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Futebol é o campeão do ódio no Facebook em Portugal. "Vergonha" e "corruptos" são as palavras mais utilizadas

Futebol é o campeão do ódio no Facebook em Portugal. "Vergonha" e "corruptos" são as palavras mais utilizadas
Dado Ruvic

Pedro Rodrigues Costa revela que o tom agressivo tem vindo a aumentar nas redes sociais digitais. Investigador da Universidade do Minho destaca que as palavras “vergonha” e “país” surgem habitualmente ligadas e que "mamão" e "corruptos" são modos de insulto comuns. O futebol é a temática com maior registo de insultos, seguido da política

Futebol é o campeão do ódio no Facebook em Portugal. "Vergonha" e "corruptos" são as palavras mais utilizadas

Isabel Paulo

Jornalista

Uma investigação realizada pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho revela que, em Portugal, os maiores índices de ódio no Facebook estão concentrados no tema do futebol, seguido das notícias que relatam crimes ou agressões. Estas e outras conclusões resultam de uma análise a 350 comentários, 913 respostas geradas e 23.959 palavras contidas nas conversações das publicações das notícias mais partilhadas, mais comentadas e com mais "gostos" no Facebook, entre 2017 e 2019.

O estudo da autoria de Pedro Rodrigues Costa, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), analisou a presença do ódio nas ideias, opiniões ou dilemas, sublinhando que nas notícias mais partilhadas cerca de um terço revelam associação ao ódio. Em comunicado, o investigador refere que, noutro plano, os posicionamentos de conflito (57%) e de controvérsia (27%) nos comentários face à notícia colocada no Facebook geram mais ódio do que as publicações com títulos que apelam mais ao consenso (apenas 21%).

Relativamente às palavras mais utilizadas, “vergonha” e “país” (habitualmente, "vergonha de país"), “vergonha” e “corruptos” (ou corrupção) e “volta” associado a “para a tua terra” são modos de insultos bastante comuns. A análise à distribuição dos insultos por tema revela também o futebol como temática com maior rácio de invectivas, seguido da política e dos temas associados a agressores/criminosos.

De acordo com Pedro Rodrigues Costa, “nas publicações mais comentadas ou partilhadas é comum existir imitação de insultos e de expressões que revelam agressividade”. Chamar alguém de “corrupto” ou de “mamão” tornou-se habitual “e entrou na corrente de imitações, levando a uma naturalização social de discursos que apelam ao ódio contra determinados grupos sociais”, acrescenta o investigador, que frisa que “o tom agressivo tem vindo a aumentar nas redes sociais digitais”.

Ainda de acordo com o autor, o artigo estará em breve disponível numa revista académica da especialidade, aprovada por critério científico.

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