Andebol

Ter o braço de um dos manos Costa não chegou para Portugal fugir ao chicote dinamarquês no Europeu de andebol

Ter o braço de um dos manos Costa não chegou para Portugal fugir ao chicote dinamarquês no Europeu de andebol
Anna Szilagyi/Getty
Pior do que o 12.º lugar é impossível. Portugal já tinha a qualificação garantida para o main round do Europeu de andebol antes de entrar em campo contra os dinamarqueses, tricampeões mundiais que castigaram sem piedade a seleção nacional sobretudo na segunda parte, quando os portugueses ousaram arriscar. A derrota (37-27) nunca surpreenderia, mas a margem, tão gorda, talvez sim

O bom, ou o menos mau, de calhar com o país tricampeão mundial de andebol no mesmo grupo era ter de o defrontar apenas ao último dos jogos e a seleção nacional, sensata perante a tarefa, foi capaz de amenizá-la ao ganhar a gregos e checos para quando estivesse perante os horripilantes dinamarqueses, bichos papões do andebol. Com quatro pontos no bolso, uma eventual derrota não beliscaria a continuidade no Campeonato da Europa e os portugueses poderiam jogar sem amarras cénicas de terem de fazer pela vida contra os nórdicos.

Quem não a teve, de todo, foi Martim, o mais rematador dos manos Costa que marcara 11 golos na partida anterior e ao intervalo ia com oito, fruto da ausência de qualquer temor insistir nos embalos de trás para evadir os gigantes corpos dos adversários. Fosse com fintas de corpo ou até ousando saltar perante os blocos vertiginosos, o lateral centrou em si a capacidade de Portugal ir reagindo à avalanche atacante da Dinamarca. Incessante e rapidíssima nos movimentos ofensivos, cedo se colocou em vantagem no marcador.

A exclusão de Alexandre Cavalcanti logo ao quarto minuto alongou a desvantagem portuguesa que só a meio da primeira metade uma investiga de ‘Kiko’, o outro irmão Costa, encurtou para dois golos. Os dois minutos que o gigante Møllgaard Jensen (16’) esteve fora de campo de pouco serviram a Portugal, investido em fazer muitas trocas de jogadores entre defesa e ataque ao contrário dos esquálidos e impiedosos dinamarqueses, que chegavam à baliza de Gustavo Capdeville à velocidade da luz que por esta altura do ano mingua no seu país.

Quando o guarda-redes português fez a sua terceira parada até ao intervalo, o veterano Gilberto Duarte, vetado a defender, aventurou-se lá à frente para com uma simulação clássica de remate em suspensão - fazendo a bola ressaltar para ter mais passos - e deixou a diferença em apenas um golo. O descanso estava a um minuto, mas, nesse curto tempo que no andebol é muito, Leonel Fernandes foi excluído e lá foi a Dinamarca para um 17-15. Os três livres de sete metros falhados também castigavam os portugueses.

Teve de ser o 443.º golo pela seleção de Pedro Portela, saído do banco só para isto, a superar a envergadura elástica de Emil Nielsen, o rechonchudo guarda-redes apresentado à baliza dinamarquesa apenas para o duelo do andebol. O feito pareceu acordar de repente a equipa de Portugal, haveria outro golo de seguida, mas, aos 36’, Pedro Oliveira, outro ponta, também foi excluído e o esboço de reação conheceu outro travão. Quando Paulo Jorge Pereira pediu um desconto de tempo ao fim de 10 minutos, os fulminantes contra-ataques nórdicos tinham a vantagem em seis golos.

Pediu o selecionador mais paciência nos ataques para compensar a barcaça de risco acrescido na qual apostaria. Seriam 20 minutos de Portugal a atacar com sete contra seis, abdicando de guarda-redes para tentar desnortear os dinamarqueses que têm o norte como amigo do peito. Quando os golos da seleção lá foram capazes de fugir aos tentáculos de Niklas Landin (acabou com 16 defesas), o lendário guardião, cada bola enfiada na baliza dos tricampeões mundiais parecia equivaler a um golo de Mathias Gidsel - o canhoto zarpava para o centro do campo, Landin passava-lhe a bola e ele rematava para o alvo deserto enquanto Gustavo Capdeville ainda nem a meio caminho estava da sua viagem do banco.

Foi inglório e ingrato para os portugueses, quanto mais arriscavam maior era o castigo, a Dinamarca dava-se ao luxo de fazer descansar no banco Mikkel Hansen e a sua fita na cabeça, chegavam-lhe os golos de Gidsel e de Simon Pytlick, metralhadoras de remates que fechavam as jogadas frenéticas de uma seleção dinamarquesa cujo nível é outro, isso era sabido. O jogo findou em velocidade cruzeiro, aí há muito que Martim (nove golos) e ‘Kiko’ Costa (cinco) descansam também no banco em poupança para as batalhas que se avizinham, confiando na ambidestria de Miguel Martins para inventar coisas perante uma muralha.

A dezena de golos que ditou a derrota, encurtada no último segundo por um livre de sete metros da mão esquerda de Pedro Portela, carrega em demasia a mochila portuguesa para a segunda fase do Europeu. Defrontar uma equipa estrondosa, munida de jogadores sedentos de tudo ganharem que jogam em equipas que querem tudo vencer, vem com riscos. Portugal arriscou quando viu a diferença fugir e a Dinamarca aplicou o seu castigo, um que só surpreende pelos números. Avançando para o main round, a seleção acabará o torneio, pelo menos, na 12.ª posição - melhor do que o 19.º lugar de 2022. Volta a jogar na quarta-feira, ainda contra adversário por definir.

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