualificação. Estive no banco. Tive a oportunidade de ser internacional com o Paulo Bento e ele não me deu essa oportunidade. Até hoje não sei porquê. Joguei no Algarve com uma equipa africana, já não me recordo, e ele não me tirou do banco, nem fui aquecer. Fiquei lá o jogo inteiro. Entraram todos menos eu. Até hoje não consigo encontrar uma explicação para isso.

Não tinha mau feitio, não era de arranjar conflitos?
Não, nunca fui.

Era para ter continuado no Sporting, mas foi para o Sc Braga. Porquê?
Quando vim para o Sporting na altura assinei por três anos. Não fico porque as coisas não correram bem desportivamente e também por causa dos treinadores. Quando o Domingos veio do SC Braga para o Sporting, quis trazer o central que estava no Braga, o peruano Rodriguez. Então arranjaram ali uma solução para não haver trocas de dinheiro, não haver muitos pagamentos e o SC Braga também quis que eu fosse para lá. É aí que se torna complicado. Eu nunca deveria ter aceitado naquelas condições. Sempre tive até ao último ano no Braga, e ainda lá estive três anos, 50% do meu passe no FCP, 20% no Sporting e 30% no SC Braga. Foi nestas circunstâncias que fui para o Braga.

Por que diz que nunca devia ter aceitado?
Porque depois no SC Braga, onde fui mais feliz, onde joguei e tive a oportunidade de dar um salto significativo para mim, monetariamente, não consegui porque o SC Braga não aceitou. O dinheiro que davam por mim era bastante, mas o Sc Braga tinha que o dividir com o Sporting e com o FCP. Foi por isso que eles não aceitaram. Eu tive ofertas de quase 10 milhões.

De quem?
Do Besiktas, por exemplo. Eles não aceitaram porque só iam ficar com 30%.

E nessa altura não se chateou com o seu empresário por ter deixado que as coisas fossem feitas dessa forma?
Na altura nem pensávamos nisso porque eu não estava feliz no Sporting e só fiquei a saber depois que o meu passe estava dividido por três clubes. Quando surgiram essas propostas é que fiquei a saber.

Vai para Braga e o treinador é o Leonardo Jardim.
Foi dos melhores treinadores que apanhei. Não é um tipo de treinador de falar mas sabe tirar o melhor do jogador. Apanhei-o quando ele chegou praticamente à I Liga, ainda tinha estado nuns clubes intermédios, mas ali no SC Braga foi onde ele deu cartas para depois ir para o Sporting. Para mim ele tem uma visão fantástica do jogo, sabe o que é preciso fazer, estuda muito bem o adversário e consegue motivar e dar confiança ao jogador. E a confiança para um jogador é jogar. Não precisa de muitas palavras e ele nunca foi um treinador de falar. Simplesmente dizia “queres confiança? Eu meto-te lá dentro”.

E nessa altura que tem a rotura no joelho.
Sim, foi logo no início da primeira época, em setembro.

Como é que fez isso?
Foi sozinho, no treino. Foi um mau apoio que fiz, o joelho foi para trás.

Esteve quanto tempo parado?
Ao fim de 5 meses estava a jogar. O primeiro jogo que fiz, recordo muito bem porque tínhamos passado aos dezasseis avos da Liga Europa, foi contra o Besiktas. Foi a partir daí que o Besiktas apareceu para mim. Eles vêm a nossa casa para jogar a eliminatória, perdemos 2-1, eu ai ainda não estava apto, joguei no jogo lá onde ganhamos 1-0.

No Braga apanhou jogadores especiais como o Ukra, por exemplo...
Mas esse é um maluco que faz bem às plateias (risos). É um palhacito, gosto muito dele. Às vezes a questão não é ser um maluco, é como ele está no dia a dia. É aquela felicidade que ele transmite a toda a gente. Isso é contagiante e toda a gente entra nas brincadeiras dele. Seja o pôr o rádio nas alturas e começar a dançar no balneário, ele motiva toda a gente. Para mim foi dos melhores colegas que apanhei no futebol.

A segunda época no SC Braga já foi com o José Peseiro. Como é que corre?
Ganhamos a Taça da Liga e apurámo-nos para a Liga dos Campeões.

Gostou do Peseiro?
A nível de métodos de trabalho de perceber o futebol gostei muito dele. Acho é que é muito bom homem, devia ser um pouco mais de gancho.

Da segunda época o que mais lhe ficou na memória?
Os jogos da Liga dos Campeões. Jogar contra o Manchester United é completamente diferente, é um sonho para qualquer jogador, fazer parte de uma equipa que está numa fase de grupos de um campeonato como a Liga dos Campeões é fantástico, adorei, vivi cada momento.

