Benfica

Como gerir um jogo em vantagem: um manual a não seguir

Como gerir um jogo em vantagem: um manual a não seguir
MANUEL DE ALMEIDA/POOL/EPA

Erros individuais e incapacidade de controlar com bola quando se vê a ganhar: é isto o Benfica do pós-pandemia. Depois de ter feito o mais complicado, virar um 1-2 para um 3-2, o Benfica mais uma vez não soube gerir uma vantagem e uma defesa em pânico deixou o Santa Clara partir a vitória (4-3) num jogo de loucos em que os encarnados somaram o 5.º jogo consecutivo sem vencer na Luz

É possível que o Benfica tenha começado a perder este jogo com o Santa Clara aos 65 minutos, quando Vinicius fez a reviravolta e colocou a equipa a ganhar por 3-2 depois do Benfica já ter estado em desvantagem por duas vezes. O Benfica, por estes dias, dá-se mal a ganhar, algo que já se tinha visto em Portimão: a vencer por 2-0 e depois de uma 1.ª parte de qualidade, entregou o controlo de jogo, deu a iniciativa ao adversário. E deixou-se empatar, porque além de se dar mal a ganhar, o Benfica, por estes dias, também é uma equipa que defende mal.

Portanto, a partir dos 65’, depois de uma empreitada de grande envergadura, em que numa questão de segundos virou um 1-2 para um 3-2 e a jogar talvez o melhor futebol que se viu no pós-pandemia, o Benfica, mais uma vez, alheou-se do jogo quando mais o precisava de controlar, com bola e não com ela à vista, principalmente contra um Santa Clara organizado e que na 2.ª parte aproveitou todos os erros cometidos pelo Benfica. E por todos leia-se literalmente todos: fez três remates, marcou três golos, depois na 1.ª parte ter feito o primeiro do jogo a aproveitar mais um erro do Benfica: Nuno Tavares tentou a saída rápida para o ataque, com Anderson Carvalho a fazer a interceção e a apanhar toda a gente em contra-pé para fazer o golo.

A perder, e tal como já tinha acontecido na última semana, com o Rio Ave, o Benfica melhorou. O joker da última jornada, Seferovic, saiu ao intervalo para entrar o joker desta semana, Vinicius. Zivkovic também teve a sua oportunidade na vez de Gabriel e o coletivo do Benfica fez uma rara (mas muito boa) aparição. Aos 50’ Rafa fez o empate, após uma jogada de entendimento com André Almeida, mas no melhor momento do Benfica em termos ofensivos, a defesa falhou: num canto, Rúben Dias esqueceu a marcação e Zaidu colocou o Santa Clara de novo em vantagem.

Apesar da debacle defesiva (e ainda estava longe de acabar...), na frente o Benfica manteve o bom período e rapidamente voltou a marcar, por duas vezes, no espaço de apenas alguns segundos e com o mesmo protagonista: Vinicius de cabeça, aos 64’ e 65’.

E a partir daqui, viu-se o filme de outras jornadas. Um Benfica temeroso, sem capacidade para gerir a vantagem, a deixar o adversário ter bola. E quem tem bola acredita. Quem tem bola está sempre mais perto de marcar. Porque mesmo que não tenha feito muito na 2.ª parte, o Santa Clara só precisou de aproveitar o permanente pânico em que parecem viver os dois centrais do Benfica neste momento. Aos 82’, num lance dúbio, Rúben Dias levou a mão à bola na área sem razão aparente para tal. E na grande penalidade Crysan empatou tudo novamente.

Depois do empate do Santa Clara, Bruno Lage fez entrar Cervi e Dyego Sousa, uma espécie de receita milagrosa que nunca trouxe milagre algum a este Benfica pós-pandemia. O descontrolo emocional era, então, já total e foi total no lance que dá o 4-3 ao Santa Clara, com Ferro a perder a luta com Zé Manuel, que à entrada da área e com toda a defesa do Benfica perdida, rematou para a baliza de Vlachodimos. O terceiro remate na 2.ª parte, o terceiro erro aproveitado.

E aí vão cinco jogos sem vencer em casa para o Benfica, que vai numa série negra de apenas duas vitórias nos últimos 12 jogos. Como estamos em 2020, é impossível dizer que este Benfica não vai ser campeão. Mas às vezes parece que não quer.

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