Outra entrevista de Luís Filipe Vieira, outro ‘fica para depois’ quanto à candidatura às eleições do Benfica. Já críticas, houve para todos
D.R.
Não foi desta que Luís Filipe Vieira, em mais uma entrevista entre rumores sobre a sua tentativa de regresso ao Benfica, confirmou a candidatura à presidência do clube. Disse, à NOW, que todos os dias pensa nisso, mas precisa de pensar mais - acha que “na próxima semana” terá “uma resposta”. Entretanto, teve um palco para criticar Rui Costa e Pedro Proença, que chamou de “cobarde” e acusou de o aliciar com um cargo na FPF caso convencesse Nuno Lobo a não concorrer contra ele pela liderança da federação
É Luís Filipe Vieira na TV, uma ocasião em si só: tem um pouco menos cabelo, as rugas mais pronunciadas, o bigode desapareceu, mas o estilo, visual e na forma, mantém-se. Feita a introdução pelo jornalista, na primeira ligeira pausa a que se presta antes de iniciar as perguntas, o homem que também é uma sigla logo aproveita: LFV interrompe para agradecer “aos jogadores e equipa técnica do Benfica” pela “maravilhosa vitória” na Supertaça de Portugal, que “já devia ter sido na final da Taça”, embora aí, peruca, “infelizmente outras coisas extra-futebol fizeram com que não ganhasse”.
Não fica por aí. “E para quarta-feira” que vem, quando os encarnados defrontarem o Nice no play-off de acesso à Liga dos Campeões, “desejar-lhes as maiores felicidades, confiamos bastante neles”. Quem mais cabeça no ar, desligado das atualidades, poderia achar estar a ver, no canal NOW, o presidente do Benfica a falar. Se não o caso, pelo menos um candidato a sê-lo em breve, nas eleições marcadas para outubro. Nem uma coisa, nem outra, embora ambas expliquem o porquê de Luís Filipe Vieira estar à beira do horário nobre de uma sexta-feira a ser entrevistado.
Primeiro, porque o Benfica conquistou a Supertaça na véspera, porque se tal não fosse, Vieira não estaria em estúdio. “Adoecia de repente, não estava cá, garanto-lhe.” Mas esteve. Não foi é ainda desta que o antigo líder do Benfica durante 18 anos, que renunciou ao cargo em 2021, confirmou se irromperá de vez por entre a bruma, regressado do nevoeiro.
Mas matuta sobre tal a cada manhã, faz tempo, nos afazeres de higiene. “Todos os dias, quando estou a fazer a barba, olho para o espelho e digo a mim mesmo: ‘Vais-te mesmo candidatar ou não?’ Faço a pergunta há alguns dias. Não tomarei um passo levianamente para me candidatar a presidente do Benfica”, começou por dizer, sem satisfazer a dúvida e alastrando-a - porque já ficara por responder - à segunda entrevista em menos de um mês.
Ele explicou o seu nim, este seu jogo com o tempo. “Preciso de mais informação daquilo que eu penso que poderá existir para, definitivamente, dizer que sim. Avançar aos olhos escuros, como alguns, não vou avançar de certeza absoluta”, retumbou, aludindo quiçá a olhos fechados em vez de escuros, na bicada que lhe provocou um lapso. “Preciso dos pés bem seguros no chão: para aquilo que eu penso e acho que posso vir a encontrar, tenho de arranjar soluções para resolver esses problemas. Poderei estar disponível, mas, quando quiser dar esse passo, tenho de ter certezas de que vou resolver problemas e que terei bastante competitividade para voltar a ser campeão e continuar a ser.”
Mais adiante na longa entrevista, no reboliço dos temas a misturarem-se uns nos outros, lá destaparia a pontinha do véu: “Acho que na próxima semana tenho essa resposta.” E aí, ficámos a saber, haverá mais de Vieira nos ecrãs. “Falarei com as pessoas que estão comigo, 'vou ser candidato, preparem uma entrevista na televisão'.” Deu a entender a pender na sua decisão está ter a garantia de que não terá mais “problemas” com a justiça. De recordar que o processo 'Saco Azul' está decorrer, mas o julgamento da Operação 'Lex' apenas arranca em outubro.
SOPA Images
A dúvida maior, portanto, ficou por esclarecer mal a entrevista arrancou. Sobrou então tempo para as muitas críticas, diretas e incisivas a Rui Costa por mais que Vieira evitasse mencionar o nome do seu sucessor na presidência encarnadas, eleito em 2022 com quase 85% dos votos e já recandidato assumido. “O Benfica não teve liderança nenhuma nestes últimos quatro anos, todos os benfiquistas o sabem. Não teve pessoas que conduzissem um percurso sem preocupações”, queixou-se. “Estas pessoas que estão lá, em quatro anos conseguira destruir uma organização montada por mim”, realçou. E foi por aí fora.
Pintou um cenário onde “é tudo verde” na Federação Portuguesa de Futebol, ajudado pelo telemóvel na mão e os óculos no nariz que foi buscar aos bolsos para, com uma cábula, indicar os nomes de pessoas que ocupam funções na entidade e foram, diz Vieira, indicadas pelo Sporting ou têm ligações ao clube. “Isto está a pender para um lado só”, lamentou, aproveitando a deixa - “foi o nosso presidente”, portanto Rui Costa será o dele, “que permitiu esta situação”.
