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Entrevista a Rui Costa: “​No Benfica não há vieirismos, nem costismos, nem benitismos”

Entrevista a Rui Costa: “​No Benfica não há vieirismos, nem costismos, nem benitismos”

Umas letras pequeninas num cartaz em Fafe picaram-no para singrar. Chegou a presidente do Benfica depois de as investigações judiciais afastarem Luís Filipe Vieira — o qual, assume, podia ter sido mais transparente com os colegas da SAD. Se vencer as eleições deste sábado, admite reunir-se com o americano John Textor. Quanto a Jorge Jesus, ainda não há certezas, mas garante: “Não estamos distraídos”

Já se escreveu que nasceu numa cave na Damaia. Nasceu mesmo ou não é assim tão literal?

Não, nasci na maternidade, fui para casa como toda a criança. Mas foi ali que cresci, fui criado, numa cave da Damaia. Aliás, já estava nos seniores do Benfica e ainda estava nessa casa.

Como foi a sua infância?

Feliz. Dentro das possibilidades dos meus pais, não eram exageradas, mas feliz. Um menino de rua, numa zona cheia de crianças, onde ainda hoje somos dezenas de miúdos da mesma geração que crescemos juntos e nos continuamos a dar. Numa altura em que a vida nos dava rua, não havia as PlayStation, não havia os telemóveis, não havia nada disso. E éramos obrigados a criar os nossos próprios jogos e divertimentos. Foi dentro disto, desta harmonia de amigos de rua, e de família também, que nunca deixaram faltar nada. Agarrado a uma bola, era a minha perdição. Mas posso dizer de forma geral que foi uma infância muito feliz, com grandes recordações, com muita aprendizagem do que era a vida passada na rua.

A bola roubava tempo à escola?

Era meio reguila, não era muito disciplinado, mas não era um rebelde. Mas, efetivamente, a bola tirou muito tempo de escola, isso numa fase mais de Benfica, no período de vida onde não tínhamos as condições que hoje conseguimos dar aos nossos jovens, esta conciliação da escola e futebol. Naquele período era muito mais difícil e, portanto, posso dizer que o futebol acaba por ser responsável pela minha pouca escola, precisamente para poder treinar e para jogar ao domingo pelo Benfica, que era aquilo que mais ambicionava.

Os seus pais davam-lhe na cabeça?

Os meus pais perceberam. A minha mãe sempre muito mais preocupada com o facto de eu ter chegado ao 8º ano e praticamente desistir. Não que o meu pai não estivesse, mas a minha mãe era muito mais impulsiva nisso. Mas compreenderam também que, com aquela idade — fiz três vezes o mesmo ano para tentar completar e nunca consegui —, a escolha estava feita. Era uma escolha arriscada porque, no fundo, todo o jovem ambiciona ser jogador e não chegam lá todos. Arriscava-me a poder ficar pelo caminho. Mas não era um miúdo rebelde, não o fazia de propósito, era por necessidade e por um sonho tremendo de poder vir a ser jogador de futebol, também numa fase em que no clube já se imaginava que, pelo menos, pudesse fazer uma carreira de I Divisão, mesmo que não fosse no Benfica. Portanto, a aposta acabou por ser nesse caminho, com o meu compromisso de que tudo faria para lá chegar. E daí a perda, a partir de certa idade, da minha infância normal, das brincadeiras daquelas idades, das saídas noturnas. Que acabaram por me passar ao lado, porque o meu compromisso com os meus pais foi esse mesmo. Se a escolha é esta, se a aposta é esta, vou-me dedicar de corpo e alma ao que tenho para fazer, porque é o meu sonho. Felizmente, a aposta foi ganha.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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