Ciclismo

Luís ouvia as suas próprias fugas na rádio e pedalou com Joaquim Agostinho. Hoje tem uma farmácia por onde passou o início do fim da Vuelta

Luís ouvia as suas próprias fugas na rádio e pedalou com Joaquim Agostinho. Hoje tem uma farmácia por onde passou o início do fim da Vuelta
Dario Belingheri

Antigo ciclista, vencedor de uma etapa na Volta a Portugal (onde participou por 13 vezes), Luís Gregório é um herói local na Lousã. Foi o escolhido para cortar a fita na partida da última etapa da Vuelta em solo nacional. A competição espanhola passou à porta da loja que lhe permite viver “às custas das bicicletas”. Aos 71 anos, continua a participar em provas que lhe relembram os tempos em que fugia do pelotão e ouvia nos rádios do público o relato da sua própria corrida

Quem entra numa fuga tem assegurado um lugar de destaque na corrida. Estar na frente durante a etapa – quase sempre longa, quase sempre dura – significa timbrar o nome no percurso que heroicamente se enfrenta sozinho ou, no máximo, na companhia de um grupo reduzido de corredores. A distância conquistada face ao pelotão poucas vezes é preservada até à meta. Pedaladas ansiosas moem o corpo e trituram a glória sonhada. Os perseguidores são sempre mais do que os fugitivos e a vantagem numérica é utilizada para lançar o fio de pesca e recolhê-lo com os dissidentes presos no anzol.

Há autênticos profissionais na arte de entrar em fugas. É como acertar em cinco números e duas estrelas: acontece poucas vezes, mas o prémio que se ganha quando as opções são acertadas compensa. Luís Gregório recorda à Tribuna Expresso o dia em que, numa etapa da Volta a Portugal, entre Abrantes e Figueira da Foz, escapou do grupo principal e passou na Lousã, a sua terra, em segundo lugar - atrás de Joaquim Agostinho. Chegou à meta no 17.º lugar, mas a sua grande vitória tinha sido conseguida a meio do caminho quando a vila viu o seu prodígio velocipédico seguir destacado.

Cinquenta e um anos depois, Luís Gregório cortou a fita que libertou a estrada para a partida simbólica da terceira etapa da Vuelta, a última com passagem por Portugal. O antigo ciclista podou a tira encarnada mesmo à frente de Wout van Aert, o camisola vermelha no arranque da corrida que ligou a Lousã a Castelo Branco, Kaden Groves, o camisola verde, Stefan Küng, o detentor da camisola da montanha, e Mathias Vacek, o camisola branca.

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