Análise

Um Bayern dominador, com mais posse e a criar mais situações de perigo vs um Lyon mais recuado, preocupado em manter as linhas defensivas

Um Bayern dominador, com mais posse e a criar mais situações de perigo vs um Lyon mais recuado, preocupado em manter as linhas defensivas

Tiago Teixeira

Analista de futebol

Depois do PSG ter eliminado o Leipzig, é a vez de Bayern Munique e Lyon decidirem quem será o outro finalista da Liga dos Campeões 2019/20, esta noite (20h, Eleven Sports), em Alvalade, e o analista Tiago Teixeira antevê os padrões de jogo de alemães e franceses

Depois de mais uma demonstração de superioridade coletiva, ao golear o Barcelona por uns incríveis 8-2, o Bayern de Munique – único clube ainda em prova que sabe o que é conquistar a Liga dos Campeões – tem agora pela frente o outsider Lyon, que depois de eliminar a Juventus, voltou a surpreender o mundo do futebol, ao eliminar o Manchester City nos quartos-de-final, igualando assim o feito alcançado na época 2009/10, quando também conseguiu chegar às meias-finais.

Tendo em conta a diferença de qualidade, individual e coletiva, entre o conjunto alemão e o conjunto francês, bem como o que se passou nos jogos dos quartos-de-final, é fácil de prever que tipo de jogo teremos pela frente: um Bayern mais dominador, com mais posse de bola e a criar mais situações de perigo vs um Lyon mais recuado, preocupado em manter as suas linhas defensivas próximas, e a tentar explorar a profundidade e as saídas rápidas para o ataque.

BAYERN

Não haverá surpresas no que diz respeito ao sistema tático escolhido por Hansi Flick para enfrentar o Lyon e o Bayern apresentar-se-á no seu habitual 4x2x3x1.

Os centrais, Alaba e Boateng, e Thiago, médio que recua mais, serão os primeiros responsáveis pela fase de construção (criação de superioridade numérica, 3 vs 2, perante Depay e Ekambi), procurando ligar com Muller, médio ofensivo, Gnabry, extremo-direito, e Goretzka, médio-centro. Todos eles aparecem muitas vezes no espaço entre linhas, no corredor central (relembre-se o terceiro golo frente ao Barcelona, com Thiago a passar para Goretzka que, entre linhas e de primeira, isolou Gnabry).

Contra um Lyon, previsivelmente, mais recuado e fechado do que o Barcelona, ganham ainda mais importância os desequilíbrios criados nos corredores laterais. Aí, surgem Alphonso Davies (lateral-esquerdo) e Ivan Perisic (extremo-esquerdo) como principais desequilibradores e fornecedores das zonas de finalização, como ficou demonstrado nos lances do primeiro e quinto golos frente ao Barcelona.

No momento defensivo, haverá dois aspetos fundamentais para o Bayern:

  1. Controlo da profundidade. Com a linha defensiva tão subida (próxima do meio-campo), e contra um avançado perigoso nos movimentos de ataque à profundidade como Ekambi, é fundamental muita atenção na hora de defender o espaço nas costas;
  2. Agressividade no momento da perda da bola. Será na transição defesa-ataque do Lyon que o Bayern poderá passar por mais dificuldades, por isso, quanto melhor reagirem quando perderem a bola, mais afastado o Lyon ficará da baliza de Neuer.

LYON

Em estratégia que ganha não se mexe - deve ser este o pensamento na cabeça de Rudi Garcia. Assim, é de prever um Lyon estruturado no seu habitual 5x3x2 em organização defensiva, posicionado num bloco baixo - preocupação em não dar muito espaço nas costas da linha defensiva para os movimentos de rutura de Gnabry e Muller), e compacto - retirar o espaço entre linhas que o Bayern gosta tanto de aproveitar com os passes verticais de Thiago.

Será também fundamental que os médios interiores, Aouar e Caqueret, ajudem defensivamente os alas, Cornet e Dubois, quando a bola entrar nos corredores laterais, dada a facilidade com que o Bayern desequilibra por fora, principalmente pelo corredor de Alphonso Davies.

Também ofensivamente não é de esperar um Lyon muito diferente daquele que vimos contra o Manchester City. Apesar de ter um meio-campo com muita qualidade técnica com Bruno Guimarães, Caqueret e Aouar, e ter um criativo como Depay para jogar no espaço entre linhas, o Lyon não deverá preocupar-se muito com a posse de bola (reduzindo as possibilidades de ser apanhado desequilibrado), focando-se acima de tudo nos movimentos de ataque à profundidade e nas transições defesa-ataque.

Foi assim que nasceram os dois primeiros golos na vitória frente ao City. O primeiro, através de um movimento de ataque à profundidade por parte de Ekambi, e o segundo, numa transição defesa-ataque (também com ataque à profundidade) após um mau passe de Laporte.

OS JOGADORES QUE PODEM DESEQUILIBRAR

Thomas Müller

Depois de uma exibição extraordinária frente ao Barcelona, na qual, entre muitas coisas, marcou dois golos e fez uma assistência, espera-se novamente que Muller seja decisivo em zonas de criação e finalização. A sua mobilidade e inteligência são fundamentais na criação de espaços, o que contra um adversário recuado e a jogar com cinco defesas ganha ainda mais importância.

Thiago

Para os jogadores da frente poderem brilhar, alguém tem de colocar lá a bola nas melhores condições possíveis. Esse alguém é Thiago. Poucos médios no mundo o fazem como ele, pela qualidade com que executa e pelo critério e criatividade com que decide. A manobra ofensiva do Bayern passa toda pela sua cabeça e pés, e quanto mais bola Thiago tiver, mais vezes o Bayern chegará com perigo ao último terço.

Anthony Lopes

O guarda-redes português foi muito importante na vitória frente ao Manchester City e muitas das esperanças do Lyon em qualificar-se para a final da Liga dos Campeões passam pelas suas mãos e qualidade entre os postes. Contra um Bayern muito ofensivo e rematador, é fundamental que Anthony Lopes esteja ao seu melhor nível, pois só uma exibição a roçar a perfeição poderá aproximar o Lyon da vitória.

Ekambi

Será a principal referência ofensiva no ataque francês e é da sua velocidade e capacidade de explorar a profundidade que poderão nascer as melhores oportunidades para o Lyon chegar com perigo ao último terço. Contra uma linha defensiva que se posiciona muito perto do meio-campo, Ekambi terá muito espaço para atacar, mas a tarefa não se adivinha fácil, dada a velocidade de Alaba e a maneira como dobra o seu colega Boateng.

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