Ben O'Connor ganha entre a bruma na etapa rainha em que ninguém contestou Pogačar, o rei do Tour de France
Dario Belingheri
O mais duro dia da Volta a França teve o australiano como vencedor. A Visma de Vingegaard tentou destrunfar o camisola amarela, mas Tadej manteve-se sereno na frente
Por muitas táticas que existam, por muita montanha que haja, é a lei das pernas a prevalecer. A Visma olhou para o percurso da 18.ª etapa, para as três contagens de categoria especial, e quis preparar uma operação de sufoco a Tadej Pogačar. Mas não há armadilhas que apanhem o quase tetracampeão da Volta a França.
O encadeamento de subidas dava o legítimo estatuto de etapa rainha à jornada. O percurso nos Alpes tinha aroma clássico, com o Col du Glandon (21,7 quilómetros a 5,1% de média) e o Col de la Madeleine (19,3 quilómetros a 7,8%), misturado com moderno, com final no Col de la Loze, uma subida recente, só asfaltada em 2019, mas uma dificuldade eterna, de 26,5 quilómetros a 6,4%.
O Col de la Loze foi o palco do célebre "I'm gone, I'm dead" de Tadej Pogačar, quando Vingegaard o levou a ultrapassar os limites. O dinamarquês tentou repetir a receita, mas a lei das pernas manda.
A Visma preparou o ataque logo na Madeleine, a mais de 70 quilómetros do fim. Isolou o campeão do mundo, Jonas arrancou muito cedo, Jonas está forte. Da parte de quem veste de amarelo não houve nem um pingo de amostra de fragilidade.
Vingegaard a tentar fazer descolar Pogačar quando ainda havia sol
Tim de Waele
Antes da derradeira montanha, os trepadores que conseguiram acompanhar Vingegaard e Pogačar não quiseram jogar o jogo de espera e impasse dos melhores. Ben O'Connor, australiano da Jayco, e Einer Rubio, colombiano da Movistar, foram com Matteo Jorgenson, o norte-americano da Visma.
O'Connor vem da melhor temporada da carreira, um 2024 em que foi segundo na Vuelta e no Campeonato do Mundo. Em 2025 está a um nível inferior, tanto que arrancou a etapa em 12.º. Ainda assim, guardou a melhor versão para o melhor dia.
O australiano atacou ainda a 16 quilómetros do fim. Aproveitando o combate nulo atrás, a incapacidade da Visma e a aceitação da Emirates, manteve uma vantagem a rondar os três minutos durante largos quilómetros. Foi subindo à medida que as temperaturas desciam, à medida que o sol se escondia e chegavam as nuvens, o granizo, o termómetro perto do zero, a altitude a 2.298 metros. Com mais de um minuto e meio para a concorrência, O'Connor apareceu entre a neblina para festejar uma vitória das que marcam uma carreira.
Atrás, Vingegaard tentou um último ataque à entrada dos dois quilómetros finais. Foi mais um descargo de consciência que uma ofensiva, porque, naquele momento, o vencedor de 2022 e 2023 sabia que Tadej ia impenetrável. Pogačar respondeu e contra-atacou, sugando a moral de Jonas, torturando-a, mostrando que, por muito bem que o dinamarquês esteja, ele está melhor. Ainda ganhou nove segundos na meta, que foi cruzada por Vingegaard com a cara que se faz quando se tenta contrariar a gravidade ou fintar a morte.
A 19.ª etapa, a última grande tirada de montanha, trará mais dificuldades, com duas segundas categorias, uma primeira e duas categorias especiais, uma delas La Plagne, coincidindo com a meta. O interesse residirá, em parte, na luta pelo pódio, onde Lipowitz perdeu tempo para Onley, que está a 22 segundos do alemão, e para Roglič, que está a 1,48 minutos do companheiro de equipa. E estará, também, em saber se a versão relativamente pouco predatória de Pogačar, dando alguma margem às fugas e ficando seis dias seguidos sem ganhar uma etapa — o escândalo! —, é para continuar.