Erros coletivos a defender, a atacar e nas bolas paradas: a análise ao Benfica de Bruno Lage
O analista Tiago Teixeira explica os erros cometidos pelo Benfica frente ao Santa Clara, que já são recorrentes nos jogos da retoma da Liga portuguesa
Analista de futebol
O analista Tiago Teixeira explica os erros cometidos pelo Benfica frente ao Santa Clara, que já são recorrentes nos jogos da retoma da Liga portuguesa
A espiral negativa em que o Benfica se encontra parece não ter fim à vista, uma vez que de jogo para jogo não há qualquer sinal de melhoria - os erros coletivos continuam a ser os mesmos e a traduzirem-se em vários dissabores (7 pontos perdidos nos quatro jogos disputados após o regresso do campeonato).
Momento defensivo
É impossível analisar o momento atual do Benfica sem falar nas bolas paradas defensivas, assim como parece impossível que haja um jogo em que o Benfica não conceda oportunidades de golo neste momento específico.
Terça-feira, na derrota frente ao Santa Clara, o Benfica voltou a sofrer golos na sequência de bolas paradas, assim como tinha acontecido na vitória frente ao Rio Ave e no empate em Portimão. Os problemas são quase sempre os mesmos: sempre que a bola passa o primeiro poste (zona melhor protegida pelos encarnados), a zona do Benfica revela muitas dificuldades perante os jogadores adversários, que em muitas situações se encontram em superioridade numérica e/ou com muito espaço para atacar a bola entre os jogadores do Benfica.
Dois exemplos tirados a papel químico:
Em organização defensiva, o Benfica continua a permitir demasiadas facilidades para o adversário progredir até ao último terço. Basta que tenham um pouco de paciência na construção e circulem a bola, e os espaços dentro do bloco defensivo do Benfica aparecem todos.
Os médios-ala continuam, fruto da estratégia de Bruno Lage, a não ajustar o seu posicionamento em função dos médios-centro, deixando muito espaço para os adversários progredirem a seu bel-prazer.
Além dos posicionamentos já referidos, que tanto têm prejudicado a organização defensiva do Benfica, há também uma mudança de postura, quando o Benfica chega à vantagem, que não tem trazido grandes benefícios, muito pelo contrário. O jogo frente ao Portimonense, que terminou com um empate a dois, é o exemplo mais recente. Na primeira parte, o Benfica posicionou-se sempre de forma mais alta, procurando e conseguindo condicionar a primeira fase de construção do Portimonense, que raras vezes chegou ao último terço. Na segunda parte, baixou as suas linhas, abdicou de condicionar em zonas mais altas a construção adversária, e com isso permitiu aos jogadores do Portimonense mais facilidades para progredirem até ao último terço.
Momento ofensivo
A nível ofensivo, o Benfica vive as mesmas dificuldades há muito tempo, agora agravadas pelo menor rendimento individual de alguns jogadores. Na primeira fase de construção, salta à vista a falta de competência coletiva para sair a jogar de forma apoiada, principalmente nos momentos em que o adversário pressiona mais alto. Esta falta de competência é prejudicial até nos momentos em que o Benfica está em vantagem no marcador, uma vez que torna quase impossível conseguir gerir o resultado através da posse de bola. Sempre que a pressão adversária é um pouco mais alta e agressiva, o Benfica estica o jogo na frente, e com isso permite ao adversário ganhar mais rapidamente a bola e iniciar um novo ataque.
Quando uma equipa grande, com os jogadores que o Benfica tem (mesmo tendo em conta o erro individual de alguns), apenas consegue acertar 56% dos passes verticais que tenta, é porque algo não está a funcionar do ponto de vista coletivo. Seja pela pressa em atacar, seja pelo facto de não saber ultrapassar a pressão adversária com a bola controlada, uma equipa que acerta tão poucos passes verticais, não consegue ter fluidez no seu processo ofensivo.
A imagem seguinte, que representa um lance ao minuto 20 da primeira parte, é um excelente exemplo da falta de critério que o Benfica tem demonstrado no seu processo ofensivo.
A falta de criatividade ofensiva, do ponto de vista coletivo, também não é algo novo no Benfica de Bruno Lage, mas nesta fase de menor confiança tem sido ainda mais notória e prejudicial. Em ataque posicional, o Benfica tem sido uma equipa demasiado dependente dos lances individuais, para conseguir desorganizar a estrutura defensiva adversária. O jogo associativo é quase nulo, e o Benfica não consegue, de forma coletiva e com frequência, colocar constrangimentos defensivos aos adversários, que parecem sempre demasiado confortáveis – sem necessidade de ajustes constantes – perante o ataque encarnado.
Apesar de ter dois médios incrivelmente capazes de ligar a fase de construção com a de criação, como são Weigl e Taarabt, são raras as vezes em que o Benfica consegue chegar ao espaço entre linhas em condições vantajosas, para depois entrar de forma controlada em zonas de finalização.
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