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Akoi fugiu da guerra de autocarro, viveu num campo de refugiados e deram-lhe mais idade até escolher o basquetebol por ser “o mais barato”

Akoi fugiu da guerra de autocarro, viveu num campo de refugiados e deram-lhe mais idade até escolher o basquetebol por ser “o mais barato”
Carlos Alves - SC Vasco da Gama

Com dois anos chegou ao Canadá já com uma longa história para contar. Akoi Yuot não escolheu o basquetebol por ser a modalidade em que era melhor ou aquela que gostava mais, mas sim por ser a “mais barata”. Serviu para lhe retirar “um pouco de pressão” de uma vida condicionada pelos conflitos no Sudão do Sul que o obrigaram a viver um ano e meio no campo de refugiados de Kakuma antes de continuar a jornada na América do Norte. Vindo do país mais novo do mundo, onde não há pavilhões, hoje joga em Portugal, no Vasco da Gama do Porto

A vida começa muito antes de nos consciencializarmos dela. Akoi Yuot ainda não tinha experimentado todas as estações do ano quando a mãe o colocou num autocarro para que juntos fugissem da guerra civil do Sudão do Sul. Nestes casos, um recém-nascido tem como escudo único os braços que o seguram. Pode ser uma segurança frágil, mas nas rotas da incerteza é a proteção possível.

Por vezes, pensar no dia de amanhã é pensar a longo prazo. O Sudão do Sul “era um mau sítio para criar filhos”, com um “ambiente severo”, o que levou Akoi até ao campo de refugiados de Kakuma, no Quénia, um dos maiores do mundo. Ali “nada importa, só queres estar em segurança”, diz à Tribuna Expresso.

“É preciso uma aldeia para criar uma criança” é o provérbio que pensa adequar-se melhor ao quadro comunitário que quer pintar. Num campo de refugiados não há avareza. “Se um come, todos comem. Pode ser uma refeição por dia, mas essa refeição vai alimentar a aldeia inteira. Todos fazem a sua parte. As mulheres podem estar a cozinhar, os homens podem ir caçar e as crianças limpam os pratos. Não há uma única pessoa que seja deixada de fora. É assim que nós crescemos. Somos uma família.”

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