Nasceu em Espinho. Filho e irmão de quem?
O meu pai, o senhor Olívio, deixou-nos quando eu estava a treinar o SC Espinho. Foi muito cedo, com 58 anos, estava muito bem, nunca imaginei, nunca me passou pela cabeça que ele nos deixasse tão cedo. Queixou-se de uma dor no ombro, levei-o ao médico do clube. Entretanto foi fazer um exame e tinha um tumor alojado na parte superior do pulmão e já tinha passado para os ossos, por isso é que começou a sentir a dor no ombro. Lembro-me que na consulta da especialidade, quando a médica pediu para o meu pai sair, fiquei eu e ela disse-me que o tempo de sobrevida eram seis meses. Aquilo foi o maior choque da minha vida. Não estava à espera de uma coisa daquelas, nem queria acreditar.
Tinha quantos anos e o que fazia na altura o Vítor?
Isto foi há 15 anos. A minha vida era dar aulas na Feira, levar o meu pai à quimioterapia, ao Porto, vinha dar o treino à tarde, no SC Espinho, e depois ia buscá-lo ao final do dia. Andámos assim um ano, apanhou duas épocas. Tinha os miúdos pequeninos... tenho três filhos e aquilo que aconteceu ao meu pai, foi um impacto tremendo na minha vida, porque o meu pai parecia que tinha muita saúde, estava a tratar de reformar-se, ele gostava de cantar fados, tocava viola e ia dedicar-se um bocadinho àquilo de que gostava. Por isso é que a vida tem de facto de ser vivida sem grandes planos.
É filho único?
Não, tenho um irmão mais novo do que eu, seis anos. Vive em Sintra já há alguns anos. O meu pai conheceu a minha minha mãe, e quando eu nasci a minha mãe ainda era solteira, tinha 19 aninhos, tiveram de casar logo. Acabei de nascer e o meu pai foi para o Ultramar, para a guerra, durante três anos. Fiquei com a minha mãe e os meus avós. Entretanto o meu pai voltou e foi trabalhar para o hotel Praiagolfe, que ainda existe. Trabalhou trinta e muitos anos na receção, à noite. Quer dizer que cresci um bocadinho na ausência do meu pai, porque ele dormia durante o dia. À noite pagavam mais qualquer coisa e era importante.
A sua mãe trabalhava em casa?
A minha mãe foi muitos anos costureira.
Era um puto reguila ou sossegado?
Eu cresci numa zona que não dava muito para ser calminho. Acho que era um bom menino, mas cresci num meio muito competitivo. A minha avó Eulália foi uma grande referência para mim. Ela não era mãe biológica da minha mãe, adotou-a com 15 dias. Da parte da família da minha mãe praticamente não conheço ninguém e do meu pai também, porque houve umas confusões. Dava uma novela a história de ambos [risos]. Os meus avós maternos, a minha avó Eulália e o meu avô Tolinhas, viviam na parte sul do campo de Espinho, que é uma zona de pesca e fabril, com a fábrica de conservas onde trabalhava a minha avó. A casa dos meus pais era na parte norte do campo de Espinho. Tinha os avós na parte sul e os meus pais na parte norte, mas onde eu cresci foi na parte sul, a chamada a zona da mata, de gente que ia ao mar ou que trabalhava nas fábricas. O dia-a-dia era de rua, com a seitinha, muito competitivo, não havia espaço para alguém que não fosse "macho", que não lutasse pelo se lugar, tínhamos de crescer muito depressa, íamos para a escola, mas a nossa vida era jogar.
Da escola, gostava?
Gostava, aliás fiz o meu curso, numa zona onde ninguém faz cursos, ninguém estuda ali.
Quando era pequenino quem eram os seus ídolos?
Era muito engraçado porque eu jogava como lateral direito, portanto o meu primeiro ídolo foi o Gabriel, do FC Porto, depois o João Pinto. A minha família era portista, mas só se ia ao Porto, sei lá, uma vez ou duas por ano. O meu pai uma vez levou-me ao estádio das Antas, às cavalitas dele, e só via o Cubillas. O ídolo do meu pai era o Pavão e eu fiquei sempre com aquela coisa do FC Porto na cabeça. Uma vez fiz uma permanente no cabelo para ficar parecido com o João Pinto [risos]. Foi uma risota.
Que idade tinha?
Eu jogava nos iniciados, devia ter os meus 13 anos. E mais tarde vim a trabalhar com o João Pinto.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt