Em dia de homenagem ao ciclismo português, Kaden Groves continuou a sua história de amor com a Vuelta
Tim de Waele
Sprinter australiano conquistou a sua 5.ª etapa na Vuelta, num percurso entre Cascais e Ourém que passou por lugares essenciais da história do ciclismo português: Torres Vedras, cidade de Joaquim Agostinho, ou Caldas da Rainha, onde nasceu João Almeida. Wout van Aert é o novo camisola vermelha
É impossível falar de ciclismo português sem falar do Oeste. Foi lá que nasceu Joaquim Agostinho, ainda o melhor de todos, que em 1974 ficou a 11 segundos da vitória na geral da Vuelta. João Almeida é da A-dos-Francos, perto das Caldas da Rainha, onde nasceu António Morgado, vice-campeão mundial de juniores em 2022 e de sub-23 em 2023, o miúdo que se estreou em Monumentos este ano com um 5.º lugar na Volta a Flandres. Com 20 anos, foi o mais novo em 80 anos a terminar no top 5 da mítica prova belga.
A segunda etapa da Vuelta 2024, segunda etapa por territórios portugueses depois da grande partida de Lisboa no sábado, passou por todos esses locais que tanto dizem ao imaginário velocipédico português, até à meta, colocada em Ourém. Não muito tempo depois da saída de Cascais, o pelotão atravessou Torres Vedras e “não foi por acaso”, como confirmou Javier Guillén, diretor da Vuelta, em declarações difundidas pelo “El País”. Joaquim Agostinho partiu há precisamente 40 anos.
Por essa altura já seguiam em fuga Ibon Ruiz (Kern Pharma) e Luis Angel Maté (Euskaltel-Euskadi), espanhóis de experiência completamente díspar: o primeiro, de 25 anos, está na Vuelta a fazer a sua primeira grande volta, enquanto Maté, habituadíssimo às estradas nacionais (tem vitórias em etapas na Volta a Portugal de 2023 e 2024), é o corredor mais velho em prova, com 40 anos.
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A fuga do dia ainda passou na frente no Bombarral, onde um cartaz bem visível homenageava José Eduardo Santos, conhecido por Pepinho, mítico mecânico português da Lidl-Trek, que faleceu inesperada e prematuramente em 2022, vítima de um ataque cardíaco. Porque não só ciclistas de elite nasceram por cá. Ainda passaram na diateira no mar de gente que se viu nas Caldas da Rainha, com muita gente a acorrer à beira da estrada para dar força a João Almeida. Mais à frente, em Alfeizerão, estava a família do ciclista da UAE Emirates, um dos favoritos à geral, mas este não era dia para trepadores. Nem sequer para os dois fugitivos, que a 50 quilómetros do Ourém já estavam alcançados.
Em ritmo lento - tão lento que até Sepp Kuss, vencedor do ano passado, fez de aguadeiro da Visma - chegou-se até às proximidades de Aljubarrota - de má memória para espanhóis, mas isso foram outros tempo -, passou-se em frente ao Mosteiro da Batalha, onde se conheceu o abandono de Dylan van Baarle, que seria um dos escudeiros da Visma, devido a queda.
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A aproximação ao Alto da Batalha viu o pelotão abanar novamente, com um primeiro ataque de Mauri Vansevanant, da Soudal-Quick Step, perseguido por Marc Soler (UAE Emirates), mais interessado em defender a camisola vermelha de Brandon McNulty do que em ajudar o belga. Aí, o ritmo acelerou novamente.
Stefan Kung, rapaz mais dado aos contrarrelógios, foi o primeiro no Alto da Batalha, defendendo a camisola de rei da montanha, e daí até Ourém começaram as movimentações para o sprint final, com Kaden Groves a bater Wout van Aert na meta. É a quinta vitória do australiano em etapas da Vuelta: uma em 2022, três há um ano e agora abre a contagem ainda em Portugal.
Van Aert (Visma-Lease a Bike) foi bem lançado por Edoardo Affini, mas talvez cedo demais. Foi 2.º mas é o novo líder da Vuelta, beneficiando dos seis segundos de bonificações para ultrapassar McNulty na classificação geral.
Na 2.ª feira, o pelotão da Volta a Espanha despede-se de Portugal, com uma tirada entre a Lousã e Castelo Branco, 191,2 quilómetros em que os ciclistas já terão de passar uma 2.ª categoria no Alto de Teixeira.