Portugal usou Rêma contra os noruegueses patrocinados por “Rema 1000” para entrar com vitória histórica na main round do Europeu
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Perante os já por duas vezes vice-campeões mundiais, a seleção nacional esteve a vencer a maior parte do tempo, acabando a ganhar (37-32) por margem confortável graças a um jogo onde contra-atacou rapidíssimo e beneficiou da eficácia a 100% do braço esquerdo de Pedro Portela. Ao primeiro encontro na segunda fase do Europeu de andebol, Portugal voltou a agigantar-se
Ir de Munique até Hamburgo ainda é uma senhora distância e a seleção nacional escolheu percorrê-la de comboio, algures nos meandros dessa viagem deu-se o telefonema em que Martim Costa, sábio e conhecedor, nos avisara da semelhança do estilo de jogo dos noruegueses com o praticado pelos dinamarqueses, ressalvadas as devidas diferenças. Conviera o melhor marcador de Portugal que “se calhar” a equipa é “não tão boa”, mas a sua costela visionária provou-se já com os portugueses dentro do pavilhão da cidade no norte da Alemanha, sobretudo enquanto correram esbaforidos durante os 10 minutos iniciais do primeiro jogo na main round.
O golo que acordou o marcador até veio de Salvador Salvador, só que serviu de despertador para a ratice da Noruega replicar a dos anteriores adversários. Acelerados cada vez que recuperavam a bola, chegavam rapidíssimo a zonas de remate e cedo o matulão Sander Sagosen, pesadelo de jogos passados, começou a massacrar a baliza com mísseis. Abusar do poderio dos 1,95 metros do lateral parecia estratégico, como a fixação de atenções ao centro do campo para depois libertarem, na ponta direita, Kristian Bjørnsen, maior fabricante de arrelias para os portugueses.
Entre falhas técnicas em passes aparentemente simples ou várias faltas atacantes assinaladas, a maior valia da seleção foi, como frente à Chéquia, a elasticidade valente de Diogo Rêma Marques. As defesas do guarda-redes foram mantendo Portugal à margem de dois, três golos, a primeira exclusão da partida aos 14’, de Salvador, augurou o pior, salvou-se porém a resiliência dos jogadores que já iam dando a provar à Noruega um veneno vindo da mesma receita quando Paulo Jorge Pereira, só aos 20’, se estreou a pedir um desconto de tempo. A paragem alentou ainda mais a equipa nacional.
Contra-atacando rapidamente e chegando, com poucos passes, às mãos que zarpavam em direção à baliza norueguesa a qualquer recuperação de bola, Portugal ganhou ascendente no marcador espetacularmente. As combinações em espaços curtos saíam, golos em alley-oop entre família surgiam - Martim a sobrevoar braços nórdicos com um passe para encontrar Francisco Costa a planar no ar -, o pivôt Luís Frade era descoberto entre corpanzis e até o capitão Rui Silva, recuperado de lesão, entrou para marcar. Envenenado há dias pela Dinamarca e dado a provar do mesmo sabor pela Noruega no início da partida, era a vez da seleção nacional causar transtorno com as suas transições ofensivas.
A ganhar por 18-15 ao intervalo, Portugal repetiu a entrada em jogo assim-assim, quase emulando a seca vivida pelo adversário antes do descanso (cerca de sete minutos sem ver baliza) com uns desérticos cinco minutos afastado dos golos. A vantagem reduziu-se apenas para dois, o canhoto Bjørnsen reapareceu, a exclusão de Luís Frade não ajudou e o maior auxílio nuns repetentes primeiros 10 minutos de oscilação esteve na figura de um guarda-redes com apelido estampado na frente das camisolas da Noruega, que o andebol permite patrocínios em equipamentos de seleções.
ODD ANDERSEN/Getty
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“Rema 1000” é uma cadeia de supermercados na nação com fartura de bacalhau nas suas águas e foi o guarda-redes que, nas costas da sua camisola, não tem Rêma, mas “Marques”, a garantir que a seleção do país que mais se empanturra com esse peixe na Europa guardava, como podia, a dianteira no resultado. A segunda metade, contudo, não teve a mesma consistência defensiva de Portugal, que abriu demasiados buracos no miolo quando os noruegueses executavam as trocas de posição na frente do portador da bola quando embalava na área de nove metros. Era por aí, e já não pela ponta, que os noruegueses exploravam as debilidades.
A seleção não mais logrou uma superioridade como a que chegara a ter na primeira parte, agora era luta, sacrifício e insistência perante o ímpeto crescente de “uma das melhores equipas do mundo”, Martim Costa também o salientou antes do jogo, só uma versão sublime de Portugal levaria a melhor e houve jogadores a personificarem-na - à direita, o mais velho entre portugueses, Pedro Portela, converteu cada um dos oito remates que armou no braço esquerdo (incluindo outro alley-oop); um pouco por todo o lado, o mais velho dos manos Costa teve outro jogo goleador (sete) e Diogo Rêma piorou os pesadelos que os noruegueses terão com publicidade no equipamento.
O final de jogo português foi fulminante. Gustavo Capdeville entrou para seguir o rasto do companheiro guarda-redes com três cruciais paradas que desataram os contra-ataques vertiginosos que a seleção ligou em catadupa. A certeza nas mãos de Rui Silva livrou os ataques de erros de palmatória, finalmente a vantagem no marcador engordou e, nesse fim, as correrias dos jogadores portugueses para reagirem a perdas de bola e travarem transições mostraram o quão sedentos estavam de celebrarem contra os duas vezes vice-campeões mundiais (em 2017 e 2019).
A vitória fez-se por 37-32 e o derradeiro golo pertenceu a Gilberto Duarte, jogador mais tido em conta para ser um tarefeiro defensivo, que atravessou o campo todo para a equipa depois se juntar a ele no festejo. Portugal arrancou a main round com uma valiosa vitória, histórica também, por isso os jogadores se abraçaram numa ronda e pularam e gritaram. A árdua missão de replicar o 6.º lugar no Europeu de 2020 continua a ser uma cordilheira de dificuldades, porque falta jogar com a Eslovénia (sexta-feira, 14h30, RTP2) que liderou o seu grupo, a Suécia esfomeada em ser campeã (domingo, 17h) e os Países Baixos que eliminaram os ‘Heróis do Mar’ da anterior edição do torneio. Mas, aos poucos e como já habituou quem os vê, esta seleção dá esperança.