Exclusivo

A casa às costas

“No Sporting, não gostei da maneira como fui tratada pela treinadora. Pela atleta que sou, pelo profissionalismo que tenho, não merecia”

“No Sporting, não gostei da maneira como fui tratada pela treinadora. Pela atleta que sou, pelo profissionalismo que tenho, não merecia”
Just Pictures

Mónica Mendes acabou de renovar por mais uma época com o Servette, clube pelo qual conquistou a segunda Taça da Suíça, depois de já o ter feito com o FC Neunkirch. Com passagens pelo futebol cipriota, norueguês e italiano, jogou uma época no clube do coração, o Sporting, onde nem tudo correu bem, acabando por voltar a optar pelo estrangeiro. Com um longo percurso na seleção, diz ter lutado sempre por melhores condições para si e para as colegas, mas que isso lhe trouxe alguns dissabores. Esteve nas pré-convocadas para o Mundial deste ano, e é com alguma mágoa que vai ter de ficar a assistir de fora

Concluiu o curso nos EUA, em 2015, e foi jogar para Chipre e Noruega. Como e porquê?
Quando joguei no DC United, logo no primeiro verão, uma das jogadoras de lá já tinha jogado em Chipre. As pessoas de Chipre acompanharam o meu percurso, sem eu saber, e entraram em contacto comigo, em 2015. Eu estava num momento de transição, ia deixar a universidade e não sabia muito bem o que ia fazer depois, porque queria mesmo continuar a jogar futebol. Tive oportunidade de ficar nos EUA, a fazer o mestrado e com opções de trabalho, mas eu queria mesmo jogar só futebol. Por isso, quando surgiu a proposta do Apollon Limassol, resolvi aceitar, até porque era só para jogar a Liga dos Campeões.

Foi aí que começou a ganhar dinheiro com o futebol?
O que me ofereceram só dava para alimentação basicamente. Nos EUA eu tinha uma bolsa de estudo que me dava mais ou menos 10 dólares por dia, o que não é muito, se pensarmos nas principais refeições do dia. Eu lá conseguia organizar-me, até porque dava treinos de futebol a crianças e fazia mais algum dinheiro.

Como foi a experiência em Chipre?
Eu sabia que era uma transição. Era bom pela Liga dos Campeões. Mas sabia que não queria ficar ali muito tempo. Esse clube tem uma particularidade, contrata jogadoras só para jogar Liga dos Campeões, praticamente, para ter uma equipa mais forte. Depois há umas que ficam e outras que se vão embora. Foi bom, porque acho que todas as experiências são boas, conheci pessoas fantásticas, foi mais uma experiência pessoal que me enriqueceu, mas, por outro lado, não gostei muito.

Porquê?
Não gostei muito do nível e do facto de me ver mesmo grega para os entender [risos]. Eles falam grego e nem todos falam inglês. Quando treinávamos era tudo em grego, não me senti muito bem acolhida. Pelas jogadoras estrangeiras, sim, mas pelas locais, não.

Ficou a viver onde na altura?
Num apartamento do clube, com mais três ou quatro colegas. Mas isso não me custou porque até aí, mesmo na universidade nos EUA, tinha de partilhar o apartamento onde vivia. Faz parte. No futebol feminino, sobretudo nessa altura, os nossos ganhos financeiros eram tão baixos que não dava para pagar apartamento sozinha. Era impensável.

Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: AAbreu@expresso.impresa.pt