Juan Ayuso quebrou logo à primeira etapa de montanha da Volta a Espanha e já não há dúvidas sobre quem é o ponta de lança da UAE para a geral. Almeida teve de resistir aos ataques de Vingegaard, mas mostrou estar bem. Em Andorra, Jay Vine venceu e Torstein Træen (Bahrain) conquistou a vermelha
Jornalista
A montanha apareceu na Vuelta e destapou uma série de verdades, algumas mais inconvenientes que outras. A mais visível é que a liderança bicéfala da UAE Emirates deixou de o ser: tal como no Giro, Juan Ayuso desiludiu, quebrou, e João Almeida é a partir de agora o único líder da equipa dos Emirados. O espanhol ficou apeado na última dificuldade do dia e cortou a meta a mais de seis minutos dos favoritos. Se continuará ou não na Volta a Espanha é a questão. No final, assumiu que já não começou a competição bem, mas que tentou o possível, a pedido da equipa.
Mais verdades destapadas: Jonas Vingegaard está bem, mas João Almeida também. O dinamarquês da Visma, vestido de vermelho-líder, atacou com Giulio Ciccone (Lidl-Trek) na subida para Pal, na Andorra que é casa de muitos destes ciclistas, inclusive de Almeida, mas o português, na sua habitual impassividade, esperou para colocar o seu ritmo e, depois, ainda foi ele ao ataque, talvez mais para mostrar que está em forma e não exatamente para ganhar tempo - ainda há muita montanha até ao fim.
Pelo meio, entremeadas nas desilusões e nas confirmações entre os candidatos, a etapa e a liderança da Volta a Espanha cosia-se com outras linhas, outros protagonistas. O triunfo iria para a UAE Emirates, com Jay Vine em exibição a solo, num dia agridoce para a equipa. E a vermelha ficaria também para os fugitivos, que cedo tiveram rédea solta. O esforço final de Torstein Træen (Bahrain), que deixou para trás os companheiros de aventura com um ataque nos últimos quilómetros, permitiu-lhe roubar a camisola de líder a Vingegaard, que pouco se importará por ficar mais leve nos próximos dias.
Para o ciclista norueguês chegou, aos 30 anos, o momento mais alto de uma carreira brevemente interrompida em 2022, quando, após um rotineiro controlo anti-doping, descobriu que padecia de cancro testicular. Aquela amostra de sangue estava à procura de batoteiros e nem sabia que seria salvadora: a doença foi detetada num estágio ainda inicial e Træen nem necessitou de fazer quimioterapia. Passados cinco meses já estava de regresso à competição e no ano seguinte fez top 10 no Critério do Dauphiné.
Na sexta-feira haverá mais montanha para o pelotão se coçar, mas Torstein Træen até poderá almejar andar de vermelho mais uns dias. Jonas Vingegaard, o primeiro dos favoritos, é agora 5.º na geral, a 2,33 minutos do norueguês. João Almeida, único líder da UAE Emirates, aparece oito segundos depois do dinamarquês.
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