Andebol

Europeu de andebol: Kiko Costa contra os gregos e os nervos

Europeu de andebol: Kiko Costa contra os gregos e os nervos
Sebastian Widmann/Getty

Na estreia na competição, Portugal venceu (31-24) a Grécia, entrando da melhor forma na fase de grupos. A seleção teve várias imprecisões e desacertos, mas o brilho do talento adolescente de Francisco Costa ajudou a confirmar a superioridade nacional

Europeu de andebol: Kiko Costa contra os gregos e os nervos

Pedro Barata

Jornalista

Transformar em rotina o que até há pouco era extraordinário não retira importância ou carga simbólica aos momentos. Sim, Portugal está na sexta fase final consecutiva, uma revolução para quem andou ausente dos grandes torneios entre 2006 e 2020. Mas entrar num Europeu sem que a cabeça reaja à importância da ocasião e as mãos tremam nalguns instantes não é tarefa fácil.

A superioridade da equipa de Paulo Jorge Pereira face à Grécia parecia evidente, mas a verdade é que, no começo da segunda parte, o marcador mostrava um empate a 19 golos. A partir dali, Portugal impôs a normalidade e embalou para a vitória por 31-24.

Houve falhas técnicas em excesso, imprecisões no ataque, alguma precipitação na aproximação à baliza. No arranque de ambas as partes, antes de o tempo fazer apagar da cabeça o peso da estreia, as perdas de bola foram-se sucedendo, abrindo as portas para contra-ataques gregos que iam nivelando o que deveria ser desequilibrado.

Ainda assim, em Munique, a normalidade impôs-se à medida que os nervos se dissiparam. E ninguém representa a nova normalidade do andebol português do que Francisco Costa.

Kiko, o talento geracional, 18 anos cheios de veneno nas mãos, vai já na segunda grande competição. Veio da sua canhota que dispara mísseis a mais contundente resposta às dúvidas: seis golos no final de tarde, mais do que qualquer outro jogador.

Sebastian Widmann/Getty

Na dança do marcas-tu-marco-eu do arranque do desafio, Paulo Jorge Pereira mostrava incómodo pelas borlas que Portugal dava ao contra-ataque grego. “Temos de vir atrás”, exigia o selecionador, numa altura em que já se via onde residia o perigo helénico.

Christos Kederis não tem corpo de jogador de andebol, é baixinho e pouco musculado, mas cada bola que ia parar às suas mãos parecia destinada ao êxito. Marcou cinco vezes em cinco remates e ganhou o prémio de melhor em campo.

Em cima do intervalo, o canhão de Kiko Costa teve a ajuda da inteligência de Rui Silva para ajudar Portugal a descolar no marcador, indo para o descanso com 18-14. O central do FC Porto, que falhou parte da preparação por gozar licença de maternidade, continua a ser o melhor diretor de orquestra da seleção.

No recomeço, Portugal esteve mais de seis minutos sem marcar, permitindo o tal 19-19. Aí, saiu do banco a contundência de outro jovem. Joaquim Nazaré, de 22 anos, marcou duas vezes nas primeiras ações que teve, com um dos golos a viajar a 127 quilómetros por hora, o mais rápido do Europeu até àquele momento.

O avançar do relógio serenou a equipa de Pereira, os contra-ataques gregos deixaram de aparecer, a seleção estabilizou. A veterania de Pedro Portela e Gilberto Duarte ajudou, também, a assentar o jogo.

A tal superioridade teórica, a marca do novo normal do andebol português, aplicou-se definitivamente, como se fosse o peso da inevitável ordem natural do cosmos. Segue-se a Chéquia, no sábado (17h, RTP2).

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt