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Délcio Pina tinha dois caminhos: a delinquência ou o andebol. Escolheu viver de mãos pegajosas e ser crónico melhor marcador em Portugal

Délcio Pina tinha dois caminhos: a delinquência ou o andebol. Escolheu viver de mãos pegajosas e ser crónico melhor marcador em Portugal
Federação Portuguesa de Andebol

Se não se souber do paradeiro de Délcio Pina, o primeiro sítio onde o procurar é no topo da lista de melhores marcadores. O lateral do Marítimo foi o jogador com mais golos no campeonato português de andebol nas últimas duas edições. Esta época, mantém o estatuto à entrada para a fase de apuramento de campeão. O cabo-verdiano de 32 anos tornou-se profissional tarde, mas precisava de o fazer para se sustentar e fugir dos problemas

A fábrica vendia arroz, milho e açúcar. A tarefa que nela Délcio Pina realizava era a de colocar sacos na cabeça e transportá-los para camiões e atrelados. A seguir, tornou-se carpinteiro. Nas suas mãos, a madeira é como plasticina, sabe fazer tudo com ela e esta obedece-lhe quando a tenta moldar. Não tinha razões de queixa, gostava genuinamente do trabalho, mas acabou por se dedicar às obras.

Ainda hoje tem um trabalho manual. Jogar andebol também suja com resina a cobertura dos carpos, metacarpos e falanges. É, no entanto, mais rentável e também o desempenho deste ofício deixa Délcio sem motivo para fazer uma má autoavaliação. Poderíamos chamar-lhe massagista do mundo pelo jeito que tem para usar as extremidades dos membros superiores. Ou Midas por ter transformado em ouro uma vida com defeitos, cambio proporcionado pelos pegajosos agarrões na bola.

“Crescer em Cabo Verde é bom, mas ao mesmo tempo é f...” Esta é uma transcrição com mais paninhos quentes do que os que Délcio teve para descrever o contexto de onde vem. “Desculpa dizer esta palavra. Nós crescemos sem nada.” Estava encurralado pela delinquência. Para “ficar na linha”, este reguila assumido “apanhava muito dos tios, do irmão e da mãe”. Recordando, dá “graças” por assim ter sido.

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