Automobilismo

Todos contra todos no primeiro dia do rali (com os primeiros cinco separados por 30 segundos)

Ott Tänak no seu Hyundai, a deslizar na terra
Ott Tänak no seu Hyundai, a deslizar na terra
NurPhoto

Uma sexta-feira muito disputada com o estónio Ott Tänak (Hyundai) perseguido por três Toyotas e a marca coreana a perder um dos seus carros, devido ao despiste de Adrien Fournaux em Arganil 2, quando se aproximava da liderança da prova

Todos contra todos no primeiro dia do rali (com os primeiros cinco separados por 30 segundos)

Rui Cardoso

Jornalista

O troço actual de Arganil já não tem muito a ver com a lendária e demolidora classificativa de mais de 40 km feita de noite e debaixo de nevoeiros infernais, no meio dos quais só os mais audazes arriscavam, esperando que a sorte os protegesse como manda o lema dos bravos. O troço atual tem 14 km, é feito de dia (logo de manhã e ao princípio da tarde) e corresponde a uma pequena parte do antigo itinerário. Mantém, apesar de tudo, um ponto de referência – a Casa do PPD – uma ruína assim chamada por, em 1975 e posteriormente, ter sido pintada com palavras de ordem daquele partido.

Recuperada através da cooperação entre o Automóvel Clube de Portugal, organizador da prova, e a Câmara de Arganil, marca a passagem do asfalto para terra, logo ao início do troço, seguindo-se um pequeno salto e o começo de uma zona sinuosa, predominantemente a descer que terminará perto de Cerdeira.

O rali visto da Casa do PPD

Foi justamente na Casa do PPD que vi o troço de Arganil. Chegado a meio da primeira passagem, ainda conseguir ver os portugueses mais cotados disputando o nacional de ralis, como Armindo Araújo, Ricardo Teodósio ou Pedro Almeida (que em Skoda viria ao final deste primeiro dia a ser o melhor português, beneficiando da desistência de Kris Meeke em Toyota Yaris já na ligação por estrada ao quartel-general da prova na Exponor em Matosinhos). Depois, o desfile dos carros menos potentes, alguns dos quais nem por isso se fizeram rogados a dar espetáculo no gancho à direita que marcava a transição do asfalto para a terra.

Comentava-se ali que, para a segunda passagem, os regos abertos pelos carros mais pequenos poderiam ser um problema para os maiores e mais potentes (os 12 inscritos em WRC 1) que não encaixam lá. Mas, duas horas depois, ao ver a gana com que os dez primeiros se atiravam ao gancho, ninguém diria tal coisa.

Habilidades no circuito de Sever

Para terminar o dia, uma visita ao final do penúltimo troço (Águeda/Sever) feito pela primeira vez e que termina no circuito do Alto do Roçário, uma espécie de mini Lousada onde os primeiros deram espetáculo a valer, com destaque para o duelo entre Tanak (Hyundai) e Sébastien Ogier, (Toyota) com o francês a levar a melhor nesta classificativa, ainda que por escassos cinco segundos. Um festival de condução a descer para um gancho de kartódromo onde Ogier abriu, de facto, o livro e mostrou o que é uma trajetória perfeita.

Ao anoitecer deste primeiro dia com troços em terra (11 classificativas), os cinco primeiros estão separados por meio minuto, estando os dois primeiros (Tanak em Hyundai e Ogier em Toyota) distanciados por escassos sete segundos, seguindo-se Katsuta e Rovanpera (Toyota) e o campeão do mundo em título, o belga Thierry Neuville (Hyundai). É obra, tanto mais que só houve duas desistências dignas de nota: o abandono do francês Fournaux (Hyundai) por despiste e a quebra da suspensão, já no regresso à Exponor, do Toyota de Kris Meeke, que corre no nacional de ralis e dominara esta componente da prova.

É obra e anuncia um belo sábado, com classificativas mais longas (Amarante e Cabeceiras, cada qual com cerca de 20 km) que já fizeram a glória de alguns candidatos à vitória e a desgraça de outros tantos.

Ortigão, o inesquecível

Já à noite na Exponor, uma homenagem da Toyota a quem foi o seu primeiro piloto oficial de ralis – Jorge Ortigão –, que em Corolla e Starlet brilhou entre 1980 e 1988. Num tempo em que não havia eletrónica nos carros, os troços eram muito mais desgastantes, os espetadores mais indisciplinados, mas a emoção era a rodos. “Perguntem-me o que quiserem” – disse Ortigão aos jornalistas – “porque acreditem que as coisas se passaram, de facto, como as contarei…”

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