Andebol

A perfeição ensanguentada de Martim Costa faz Portugal continuar a sonhar no Europeu

A perfeição ensanguentada de Martim Costa faz Portugal continuar a sonhar no Europeu
ODD ANDERSEN/Getty

Com nova exibição monumental do melhor marcador da competição, autor de 11 golos e que acabou a sangrar abundantemente do nariz, a seleção de andebol, que também teve os guardiões Capdeville e Rêma em grande, bateu a Eslovénia (33-30) num duelo emocionante e continua a desafiar os seus próprios limites

A perfeição ensanguentada de Martim Costa faz Portugal continuar a sonhar no Europeu

Pedro Barata

Jornalista

Portugal vai cozinhando a jogada, procurando ser paciente, lendo a linha defensiva da Eslovénia, valorizando a posse de bola para não oferecer contra-ataques fatais. Subitamente, o lance vai para as mãos de Martim Costa e o encontro entra noutra velocidade, como se tudo o que ocorrera nos segundos anteriores fosse em câmara lenta.

Martim Costa, ser de 21 anos vindo ao mundo em Vila Nova de Gaia, joga andebol de chicote letal no braço, com uma passada explosiva que o leva a ativar a mais perigosa arma de Portugal neste Europeu. Corre paralelamente à linha defensiva, foge dos gigantes que ocupam a zona central da quadra e dispara com violência e convicção, tudo isto em gestos supersónicos, conduzindo a partida para um mundo de rapidez que parece só lhe pertencer a ele.

Nas primeiras nove vezes em que Martim atacou a baliza adversária, marcou sempre. No total, festejou 11 golos e foi, novamente, o herói da seleção nacional, liderando os homens de Paulo Jorge Pereira para o triunfo (33-30 contra a Eslovénia). Dois encontros na fase principal, duas vitórias para Portugal, que continua a sonhar no Europeu da Alemanha.

A presença no desejado torneio pré-olímpico acerca-se, como mais próxima fica a garantia de estar no embate de disputa do quinto e sexto lugares, tentando superar a sexta posição do Europeu de 2020. No domingo (17h, RTP2), contra a poderosa Suécia, o andebol português continuará a colocar à prova a capacidade de voar acima dos próprios limites, pois as teoricamente impensáveis meias-finais mantêm-se ao alcance.

Pedro Portela fez mais quatro golos
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Em Hamburgo, a oposição da seleção nacional voltava a ser de respeito. Os eslovenos, semi-finalistas do passado Europeu e, também, dos Mundiais de 2017 ou 2013, são um clássico recente das fases mais adiantadas destas competições, mas esbarraram numa equipa que já se habitou a desfilar nestes palcos.

Os primeiros minutos do jogo corresponderam ao código binário que muitas vezes se vê no andebol, só com zero e um como diferença no marcador. A primeira vez que Portugal disparou no marcador foi graças à eficácia de Gustavo Capdeville, o guardião que, na primeira parte, fez cinco defesas. Travou dois remates seguidos, um deles do temível gigante Borut Mackovsek. E, na ponta oposta, Martim ia levitando rumo ao golo.

A seleção nacional chegou aos quatro golos de vantagem, mas, num ápice, um parcial de 4-0 para os eslovenos fez desaparecer essa margem. Aí, como em vários momentos deste Europeu, entrou em cena o traquejo competitivo de Portugal, que não se intimida quando o vento não está tanto a favor. Em cima do descanso, ‘Kiko’ Costa, que nem esteve especialmente inspirado, assistiu o irmão para o 17-17, com António Areia a levar os portugueses em vantagem para o descanso.

As consequências da defesa final de Rêma
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Na segunda parte, Rêma entrou para a baliza e, tal como contra a Noruega, disse presente, com oito defesas. No ataque, o computador em forma de jogador de andebol que é Rui Silva ia dirigindo as ofensivas, invariavelmente terminadas por Martim Costa.

Em vários momentos da fase decisiva do jogo, Rêma foi evitando que os eslovenos se aproximassem e mantendo a vantagem dois ou três golos. A nove minutos do fim, após cotovelada involuntária, Martim Costa ficou cheio de sangue e terminou ali uma atuação mágica.

Já perto da conclusão do embate, com 29-28 no marcador, Rêma evitou o empate, Rui Silva marcou na resposta e não mais vitória pareceu, verdadeiramente, estar em causa. Mesmo em cima do final, Rêma defendeu um livre de sete metros com a cara e, cheio de sangue que até lhe chegou à camisola, festejou antecipadamente a vitória, usando as consequências do impacto da bola na face quase como medalha ao peito.

Os 19 anos de Rêma, os 18 de ‘Kiko’ Costa, os 21 de Martim. Numa equipa que há muitos nos orgulha, é notável que o futuro pareça ainda mais promissor que o passado recente. Terminado o jogo, Martim foi receber o natural prémio de melhor em campo, de nariz ainda com marcas do sangue, um letal bombardeiro que é, com 33 golos, o melhor marcador do Europeu.

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