A sabedoria de Primož Roglič apanha Ayuso desprevenido e deixa um aviso que vai da Catalunha até Itália
Szymon Gruchalski
O esloveno venceu em Barcelona e conquistou a Volta à Catalunha. Uma aceleração aparentemente inofensiva do veterano, a 20 quilómetros da meta, não foi respondida por um jovem espanhol que leva um balde de água fria
Um metro, três metros, 10 metros, 100 metros, vitória. Estou atrás de ti, estou mesmo aqui, já não te vejo. Tudo parece controlado e calmo e puff, eis que não está.
Foi uma reviravolta inesperada. A derradeira etapa da Volta à Catalunha, 88,2 quilómetros à volta de Barcelona, era um duelo entre Juan Ayuso, o jovem da UAE-Emirates que vinha arrasando na temporada, e Primož Roglič, o experiente da Red Bull-Bora. Com 1 segundo a separá-los, acreditava-se que as bonificações fossem decisivas, até porque se sabe como o esloveno gosta de um bom sprint em grupo reduzido.
Mas a distração, a falta de pernas, seja o que for, uma conjugação de fatores, tudo apanhou Ayuso desprevenido. Azarar dos azares para o espanhol, tinha como adversário uma velha raposa do pelotão, um campeão, um farejador de vitórias.
A 20 quilómetros da meta, numa das passagens pela subida de Montjuïc, Rogla acelerou. Não parecia um ataque brutal, soou mais a um teste, mas o antigo campeão do esqui – que corre com um colar em homenagem a esses saltos – lá foi. Os adversários seguiram-no. Tudo aparentava estar controlado para Ayuso. Até que deixou de estar.
Entre Roglič e Ayuso estava Egan Bernal, o colombiano que seguia na roda do esloveno. Até que Bernal perdeu metros para Primož, espaço que Ayuso não fechou. Um segundo passaram a três, três passaram a 10. Roglič não mais foi alcançado e venceria, triunfando na derradeira etapa e na Volta à Catalunha.
Szymon Gruchalski
Após a penúltima etapa da corrida ter passado de tirada de montanha para dia sem interesse competitivo devido ao vento, que levou a organização a tirar a montanha do percurso, o desenlace em Barcelona consagrou um especialista das provas de uma semana. Numa sala de troféus com 91 vitórias, há espaço para múltiplas glórias nas corridas de um quarto de mês: dois Tirreno-Adriático, duas Voltas ao País Basco, dois Dauphiné, duas Romândia. A Volta ao País Basco. E, agora, duas Voltas à Catalunha.
Às vezes somos injustos com Roglič. Quase 100 vitórias, cinco grandes voltas, tantos triunfos em corridas de uma semana de enorme importância, tudo isto tem o azar de coincidir com a era dos super-heróis. Mas ele é, também, um ilustre super-herói, um craque histórico das bicicletas.
Juan Ayuso, incapaz de responder ao ataque, foi deixado sem reação. Nos últimos quilómetros pareceu um craque em choque, um balde de água fria para quem estava a ser a sensação de 2025. Depois de cinco vitórias na época, de ganhar o Tirreno, de triunfar no alto de La Molina, de fazer mais trabalho de ginásio, ganhar músculo e alterar a dieta, esta etapa mostrou que Ayuso, o jovem prodígio, ainda tem de crescer.
Mais do que uma demonstração de sabedoria, esta foi uma mensagem de Roglič. O vencedor de quatro Vueltas e de um Giro terá encontro marcado, na Volta a Itália, contra Juan Ayuso. A luta pela rosa marcará novo confronto entre o velho sábio e o jovem cheio de vontade.