As feições de um ciclista vão-se quando, além do capacete, coloca os óculos espelhados. Quem perguntar àqueles olhos o que dizem eles, acaba por ver a questão devolvida. Naquelas autênticas viseiras, o curioso não vislumbra mais do que o seu próprio reflexo.
Entre os oitos equipamentos azuis tom de Smurf da Astana é difícil encontrar quem se procura. A descaracterização dos ciclistas transforma-os em clones uns dos outros. O objetivo é caçar o dorsal 198 que, nestas circunstâncias, é praticamente uma impressão digital. Espreitando por debaixo do selim, lá está ele. Ainda assim, a abordagem é feita a medo.
– Nicolas?
– Yes!
Bingo. Estava ultrapassado o receio de colar nas costas de alguém um nome que não lhe pertence. Já confiantes, aproximamo-nos. Escapa à cobertura facial um buço rasteiro, loiro e irregular. Devido à cor, é impossível que as câmaras de televisão recolham provas dos defeitos e a emitam na transmissão da Vuelta.
Nicolas é Nicolas Vinokourov. Soa familiar? O apelido carrega figura na lista de vencedores da Vuelta. É filho de Alexander Vinokourov que ganhou a prova espanhola em 2006 e que hoje é diretor-geral da Astana.
Para o cazaque de 22 anos, a 79.ª edição da Vuelta é a primeira corrida de três semanas em que participa. Já era nascido quando o pai conseguiu uma das maiores proezas da carreira (e ainda foram algumas). Resumindo: campeão olímpico em 2012, duas vezes vencedor da Liège-Bastogne-Liège, duas vezes vencedor da classificação geral do Paris-Nice, uma vez vencedor do Critérium du Dauphiné, quatro vitórias em etapas na Vuelta e outras tantas no Tour de France.
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