Amarante das grandes decisões
A mais longa prova do rali de Portugal pode ser determinante para a composição do pódio
A mais longa prova do rali de Portugal pode ser determinante para a composição do pódio
Jornalista
Pode uma classificativa decidir um rali? Antigamente dizia-se que quem ganhasse na noite de Arganil só por muito azar não venceria a prova. Agora, esse papel de Gigante Adamastor parece ter passado para o troço de Amarante que, desde 2015, é a mais longa da prova, com nada menos de 37 km. Menos que os 52 de Fajão-Arganil, mas ainda assim, uma classificativa de respeito, feita predominantemente a descer, mas cujo piso se degrada da primeira para a segunda passagem: já grandes esperanças de vencer saíram goradas aqui…
Curiosamente os primeiros grandes abandonos do dia ocorreram no troço anterior – Montim – onde Rovanpera (Toyota) e Solberg (Skoda) viraram as respectivas carroças. Veremos o que nos reserva a segunda passagem da parte da tarde, sendo que a da manhã foi vencida pelo estónio Ott Tanak que bateu o recorde do troço (gastando 24 minutos e seis segundos para o completar à média de quase 93 km/h) e ultrapassou o líder da prova (Ogier em Toyota) por uns fugazes e veremos se efémeros 0,2 segundos.
A zona espectáculo do parque de merendas do Fridão, a 10 km de Amarante, é uma das que têm melhores acessos, com um estradão de 2 km reservado aos profissionais da comunicação social, o que leva a trocas de olhares entre o libidinoso e o furioso entre os jornalistas ao volante dos seus carros (em marcha muito lenta para não dar banho de pó aos peões) e os espectadores que se deslocam a pé, por vezes carregando caixotes, sacos e mochilas que nem os guerrilheiros do Vietcong na pista Ho Chi Minh em tempos idos…
É um gancho para a direita a descer entre arvores num local com belíssima visibilidade e todas as condições de segurança. Desta vez a temida Michelle Mouton, vencedora de uma lendária edição do nosso rali em 1982 e agora responsável máxima pela segurança das provas do mundial de ralis, passou meia hora antes dos participantes na corrida, no carro guiado por José Pedro Borges, e não teve reparos a fazer. Há quatro anos neste mesmo local tinha parado e dado um ralhete monumental aos bombeiros, obrigando a recuar a ambulância meia dúzia de metros para fora do enfiamento do gancho.
O nevoeiro que desde a véspera à noite tinha descido sobre todo o Minho desde Leça da Palmeira a Guimarães só se começou a dissipar pelas dez horas o que, se retardou o bailado dos helicópteros, ajudou a que não houvesse um átomo de pó à passagem dos concorrentes: um verdadeiro portento e uma bênção para o muito público que ali se aglomerava. À tarde verei a super especial de Lousada e à noite farei uma daquelas coisas que só acontecem uma vez na vida: percorrer entre alas de espectadores o lendário troço de Fafe/Lameirinha. Algo de que vos falarei na crónica de amanhã.
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