O que é diferente?
É bom apanhar essas equipas porque aí é que se diferencia da Liga Europa e de outras competições. Se não se apanhar essas equipas grandes também não tem piada nenhuma. Lembro-me que nos dois jogos contra o Manchester estivemos a ganhar e só mesmo nos últimos minutos é que perdemos. Mas foi uma coisa...

No ano seguir volta a apanhar o Jesualdo, agora em Braga. Correu melhor?
Sim, na altura eu também já era dos mais experientes no SC Braga. São fases completamente diferentes, ele aí apostou tudo em mim. Já me conhecia, eu já estava mais experiente.

Pelo meio nasce o seu filho, o Salvador.
Nasceu no primeiro em que estou no Braga. Tem agora sete anos. Na altura ainda não tinha casa em Braga, mas entretanto antes dele nascer arranjo casa em Gaia, onde vivo hoje.

Na última época em Braga é quando surgem as propostas de fora?
Já tinham surgido no final da época anterior, com o Peseiro, mas foi aquela situação de não me deixaram sair.

É verdade que entre o Sporting e o SC Braga teve propostas para ir para o Palermo e para o Saint Etienne, é verdade?
Foi aquilo que saiu nos jornais, mas pessoalmente nunca vieram falar comigo. O meu empresário falou-me muitas vezes do Palermo mas nem foi nesse ano, foi depois, durante dois anos seguidos, mas eles queriam bastante dinheiro. Mas lá está aquela situação do meu passe estar dividido em três clubes, não ajudou em nada.

A sua cabeça já estava em ir ganhar dinheiro lá fora?
A minha cabeça já estava em sair do campeonato português. Era aquilo que eu queria.

Porquê?
Não estava contente. O futebol não me motivava, não estava feliz a fazer aquilo que eu mais gostava.

Depois da Turquia Nuno André Coelho jogou no Sporting Kansas City, dos EUA
Icon Sportswire

Surge-lhe a Turquia, o Balikesirspor. Foi depois do interesse do Besiktas?
Foi, o Besiktas foi logo no primeiro ano do SC Braga.

Como conseguiu sair se havia esse problema com o seu passe?
Rescindi no Sc Braga e assinei pelo Balikesirspor. Agora o que houve ali no meio, já não é comigo. Houve valores para um lado e para o outro, mas não foi para o clube.

Não foi para o clube...
Não, por isso é que me deixaram sair.

Qual foi o primeiro impacto quando chega à Turquia?
Muito grande, porque vou para um clube, e eu não sabia na altura, que em dois anos tinha subido da 3ª para a 1ª liga. Condições, zero. Lá no meio do país, até Istambul eram cinco horas de viagem.

Foi sozinho ou com a família?
No início fui sozinho. Para arranjar uma pessoa do clube que falasse inglês, meu Deus, era o massagista que “arranhava”. Não conseguia falar com ninguém quando cheguei lá.

Como é que fazia?
Desenrasquei-me. Davam-me almoço, davam-me jantar, davam-me tudo no início. Passado um tempo aparece lá o André Santos e depois um brasileiro e outro jogador da América do Sul O brasileiro que já lá estava na Turquia, levou o tradutor com ele e foi a nossa salvação.

A sua mulher depois foi para lá?
Sim. Mas ela não gostou. As pessoas olhavam um bocadinho de lado e não se sentia bem.

O que faziam no dia a dia?
Vivíamos numa urbanização com parques e íamos lá um bocadinho para o Salvador brincar um bocadinho, mas como fazia muito calor, depois íamos para casa.

A sua mulher ficava o dia inteiro em casa sozinha com o miúdo?
Também ia para o parque e às vezes pegava no carro para ir a um centro comercial pequenino.

Não jogou muito.
Não porque cheguei a dezembro e lesionei-me, mas joguei quase sempre até dezembro.

Lesionou-se onde?
Foi o outro ligamento cruzado, da outra perna. Mas aí foi num jogo.

Esteve parado quanto tempo dessa vez?
Isso agora tem que se lhe diga. Foi em dezembro que me lesionei, pedi autorização ao clube para fazer a operação e tratar-me em Portugal, eles tudo bem, assinaram, trouxe o documento da autorização comigo e, deixaram de me pagar. Eu com o meu empresário decidimos colocá-os na FIFA. Da FIFA dizem-me que eu não tinha contrato com eles. “Mas como é que não tenho contrato com eles se eu assinei por três anos quando fui para lá?”; e eles “Em janeiro apareceu aqui uma rescisão de contrato”.

Como?
Eles falsificaram a minha assinatura.

