Temos por costume marrar, e bem, nos maus exemplos, alertando contra práticas indesejáveis porque desrespeitosas e evitando a sua amostragem ao público, para evitar dar-lhe ideias. O futebol leva essa aversão ao extremo: quando sucede alguma invasão de campo em jogos da UEFA, seja na Liga dos Campeões ou em Campeonatos da Europa, quem dirige a realização televisiva tem ordens para imediatamente retirar do plano quaisquer imagens que mostrem o infrator no campo. Se ninguém vir, é como se não tivesse existido, pensará a entidade.
Quem manda na montra maior do ciclismo português pensa diferente.
Ainda restavam uns 40 quilómetros na segunda etapa da Grandíssima quando se viu um mau exemplo. À primeira passagem por Fafe, numa zona do troço com grades abeiradas da estrada, viu-se na transmissão televisiva um braço com respetivo punho fechado a atingir a cara um ciclista da ABTF Betão-Feirense, afastando-o do corpo do pelotão. Seria retaliação: pouco antes o visado pelo golpe parecia dirigir provocações ao homem da equipa Israel - Premier Tech Academy que o golpeou.
Não muito depois, um ciclista de outra turma, Anicolor - Tien21, arremessou uma botija de água com o intuito de atingir outro atleta do conjunto israelita, mas a pedalar e no meio de tantos corpos acabou por acertar num desafortunado ciclista da AP Hotels & Resorts / Tavira / SC Farense, que nada teria a ver com o desacato.
Colecionados os sintomas de que havia faíscas no seio do pelotão e deixada a agressividade para trás, seria Pau Martí a ganhar a tirada ao sprint, agarrando-se à camisola amarela para a licra mais desejada ficar para uma das equipas envolvidas nos desacatos. Festejou na meta (de punho cerrado), sorriu no pódio, vestiu a cor de líder e foi descansar.
Encerrada a etapa, a Volta a Portugal daria novidades. A organização informou, em comunicado, que Diogo Gonçalves e Fábio Oliveira, ambos da Feirense-Beeceler, César Martingil da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua e Brady Gilmore da Israel Premier Tech Academy foram multados em 500 francos suíços - equivalentes a 531 euros - devido a "vias de facto entre corredores". Além do que lhes sai da carteira, perderam 25 pontos no ranking da União Ciclista Internacional.
Estes indesejáveis arrufos, ainda para mais numa das provas icónicas do desporto português, com honras de surgir todos os dias na televisão, em canal aberto (RTP1), durante a tarde, aconteceu na sexta-feira, dia em que Luís Montenegro haveria de visitar a Volta a Portugal não muito longe da terra a que chama casa.
Esposende dista pouco mais de 70 quilómetros de Fafe, onde o primeiro-ministro apareceu a correr, em mangas de camisa, para deixar uma mensagem de incentivo. Mas as palavras do governante destoaram do que seria visto, e difundido, na etapa. "Aquilo que quero é que todos possam dar o máximo e um espetáculo, como têm dado, de desportivismo e de espírito competitivo, é esse o significado da Volta a Portugal em bicicleta", defendeu Montenegro, não se sabe se antes ou depois da tirada findar.
Para ter o elogiável e o criticável, a Portugal partilhou vídeos de ambos os acontecimentos.
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