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A casa às costas

“Cresci na Quinta do Mocho, vi um amigo a ser baleado e já estava no Sporting quando um dia acordei com uma arma apontada à cabeça”

“Cresci na Quinta do Mocho, vi um amigo a ser baleado e já estava no Sporting quando um dia acordei com uma arma apontada à cabeça”
Carlos Rodrigues

Carlos Mané, 30 anos, cresceu num bairro problemático de Sacavém, onde viveu episódios que lhe marcaram a vida. O sonho de ser jogador de futebol ajudou-o a afastar-se de maus caminhos e o Sporting, ao reconhecer-lhe talento, colocou-o na Academia de Alcochete para afastá-lo do bairro. Acabou por cumprir o seu maior sonho: jogar na equipa principal dos leões. Esteve 18 anos ligado ao clube do coração, que ainda hoje diz ser o melhor do mundo e confessa sentir que a sua “explosão” foi travada pela falta de oportunidades que teve com Jorge Jesus. Um treinador que, afirma Mané, não soube tirar o melhor dele

Nasceu em Lisboa. É filho de quem e onde cresceu?
Os meus pais já se conheciam da Guiné-Bissau, onde nasceram. Vieram para Portugal em 1992 e juntaram-se. A minha mãe trabalhava como empregada doméstica e o meu pai nas obras. Primeiro vivemos no Algarve, quando eu ainda era bebé. Depois fomos para a Espanha, vivemos em Madrid. Lembro-me de ter andado na escola lá, com quatro anos, já falava espanhol. Com cinco anos, fomos para Portugal. Começámos a viver em Sacavém, na Quinta do Mocho.

Tem irmãos?
Da parte da mãe tenho um e da parte do pai, são três. Uma das minhas irmãs é mais velha, tem 32 anos, os outros são todos mais novos; um tem 10 anos, outro tem 14 anos e vive na Guiné, tenho uma irmã de 16 anos, que vive na Inglaterra, e um irmão, que vai fazer 20 anos e que vive com a minha mãe, em Lisboa. Sou o único filho do mesmo pai e mãe.

Crescer num bairro problemático como a Quinta do Mocho não deve ter sido fácil. Qual foi a maior marca que ficou do bairro?
É sempre difícil crescer num bairro como aquele, porque há coisas que as crianças não podem ver e veem, que ficam marcadas para a vida. Mas essas coisas que vi quando era mais novo ajudaram-me a ser quem sou hoje.

A que assistiu que o marcou tanto?
Vi amigos a levarem tiros.

Da polícia?
Não, de outros. Já estava no Sporting, tinha 12 anos. Ver um dos meus melhores amigos ser baleado é duro. Felizmente ele está bem, que é o mais importante.

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