Nasceu em Lisboa. É filho de quem e onde cresceu?
Vivi até aos cinco, seis anos no bairro da Musgueira, numa altura em que era só barracas. A minha mãe era limpava escadas e o meu pai era vidraceiro na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Tem irmãos?
Éramos oito. Os meus pais não tinham estudos, não sabiam ler nem escrever. O meu pai só sabia assinar, mas gabava-se de ter a maior barraca da Musgueira [risos]. Ia às obras durante a noite buscar umas madeiras para construir durante o dia. Éramos uma família grande e bastante pobre. Depois fomos viver para outros bairros de Lisboa. Vivi no Conde Redondo, ao pé do Marquês de Pombal. O prédio no Conde Redondo estava fechado para demolição e a minha mãe foi lá com uma amiga e rebentaram com a corrente, construímos a escadaria do prédio e fomos para lá viver. Vivíamos ali clandestinamente. Também vivi na Rua do Passadiço, perto da antiga sede do Sporting. Enfim, famílias bastante pobres.
Gostava da escola?
Nem por isso. Eu ia à escola só para jogar à bola e para me meter com as meninas. Curiosamente nunca chumbei nenhum ano. Mas, aos 11 anos, a minha mãe arranjou-me um trabalho numa fábrica de móveis. Disse que a escola não dava dinheiro e obrigou-me a deixar a escola para ir trabalhar. Era numa daquelas fábricas meio escondidas. O que ganhava dava todo à minha mãe.
Com 11 anos, que sonhos tinha?
Tudo o que sempre quis ser na vida era jogador de futebol. Tive aquela infância de ficar a jogar na rua até às onze da noite e a minha mãe começar a gritar o meu nome, para saber onde eu estava.
Quem eram os seus ídolos?
O Maradona e o Eusébio. Cheguei a ver o Eusébio em final de carreira. E depois era o Baresi do Milan e o Roberto Baggio.
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