Ciclismo

Paul Seixas, o lusodescendente que é o all-in da França para ganhar o Tour mais de 40 anos depois

Paul Seixas, o lusodescendente que é o all-in da França para ganhar o Tour mais de 40 anos depois
Jean Catuffe

O apelido não engana. Paul Seixas tem descendência portuguesa, mas é a grande esperança da França para suceder a Bernard Hinault, o último gaulês a vencer o Tour, em 1985. Aos 19 anos, é aposta da Decathlon, equipa que terá um orçamento de €40 milhões no próximo ano para colocar a jovem esperança na luta pela camisola amarela. Este sábado, na Volta à Lombardia, corre o primeiro monumento da carreira

À partida, não foi entregue nenhum convite a um jovem de 19 anos para estar no Europeu a perseguir as medalhas no mesmo grupo de Remco Evenepoel e Juan Ayuso. A presença de Paul Seixas nessa elitista reunião é um caso flagrante em que o mérito arromba a porta de entrada. Ao conjunto que seguia no encalço de Tadej Pogačar juntou-se um intruso, arguto como um espião, tirando partido de algum menosprezo.

O francês passou por uma “loucura total” para conseguir o terceiro lugar de um pódio onde a grandeza de Pogačar e Evenepoel deixou, por protocolo, espaço para um outro elemento. “Foi uma das melhores corridas da minha vida”, admitiu o prodígio gaulês ao juntar uma lasca de bronze ao 13.º lugar na prova em linha dos Mundiais do Ruanda, que teve apenas 30 ciclistas a cruzarem a meta.

Confirmam-se as suspeitas. O apelido é português e herdou-o do bisavô paterno, mas pouco mais sabe sobre esse rasto de origens. Foi em família que assistiu à vitória de Chris Froome no Tour, em 2013, e com seis anos percebeu que era a camisola amarela que queria almejar, surpreendendo o pai, um ex-praticante de karaté.

Aos 13 anos, já tomava decisões de vida em prol do ciclismo. Lyon, a cidade onde nasceu era demasiado agitada para os ciclistas, tanto que os treinos do seu primeiro clube decorriam numa pista junto ao Parc de la Tête d’Or. Foi então que, com essa idade, se mudou para junto das subidas de Anse.

Jean Catuffe

2025 foi o ano de estreia de Paul Seixas no World Tour, a divisão mais alta do ciclismo. Após se ter sagrado campeão do mundo de contrarrelógio no escalão de juniores, na Suíça, assinou um contrato de três anos com a Decathlon-AG2R. Apesar do interesse das principais equipas do pelotão, entre as quais a UAE Emirates de João Almeida, manteve-se numa estrutura que lhe era familiar.

Na época de estreia no lago dos tubarões, destacou-se sobretudo pelo oitavo lugar na classificação geral do Critérium du Dauphiné, prova que serve de antecâmara da Volta a França e na qual se tornou o mais jovem de sempre a conseguir um top-10 numa corrida do World Tour. Também em estradas francesas, venceu o Tour de l'Avenir, a Volta a França do futuro. Este sábado, na Volta à Lombardia, vai estrear-se em monumentos.

Numa entrevista à revista “Cyclist”, definiu-se como um “trepador” que está “a treinar para ser um all-rounder”. “No futuro, penso que me vou tornar num corredor de classificação geral. O contrarrelógio e as subidas são os meus pontos fortes. Vou continuar a trabalhar neles.”

Desde 1985 que nenhum corredor francês vence o Tour. Bernard Hinault foi o último a consegui-lo. Em teoria, a equipa que representa tem um projeto para fazer de Paul Seixas o próximo maillot jaune gaulês. Para o próximo ano, a Decathlon – por razões comerciais, o patrocínio da AG2R La Mondiale vai cair do nome – terá disponível um orçamento de €40 milhões para se tornar num dos três conjuntos mais fortes do World Tour até 2028 e ganhar a Volta a França com o seu prodígio.

Dario Belingheri

Apesar das boas prestações ao longo da temporada, a equipa decidiu entregar a liderança no Tour a Felix Gall para “não atrapalhar a progressão” de Paul Seixas. “É a corrida mais intensa e difícil do ano. Se ele participasse, poderia ter um aumento de 15% a 20% na carga de trabalho num mês. Fisiologicamente, poderia haver um ponto de bloqueio”, justificou o diretor de performance, Jean-Baptiste Quiclet, ao “L'Equipe”.

Correr o Tour é o “sonho de criança” de Paul Seixas, disse o próprio à “Cyclist”. Embora admita que “ainda não está nesse nível”, espera “um dia ter as pernas” para ser o sucessor de Hinault. “Por agora, tenho que continuar a evoluir para me aproximar desse nível.”

Pelo meio, talvez tenha tempo para se formar em Gestão, curso que frequenta remotamente enquanto se candidata a ser primeira página de jornais devido aos feitos em cima de duas rodas.

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