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Para Welay Berhe, que fugiu da guerra e não está com a família há quatro anos, “significa muito” fazer a Vuelta: “É possível se lutares”

Para Welay Berhe, que fugiu da guerra e não está com a família há quatro anos, “significa muito” fazer a Vuelta: “É possível se lutares”
UCG
Welay Berhe deixou a Etiópia em 2020. Desde aí que não está com a família. “Eles acompanham-me sempre, mas ainda não nos juntámos”, comenta com a Tribuna Expresso. Mesmo contra as probabilidades, o corredor da Jayco AlUla está a participar na sua segunda grande volta e considera “muito importante” que os ciclistas africanos também possam ter lugar no pelotão internacional

No sopé da Serra da Lousã é dia de não se querer saber de mais nada a não ser ciclismo. Há verdadeiros aficionados da modalidade e há curiosos ocasionais a verem o material utilizado pelos corredores ao longo das etapas. O colorido dos autocarros das equipas da Vuelta contorna um campo de râguebi. No momento em que as comitivas chegam, sensivelmente uma hora antes da partida simbólica da terceira etapa da Vuelta, há um contágio de expectativa para ver os corredores. Só as grades impedem que a onda de apoio inunde a entrada do veículo que transportou a UAE Emirates de João Almeida até ao local.

A parafernália está montada. Quando o sol agudo começa a encontrar o ângulo que combinou com a organização ser sinal para a corrida começar, há público e ciclistas a coexistirem na zona técnica. É o domínio que os corredores têm do guiador que permite evitar atropelos. Sepp Kuss, o vencedor da edição de 2023, tem que rejeitar alguns pedidos de fotografias e autógrafos para evitar chegar atrasado ao encontro com a linha de partida. Tao Geoghegan Hart tem um pouco mais de paciência e responde a algumas solicitações.

No posto onde atracou a Jayco AlUla, as bicicletas da equipa vão passando pelo scan, processo que visa evitar o chamado doping mecânico. Uma espécie de tablet com um sensor no cimo pretende confirmar que não exigem motores que escapem à primeira vista. Nada a registar, está tudo pronto. Não há nenhum ciclista do conjunto australiano a reunir fãs que entupam o entorno do autocarro. As fitas que limitam o acesso de eventuais pessoas tornam-se até inúteis.

De todos, Welay Berhe é um dos que mais despercebido passa. É esguio e baixo. Não tem estrutura física para se evidenciar por essa via. Prepara-se para os 191,2 quilómetros até Castelo Branco, jornada que está longe de ser a maior da sua vida.

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