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De rejeitado no Brasil a maior compra da história do Benfica em três anos: a incrível caminhada de Richard Ríos

De rejeitado no Brasil a maior compra da história do Benfica em três anos: a incrível caminhada de Richard Ríos
Hector Vivas - FIFA

O médio colombiano chegou tarde ao futebol, depois de ter crescido no futsal. No Brasil, viu-se dispensado pelo Flamengo em 2022 e foi a jogar na segunda divisão que chamou a atenção do Palmeiras. O Benfica é a sua porta de entrada na Europa, com os encarnados a pagarem 27 milhões de euros pela sua contratação

Lisboa não é Istambul, mas na tarde de terça-feira houve alguns laivos de ligação entre as duas cidades que estão em pontos opostos da Europa. A chegada de Richard Ríos a Portugal foi digna das loucuras comumente vistas cada vez que um dos grandes da Turquia compra um jogador. Muitos adeptos, muita imprensa, confusão, encontrões e umas quantas frases para criar expectativa nos benfiquistas. 

Numa bolha do futebol cada vez mais fechada, com os jogadores colocados em redomas inalcançáveis, até soou a um mais orgânico e genuíno passado. 

Pareceu até surpreendido o médio colombiano, ainda que as multidões não lhe sejam estranhas. Nem que sejam as digitais: o jogador é um fenómeno nas redes sociais e só no Instagram tem mais de 5 milhões de seguidores. Ganhará mais uns quantos agora que se tornou na contratação mais cara da história do Benfica, que pagou 27 milhões de euros ao Palmeiras por este médio todo-o-terreno, com dotes de condução de bola e que cheira o sangue a cada transição. 

Mas a tão caótica quanto épica receção na zona das chegadas do Aeroporto Humberto Delgado não significa que a vida e carreira de Richard Ríos, internacional colombiano de 25 anos, tenha sido apenas feita de altos voos. Na verdade, é mais uma história de descolagens e aterragens abruptas. 

Nascido na pequena povoação de Vegachí e criado nos arredores de Medellín, Ríos tentou o futebol mas recebeu vários nãos por conta da pequena estatura, paradoxal já que o médio deu mais tarde um pulo até ao 1,85m. “Infelizmente, na Colômbia olhavam mais para o físico do que para o talento”, sublinhou em entrevista ao Gol Caracol, do seu país, onde admitiu ser "um jovem sonhador", sempre com o objetivo de dar uma vida melhor aos mais próximos. Faltava também dinheiro na família para pagar as viagens para os treinos de futebol e por isso Richard dedicou-se ao futsal, em clubes mais próximos de casa. 

Francisco Paraiso/SLB

No futsal tornou-se profissional pelo Alianza Platanera aos 16 anos, enquanto se dividia por outros campeonatos de futebol de sete para ganhar mais uns trocados. No podcast Palmeiras Cast, admitiu que recebia valores entre os três e os quatro euros para jogar por várias equipas. “O problema é que eu jogava em quatro campeonatos, chegava ao quarto jogo e já não tinha pernas, não conseguia”, contou. 

Em 2018 foi convocado para um torneio continental sub-20 no Brasil, onde chamou a atenção de vários olheiros, curiosos para o ver de novo num campo de futebol. Deixou tudo na Colômbia e apenas com uma mochila às costas apresentou-se no país para fazer vários testes. Nem precisou de fazer o segundo: o Flamengo chamou-o logo para a sua formação.

A adaptação foi fácil e Ríos ainda fez a estreia pela equipa principal do Flamengo, em 2020, mas nunca foi verdadeiramente uma opção. Em 2021/22 seria emprestado ao Mazatlán, da primeira divisão mexicana, mas uma lesão grave no joelho, uma rotura de ligamentos, deixou-o de molho durante vários meses. Recuperou mais cedo do que o previsto, “na força do ódio”, como admitiu no Palmeiras Cast, mas não chegou: o Mazatlán não exerceu a opção de compra e quando regressou ao Brasil descobriu que o Flamengo o ia dispensar. 

O renascer

Tudo isto aconteceu há apenas três anos. Richard era um jovem de 21 anos, longe de casa e sem clube. A opção foi dar um passo atrás. Ríos apresentou os seus serviços a muitos clubes brasileiros, mas o único a dar-lhe uma oportunidade foi o Guarani, de Campinas, que jogava então na segunda divisão e lutava para ali ficar.

Depois de um início atribulado, com várias expulsões, a velocidade e técnica de Ríos ganharam um lugar de evidência no meio-campo do Guarani. “A equipa estava, acho, no 15.º lugar, a caminho de cair para a Série C. Mas eu fui, queria ter minutos”, admitiu numa entrevista à FIFA em setembro do ano passado. “Depois de uma lesão grave queremos jogar sempre. O Guarani conseguiu sair daquela situação”, continuou, lembrando um jogo no campeonato paulista que mudaria de novo a sua vida: “O último jogo foi contra o Palmeiras. E hoje estou aqui”. “Aqui” era no Palmeiras, porta por onde entrou novamente na elite do futebol brasileiro. 

Ezra Shaw

Foi já como jogador do Palmeiras que foi chamado pela primeira vez à seleção colombiana e em 2024 tornou-se num dos destaques da equipa na Copa América. Habitual titular para Abel Ferreira no Verdão, a chegada à Europa tornou-se numa inevitabilidade depois de se destacar também no Mundial de Clubes, no mês passado. O Benfica é o novo desafio de um jogador que ainda há bem pouco tempo batia à porta de clubes brasileiros para ter onde jogar. 

“É uma felicidade imensa para mim e para a minha família. Um passo gigante que dou na carreira. Era um sonho jogar na Europa e agora estar num clube gigante como o Benfica é muito gratificante”, sublinhou após assinar com os encarnados, em perfeito português, que aprendeu a ouvir músicas brasileiras, sem qualquer aula. O médio assinou até 2030, com uma cláusula de rescisão de €100 milhões.

A influência do futsal

Richard Ríos acredita que a formação feita nos ringues do futsal trouxe-lhe mais vantagens do que problemas para depois se adaptar de novo ao futebol de 11. Aliás, assume mesmo que muitas das suas características ainda vêm desses tempos. “A maior parte do que faço em campo vem do futsal. Quando eu domino a bola, a pisá-la, nos duelos, quando faço uma tabela”, admitiu numa conversa publicada no site da FIFA. 

Ríos explicou ainda que o futsal o ajudou a “pensar mais rápido em espaços reduzidos”. Tudo para conferir quando o colombiano se estrear pelo Benfica.

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