Pensar alto ajuda a clarificar as contas que, quando retidas no interior da mente, se tornam mais difíceis de resolver. Partilhando a matemática com o mundo, entrega-se à solução uma probabilidade superior de surgir na cabeça de quem se depara com o dilema. Para os autores dos manuais escolares, em busca de encontrarem cenários imaginários para os enunciados dos exercícios, os bastidores da Vuelta podem ser uma hipótese a considerar.
Alguém junto do autocarro da Cofidis vai falando sozinho. Percebe-se pela língua que utiliza que é compatriota de Camões. “Setenta e quatro vezes dois...” E aguarda que a inteligência natural lhe divulgue o resultado. Vai rabiscando um caderno. Parece atarefado diante das geleiras que tem à frente. Os recipientes estão repletos de bidões, objetos muito requisitados por colecionadores que pedincham por eles junto dos locais onde as equipas estão instaladas. A resposta que recebem é quase sempre a mesma: só depois da corrida é que podem vir a ter alguma sorte. Até lá, tudo está contado para que nada falte aos ciclistas.
O português que vai reunindo o material antes da etapa inaugural da Vuelta, um contrarrelógio que ligou Lisboa e Oeiras, é Raúl Matias. Como ciclista, carreira que iniciou em 1982, realizou 15 vezes a Volta a Portugal. Agora é um dos responsáveis por deixar a papinha toda feita aos ciclistas da equipa francesa.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: fsmartins@expresso.impresa.pt