Para perceber Domingos Duarte é preciso recuar alguns anos quando ele jogava no futebol português. Central alto e forte no ar, o perfil que lhe deu a possibilidade de jogar na primeira liga. Confortável na construção quando não está a ser pressionado, não é jogador de condução nem de grande risco. Não iremos ver da parte dele muitos passes espetaculares a romper linhas, ou passes mais longos, pela perceção que ele tem do risco que essas situações acarretam no caso de a equipa perder a bola. Não compromete e cumpre bem o papel na saída de bola se dele não foi exigido que arrisque jogar sob pressão.
Em Espanha tem estado cada vez mais confortável com a bola nos pés, e ainda que a sua equipa não faça muitos passes na construção – e que ele não faça muitos passes no meio campo ofensivo –, tem pouco erro por força do pouco risco que ele assume. Percebe-se ainda algum desconforto quando pressionado, mas ele consegue defender-se bem do erro por ter noção da sua capacidade.
E ainda que não seja muito ágil, não se defende mal das situações de 1x1 onde não tem muito espaço nas costas. Quando a equipa está junta e compacta, quando defende perto da sua baliza com muitos elementos, é ali que ele está como peixe na água. Não tem muitos metros para controlar, os adversários fazem deslocações curtas fáceis de seguir e não precisa de grandes deslocamentos para preparar a defesa das situações de cruzamento. Nessas situações, na sua zona de conforto, está sempre muito concentrado e consegue muitas vezes arranjar soluções para os problemas defensivos que vão surgindo.
As maiores dificuldades estão quando há muito espaço para defender, tenha ou não a linha defensiva composta. Aí, nessas situações, percebem-se problemas de perceção do que fazer e por isso aparece muitas vezes com posicionamentos errados. Como não é rápido, a tendência para se defender leva a que retire profundidade (baixe alguns metros em direcção ao seu guarda-redes) algumas vezes desfazendo a linha defensiva. Quando há adversários a fazer movimentos de ruptura isso ainda é mais evidente; mas, mesmo quando não há, ele tende a baixar por não se sentir muito confortável a recuperar muitos metros em sprint. Isso leva a que a equipa tenha alguns dissabores, porque depois é ele chamado a corrigir o próprio erro – uma vez que os colegas estão mais adiantados – e nesses lances os adversários acabam por conseguir expor a pouca agilidade, e as dificuldades que tem em resolver lances onde não tem muito tempo para pensar.
Precisa de encontrar um treinador (um Jorge Jesus) que lhe corrija mais e melhor os movimentos defensivos, para que possa vingar num nível mais alto. Se o fizer, se estabilizar nesse ponto, será um central a ter em conta para a selecção nos próximos anos. Se mantiver as dificuldades de posicionamento que apresenta, o seu perfil físico impressionante não lhe valerá para dar o salto qualitativo necessário para ser referência de um clube de maior responsabilidade.
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