Estados Unidos anunciam boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim
Ativistas em frente ao consolado chinês em Los Angeles pedem um boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno
FREDERIC J. BROWN
A situação da minoria muçulmana uigur e o caso da tenista Peng Shuai, que acusou um importante membro do regime chinês de agressões sexuais, são dois dos principais motivos para esta decisão
“A administração Biden não enviará nenhuma representação diplomática ou oficial para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Pequim 2022, como forma de protesto contra o genocídio e crimes contra a humanidade da República Popular na China em Xinjiang e outros problemas na área dos direitos humanos”, disse um dos porta-vozes da Casa Branca, Jen Psaki, esta segunda-feira.
Psaki refere-se, entre outras coisas, à situação vivida por milhares de muçulmanos da etnia uigur, que vivem maioritariamente na província de Xinjiang, no extremo ocidental da China, e que têm sido alvo de uma apertada perseguição. As restrições à liberdade da minoria uigur vão desde a instalação obrigatória de aplicações de monitorização de chamadas nos telemóveis de todos os membros desta minoria que comprem um telefone na região, até à prisão, trabalhos forçados e técnicas de lavagem cerebral que, segundo quem conseguiu escapar, podem envolvem tortura.
Recentemente, um outro caso bastante mediático veio colocar ainda mais pressão sobre o Ocidente: a tenista olímpica Peng Shuai foi “desaparecida” das redes sociais pelos censores chineses, depois de ter acusado um dos mais importantes da cúpula do Partido Comunista da China de agressões sexuais graves. Entretanto, os meios de comunicação estatais já divulgaram vídeos e fotografias da tenista mas os fãs continuam a acreditar pouco na sua segurança.
Apesar do boicote diplomático, os atletas norte-americanos deverão continuar a contar com o apoio oficial das estruturas oficiais olímpicas dos Estados Unidos. “Os atletas da equipa dos EUA têm todo o nosso apoio. Estaremos 100% com eles, vamos torcer pelo seu sucesso aqui, a partir de casa, mas não queremos ser parte da fanfarra dos Jogos”.
O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, acusou na segunda-feira Washington de “exagero” já que os políticos norte-americanos “nem foram convidados para os Jogos”.
“Quero enfatizar que os Jogos Olímpicos de Inverno não são um palco para manipulação política”, disse Zhao, citado pelo “Guardian”. “É uma grave ofensa ao espírito da Carta Olímpica, uma provocação política flagrante e uma séria afronta aos 1,4 mil milhões de chineses.”
A Austrália também não assinou a Trégua Olímpica - uma tradição que remonta à Grécia antiga e garante que os conflitos políticos não têm influência na competição desportiva. O Reino Unido também ainda não disse se vai ou não enviar representação diplomática.