Benfica

Além de chumbar OPA, CMVM quer que Benfica mostre informações publicamente

Além de chumbar OPA, CMVM quer que Benfica mostre informações publicamente
Rafael Marchante

Regulador quer que Benfica explique ao mercado como iria financiar a OPA. SAD dará "informação necessária", "logo que lhe seja possível nas atuais circunstâncias e de forma adequada"

Além de chumbar OPA, CMVM quer que Benfica mostre informações publicamente

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Benfica confirmou, ao início da noite, aquilo que é notícia desde o início da tarde: a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) decidiu mesmo chumbar a oferta pública de aquisição lançada pelo clube à sua sociedade anónima desportiva. Mas o regulador do mercado de capitais, de cuja decisão o clube ainda pode recorrer, vai mais longe e quer a disponibilização pública - e imediata - de mais informação por parte do Sport Lisboa e Benfica.

Desde novembro que o clube, através da Sport Lisboa e Benfica SGPS, tenta que a CMVM dê luz verde à OPA que lhe permitiria passar de 67% do capital da SAD para até 95%. Um negócio, que seria feito a 5 euros por ação (valor muito acima das ações no mercado), e que tem levantado várias dúvidas ao regulador. Tantas dúvidas que, esta segunda-feira, a CMVM informou a SAD e o clube - ambos liderados por Luís Filipe Vieira - que tinha um projeto de decisão de chumbo da OPA, segundo confirma a própria SAD das águias em comunicado publicado no site do regulador.

Além desta posição, foram vários os pedidos de informação que a CMVM fez esta segunda-feira à SAD. O regulador, que por esperar estes dados decidiu suspender a negociação das ações da SAD na bolsa de Lisboa, apontou para dois temas, que vinham sendo noticiados:

1) esclarecimentos sobre rumores sobre a alegada intenção do Benfica em deixar cair a OPA, argumentando com as consequências da pandemia da covid-19;

2) esclarecimentos sobre a eventual utilização dos fundos que seriam usados nesta operação (a OPA podia custar até 32 milhões ao clube) para a contratação de atletas;

Mas há um terceiro ponto, que é aquele que levanta os alertas na CMVM: o facto de a OPA ser financiada pela própria SAD. Segundo noticiou a TVI, a SAD iria pagar rendas maiores pela utilização do estádio, e, além disso, a SGPS iria antecipar as receitas recebidas da SAD. A SAD pagaria para que lhe fosse feita uma OPA. Esta é a irregularidade, já que é uma operação que não pode ser feita para que se concretize uma oferta deste género, segundo o entendimento da CMVM.

Daí que haja ainda um terceiro tema sobre o qual o regulador quer informações: "A CMVM solicitou ainda nesta data a prestação imediata de informação ao mercado quanto aos negócios celebrados que permitiram a disponibilização dos referidos fundos à Sport Lisboa e Benfica SGPS".

A informação não é disponibilizada pela SAD no comunicado. A empresa - que diz que irá responder ao chumbo da OPA - ressalva que irá divulgar a "informação necessária", "logo que lhe seja possível nas atuais circunstâncias e de forma adequada".

Nesta OPA, os acionistas iriam conseguir vender as ações a uma cotação a que as ações estavam longe de negociar. Um dos principais beneficiários seria José António dos Santos, conhecido como rei dos frangos, é que é o principal acionista individual da SAD (após o Benfica) - contudo, o também banqueiro disse que não iria vender depois de ser tornado público pelo Expresso que tinha negócios imobiliários com Vieira (informação que nunca tinha constado dos documentos oficiais do Benfica, a não ser o último relatório e contas, já após a notícia do Expresso). Também o presidente do clube iria beneficiar da operação quando saísse do cargo, já que a OPA salvaguardava a venda futura a 5 euros por cada uma das duas ações - o que geraria quase 4 milhões.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dcavaleiro@expresso.impresa.pt