E?
Coloquei advogado, já ganhei o processo, recebi algum dinheiro que tinha para receber, mas o processo foi reaberto outra vez e as coisas ainda não estão resolvidas. Eles ainda agora perderam seis pontos na tabela classificativa por não me terem pago o que falta. Perderam seis pontos, estão inibidos de contratar jogadores para a próxima época e vamos ver se as coisas se resolvem.

Ficou o resto da época em Portugal a recuperar?
Sim, estou sem clube e chegou o início da época seguinte e não tinha assinado por ninguém. Continuei a treinar sozinho numa clínica em Penafiel que tem um local de alto rendimento e que me ajudou bastante. É a clínica do Nuno Mendes. E apareceu assim de paraquedas, em dezembro, o Sporting KC dos EUA.

Através do seu empresário?
Nem foi através do empresário, foram eles diretamente. Viram que eu estava sem clube e como já me andavam a seguir desde o tempo do SC Braga...

Qual foi o seu primeiro pensamento?
Já estava há um ano parado, tinha que arranjar alguma coisa. Foi no ano em que a Académica desceu de divisão, estava prestes a assinar com a Académica quando apareceu a oportunidade dos EUA. Vieram cá, viram-me a treinar na clínica, gostaram daquilo que viram, viram que eu estava bem do joelho e vou para Kansas.

Gostou da experiência?
Adorei.

Do que gostou mais?
Eles oferecem tudo, dão tudo. Condições de trabalho, tudo aquilo que nós precisamos, eles dão.

A sua mulher e filho foram consigo?
Não porque só assinei por um ano e o que propus a ela foi não ir logo, deixar resolver as coisas, arranjei apartamento, e ela depois foi lá ter passados três meses. Foi lá ver como é que as coisas eram. Seu eu renovasse podia ficar.

Não renovou porquê?
Até hoje ainda não sei. Foram eles, porque passados dois ou três meses de lá estar, eles queriam logo que eu renovasse e as coisas foram andando, disse-lhes que tinha de falar com o meu empresário, que tinha de marcar uma reunião para ele lá ir e falarmos. E as coisas foram andando, andando até que um dia eles perderam o interesse.

Continua com o mesmo empresário. Não sente que de alguma forma foi um bocadinho prejudicado?
Também, também fui. Mas tenho uma amizade com ele desde os 17 anos. Sei que todos os empresários aparecem quando os jogadores estão bem. Quando um jogador está em alta, está a jogar, está a fazer um campeonato fantástico toda a gente aparece, não precisa de arranjar empresário para ter clube. O pior é quando estamos em baixo e precisamos de uma pessoa amiga principalmente que nos ajude a levantar. E é isso

Como surge o Chaves?
Através dele, do meu empresário. Na altura o Chaves vendeu o Freire para o Japão, faltava-lhes um central e fui para lá.

Está arrependido?
Não vou dizer arrependido porque passei bons momentos no Chaves. Conheci gente fantástica. É uma mentalidade completamente diferente.

Entretanto nasceu a sua filha Rafaela.
Sim, em fevereiro, eu vim em janeiro. Nasceu quando vim para o Chaves.

Esta é a terceira época que está no Chaves. Já apanhou vários treinadores, Ricardo Soares, Luís Castro, José Mota. Com que ideia ficou?
Nunca fui um jogador de dizer mal só porque não jogo. Gostei da maneira como o Luís Castro encara o futebol. Identifico-me muito com aquilo que ele pensa sobre o futebol. Neste período todo, acho que foi o melhor que apanhei no Chaves.

Entretanto a época acabou. Já lhe passou pela cabeça “pendurar as botas”?
Já me veio à cabeça muitas vezes desde que estou em Chaves.

O que pensa fazer no futuro?
Já tenho uma empresa do ramo imobiliário.

Onde ganhou mais dinheiro?
Na Turquia.

Investiu só no imobiliário?
Sim. Agora até já tenho um projecto para construção de três casas.

MB Media

Se não fosse jogador de futebol, teria sido o quê?
O que estou a fazer agora fascina-me, mas na altura não pensava noutra coisa sequer.

Qual foi a maior amizade que fez no futebol?
O meu empresário.

Quando fez a primeira tatuagem?
Logo após o nascimento do meu filho. É o nome dele, com a data de nascimento.

Tem mais alguma?
Não, mas vou fazer. Falta a da minha filhota. Vou colocar a hora em que nasceram e o nome e a data de nascimento dela. Vou dar continuidade à primeira.

Qual é a sua maior frustração no futebol?
Foi ter aceite algumas coisas que não deveria ter aceitado.

Nomeadamente?
Nomeadamente a ida para o Sporting. Foi uma das coisas que não devia ter aceitado. Devia ter esperado pelas consequências, podia ter tido um rumo completamente diferente do que tive.

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