Por oposição, expôs o que o atual líder do Benfica deveria, no seu juízo, ter feito, ao elogiar o que alega que Frederico Varandas conseguiu fazer: “Defendeu melhor os interesses do Sporting e muitíssimo bem, fez o trabalho dele.”
Críticas disparadas para todo o lado
Pintou um cenário onde “é tudo verde” na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), ajudado pelo telemóvel na mão e os óculos no nariz que foi buscar aos bolsos para, com uma cábula, indicar os nomes de pessoas que ocupam funções na entidade e foram, diz Vieira, indicadas pelo Sporting ou têm ligações ao clube. “Isto está a pender para um lado só”, lamentou, aproveitando a deixa - “foi o nosso presidente”, portanto Rui Costa será o dele, “que permitiu esta situação”. Na crítica ao rival de Lisboa coube outra mais ao atual presidente do Benfica.
Demais se seguiram, com exaltação, dirigidas a quem lidera a federação. LFV foi duro com Pedro Proença, acusando-o de o aliciar, num almoço, para convencer Nuno Lobo a não concorrer com ele nas eleições realizadas em fevereiro, em troca de um lugar na FPF, um chorudo salário de “15 mil euros” de e um carro - “e tenho uma testemunha”. Alegou também, na entrevista à NOW, que lhe pediu para persuadir Fernando Gomes, predecessor de Proença na federação, a apoiá-lo.
Perorou sobre atos e trejeitos passados do ex-árbitro e ex-presidente da Liga, disse que os líderes dos clubes “têm todos medo que ele os penalize nos jogos”. Mas avisou-o: “De certeza que deve estar com muitos problemas por eu me vir a candidatar. Ele comigo nunca conseguiu brincar, nem vai brincar. Ele que não se meta comigo, depois as coisas vão extremar e é pior para ele.”
Esta postura pareceu um ripostar contra as declarações de Proença, à SIC, na entrevista que concedeu (também o fez à Tribuna Expresso) e na qual afirmou que nunca se candidataria a um cargo no futebol caso estivesse envolvido em processos judiciais - como Luís Filipe Vieira esteve, na Operação ‘Cartão Vermelho’, e ainda está, no Processo ‘Saco Azul’. “Fiquei tão indignado com o que ele disse, não se pode intrometer nas eleições do Benfica, não pode, como árbitro fez tanto mal ao Benfica”, declarou, num período em que os avisos se mascaravam de vírgulas entre frases: “Ele sabe que se eu for presidente do Benfica, se calhar não vai estar muito tempo na federação.”
Chegou ao ponto de lhe chamar “cobarde”.
Gualter Fatia
Sim a Lage, também sim a Conceição - mas só ao telefone
Quando houve uma ligeira pausa para trocar o cartucho à metralhadora de críticas, Luís Filipe Vieira concedeu um elogio a Bruno Lage, o treinador do Benfica. “Ele sabe se há alguém que quer mais que ele ganhe, sou eu”, garantiu quem se declarou seu amigo e, mais do o lado pessoal, terá deixado algo para o profissional, venha LFV a ser candidato e, quem sabe, eleito presidente - “acho que é com ele que o Benfica vai ser campeão”. A declaração haveria de se esparramar um pouco mais: “Quem me dera a mim que cheguemos a 25 de outubro e estejamos em 1.º lugar do campeonato, na Liga dos Campeões e assim sucessivamente, com o Bruno Lage à frente da equipa.”
Nem foi a referência ao treinador com quem celebrou o seu derradeiro título de campeão nacional, em 2019, no Benfica, que lhe arrancou o primeiro sorriso. Já a parlapiê ia em mais de meia-hora quando surgiu a pergunta sobre Sérgio Conceição ser a suposta preferência de Vieira para o banco encarnado. “Conheço-o desde o tempo em que o Rodrigo, seu filho, jogava no Seixal. Eu era a pessoa com quem ele mais falava ao telefone, ele estava no FC Porto e não havia problema nenhum”, contou acerca do técnico de reputação, imagem e percurso colados aos dragões.
Mas, então, e o resto? “Até quando estava no SC Braga falava comigo. Tenho a relação que tenho com o Sérgio Conceição, não é mais do que isso.” Recusou a sugestão ter sido ele, ou a sua entourage, a plantarem tal rumor nas notícias de modo a aferir as suscetibilidades dos adeptos. Luís Filipe Vieira frisou que não se deixa levar pelas emoções. Excetuando aquela vez, em 2007, quando despediu Fernando Santos por ouvir outros antes de matutar para os seus botões.
Nisto da poda de treinadores, LFV, o antigo presidente que fala à presidente mas, por enquanto, não diz se realmente vai tentar voltar a ser presidente, dá algum descanso aos rumores, ao menos a estes: “O treinador do Benfica é Bruno Lage, é com esse que queremos ganhar, é esse que espero que a 25 de outubro esteja em 1.º lugar, e continuará.” E a entrevista à NOW continuou. E se Luís Filipe Vieira continuar rumo a onde parece querer ir, ele quer voltar a ser tetracampeão. “E se fizer o tetra novamente, se calhar tenho de ficar mais um ano.”