Nasceu em Padronelo, Amarante. Apresente-nos a família onde nasceu.
Tenho um irmão mais novo e sou filho de duas pessoas extraordinárias, que já faleceram, mas que foram de Padronelo para o Porto, ao desafio de um restaurante. Foram reconstruir um tasco, onde o meu pai matava os ratos ao pontapé, ainda hoje me lembro daquele ruído dos ratos a bater na parede. E depois, fizeram daquilo um restaurante de referência do Porto, onde diziam que se comia as melhores tripas à portuguesa à moda do Porto. Chamava-se “Rei dos Galos de Amarante”. Ainda existe, o meu irmão está a dar continuidade, embora já não seja um restaurante que esteja sempre aberto, funciona com grupos.
Ou seja, cresceu no Porto.
Sim, não tinha um ano sequer quando vim para o Porto. Vivia na Rua das Taipas, a rua que vai cá de baixo da Ribeira até lá acima à Torre dos Clérigos. Andávamos ali a atirar calhaus uns aos outros. Eram os da Ribeira, os da Rua Escura, os da Vitória, os da Cordoaria, tudo a atirar calhaus uns aos outros [risos].
De quem herdou o lado competitivo?
Acho que foi da minha mãe. Lembro-me que para o meu pai ganhar dinheiro, era explorar os outros. Quando eu era mais velho e já ia a restaurantes, dizia-lhe muitas vezes: “Uma garrafa de vinho que tu cobras aqui a X, ali eu paguei o dobro.” Ele respondia sempre: “Não, não, já está bem assim.” A minha mãe era mais competitiva, adorava jogar, fosse o que fosse. Já numa fase final dela, jogava dominó comigo, eu acabava as pedras todas, ganhava, e ela continuava a pôr pedras de um lado e do outro e enquanto não acabassem as pedras dela não acabava o jogo e depois dizia: “Também ganhei” [risos].
Que outras memórias de infância tem?
Jogar à bola na rua, sempre que o meu pai não vinha chamar-me para fazer alguma coisa, sobretudo em altura de férias escolares. Ele em aulas não me chateava porque tinha de fazer os deveres, mas nas férias eu tinha de pôr as mesas no restaurante e comecei a lutar contra mim próprio porque cronometrava o tempo que demorava a pôr as mesas. Isto com 13/14 anos.
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