Benfica

Noronha Lopes não se candidata às eleições do Benfica e critica Rui Costa: “Esteve completamente ausente em momentos graves”

Noronha Lopes não se candidata às eleições do Benfica e critica Rui Costa: “Esteve completamente ausente em momentos graves”
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Após ter tido 34,71% nas últimas eleições, Noronha Lopes comunicou, em conferência de imprensa, que não vai voltar a concorrer à presidência do clube. Mas deixou críticas ao processo eleitoral e a Rui Costa, que esteve "completamente ausente de momentos graves da história do Benfica"

Tribuna Expresso

Razões para não se candidatar

“Candidatei-me às ultimas eleições porque considerei que era necessário virar a página e lutar por um Benfica mais credível e transparente. Denunciei os riscos do vieirismo e os riscos que o nosso clube corria. O que se passou no último ano confirmou muito do que eu disse na campanha. A história deu-me razão. Hoje quero esclarecer os benfiquistas sobre a minha posição relativamente às próximas eleições. Na noite da votação, disse que não seria candidato. Falei a verdade, disse aquilo que pensava e sem calculismos. Sabia, e sei, que o Benfica merece um presidente a tempo inteiro e previa que, provavelmente, as circunstâncias que permitiram a minha primeira candidatura não se voltariam a repetir. Porém, na mesma linha de ser claro e falar a verdade, assumo que, face às circunstâncias gravíssimas que rodearam a saída do anterior presidente, ponderei seriamente nas últimas semanas a possibilidade de me candidatar de novo. Feita esta ponderação, tomei a decisão de não me candidatar às eleições do próximo dia 9 de outubro. Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida e tem que ver com fortes razões familiares e profissionais. As circunstâncias atuais da minha vida pessoal não me permitem que me recandidate. E, na vida, nem sempre podemos fazer aquilo de que gostamos, e este é um desses momentos.”

Críticas ao processo eleitoral

“O facto de não ser candidato não me inibe de criticar, enquanto sócio, este processo eleitoral. Os termos em que foi feita esta convocatória condicionam a possibilidade de promover um debate sério sobre as razões que nos trouxeram aqui e a melhor maneira de resolver os problemas para o futuro. O ato eleitoral teria todas as condições para ser transparente se, antes da convocatória, tivesse sido aprovado um regulamento eleitoral, onde, desde logo, ficasse claro em que condições se faria o voto físico, como seriam feitos os debates na BTV ou como se faria o acesso aos cadernos eleitorais de forma igualitária para todas as listas. Deste modo, as regras das eleições apenas vão ser conhecidas a três semanas do dia da votação. E, portanto, o problema não é das eleições serem cedo demais, o problema é das eleições serem feitas à pressa e sem que se conheçam as regras com as quais vão decorrer. Infelizmente, estes sinais não sugerem uma mudança relativamente àquilo que foram as práticas que condenámos no passado. O que reforça a minha convicção de que quem fez parte do passado recente do Benfica não tem condições para construir o seu futuro. Há uma responsabilidade de quem deveria ter visto, quem deveria ter perguntado, de quem deveria ter averiguado ou, no mínimo, de quem deveria, no final, ter saído."

Mensagem aos benfiquistas

“Quero agradecer aos milhares de benfiquistas que nos últimos meses me expressaram o seu apoio, principalmente aos que o fizeram nas últimas semanas. Sei que muitos vão ficar desiludidos, mas peço a todos que, tal como eu enquanto sócio, continuem a exercer a sua cidadania benfiquista sempre. Faço dois apelos: o primeiro para a lista que emana da atual da direção. Que cada um faça uma profunda reflexão sobre se reúne as condições necessárias para o cargo que vai ocupar sem que esteja envolvido em qualquer caso que manche o nome do Benfica. E o segundo apelo é para toda a família benfiquista. Que se mostre unida no apoio aos nossos jogadores e às nossas equipas, no futebol e nas modalidades, para que este ano tenhamos finalmente as vitórias que tanto nos faltaram nos últimos anos. Mas que se mostre igualmente unida na exigência para quem for eleito, unida na intransigência sobre a verdade, no direito à transparência e nos valores éticos que nos fizeram o maior de todos e que manifeste o seu benfiquismo comparecendo, por exemplo, na próxima Assembleia Geral extraordinária. O que se passou nos últimos ano do Benfica não se pode repetir. É responsabilidade coletiva de todos os sócios, principalmente daqueles que forem eleitos para os cargos directivos, que garantam que finalmente se vira uma página”

Irá apoiar Rui Costa?

"Relativamente a Rui Costa, tenho uma grande admiração enquanto jogador. Estive lá contra a Fiorentina, estive lá na sua festa de despedida. Mas enquanto dirigente não vou apoiar Rui Costa, porque faço um balanço do que tem sido a presença de Rui Costa no Benfica em cargos directivos da maior responsabilidade há muitos anos. Quando nós tivemos uma OPA ilegal, eu não vi uma palavra de Rui Costa. Quando nós tivemos a demissão de um presidente da AG, há pouco tempo, porque não concorda com o adiamento da AG extraordinária, eu não vi uma palavra de Rui Costa. Onde estava Rui Costa nesses momentos? Estava completamente ausente de momentos graves da história do Benfica.

E outros candidatos?

"Eu não tenho conhecimento de outros candidatos e, portanto, será prematuro pronunciar-me sobre esse assunto. Neste momento, o que é fundamental é que existam regras relativamente à próxima eleição. Nós estamos a um mês das eleições e não se conhecem as regras segundo as quais se vai processar o ato eleitoral. Não sabemos em que condições é que vai haver o voto físico, não sabemos em que condições haverá debates na BTV… Quanto aos candidatos, acho que vão ter de tomar a sua decisão e, na altura própria, vou-me pronunciar sobre isso".

A questão das ações de Vieira

"Este episódio é mais um de uma novela que já vem desde uma OPA que foi declarada ilegal. Tivemos uma OPA que foi declarada ilegal, depois tivemos o aparecimento de uma proposta de um senhor Textor, que apareceu a propor um preço das ações muito acima do valor de mercado, sem garantias de qualquer controlo sobre a SAD e numa sociedade que não distribui dividendos. E depois, voltámos a ter uma proposta relativamente a um comprador do Benfica, de uma parte do capital. O que eu sei é que em 2017 o Benfica tinha todas as condições para ter comprado uma parte significativa destas ações a um bom preço. E chegámos aqui. Continua a haver uma sucessão de eventos secretos e pouco explicados. Qual o fator comum nisto? É que parece que na direcção do Benfica ninguém sabe de nada e que todos são apanhados de surpresa. Parece que tudo o que aconteceu era apenas do conhecimento de uma pessoa."

Está preocupado com as contas do Benfica?

"A perda de algumas receitas é natural face ao contexto de pandemia. Mas o que me preocupa muito é o aumento da massa salarial. Como é que é possível que, num ano de pandemia, a massa salarial aumente 13%? Isso é que eu gostava que alguém explicasse aos sócios."

Algum membro da sua anterior candidatura pode ser candidato?

"Essa questão, nesse momento, não é relevante para mim. Não tive qualquer indicação nesse sentido. O que é importante é transmitir aos benfiquistas a minha decisão e as razões da mesma, que são familiares e profissionais."

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt