Ciclismo

Terminou “a melhor época” de Pogačar. Em nova ponte do presente com o passado, tornou-se tão campeoníssimo como Fausto Coppi na Lombardia

Terminou “a melhor época” de Pogačar. Em nova ponte do presente com o passado, tornou-se tão campeoníssimo como Fausto Coppi na Lombardia
Dario Belingheri

Desta vez, o ataque foi mais demorado. Ainda assim, o esloveno mexeu-se 36,6 quilómetros da chegada, em Bérgamo, relegando Remco Evenepoel para o crónico segundo lugar destinado ao belga quando os dois extraterrestres se cruzam. Tadej Pogačar chegou aos dez monumentos na carreira e venceu pela quinta vez a Volta à Lombardia, tantas como Fausto Coppi

Os monumentos são práticas instaladas no ciclismo, o zénite da tradição. Durante grande parte da Volta à Lombardia, as câmaras focaram-se em Quinn Simmons, o corredor avesso ao politicamente correto e às táticas, um showman à americana que carregou na frente as argolas douradas a ulularem nas orelhas, a barba fulva e o cabelo atarraxado na parte de trás do capacete.

Nada disto parece muito clássico. Também não o foi a maneira como o corredor da Lidl-Trek quis com tanta insistência despojar-se de companhia logo a 100 quilómetros da meta. Mesmo sendo apanhado, descolou-se dos restantes fugitivos com nova sacudidela.

Tadej Pogačar é um unificador de épocas que faz no presente o que só num passado muito distante tinha sido feito ou, na melhor das hipóteses, consegue aquilo que nunca um ser vivo alcançou. Nesta flutuação entre eras, o esloveno ganhou a Volta à Lombardia em nova mostra de que é o melhor do seu tempo e um dos melhores de sempre.

O monumento que percorre o norte de Itália corre-se desde 1905 e nunca ninguém foi capaz de ganhar cinco edições consecutivas. Pogačar chegou a essa marca e igualou Fausto Coppi, Il Campionissimo, em número de conquistas na classica delle foglie morte. No palmarés, coleciona já dez monumentos seguindo pelo inexorável caminho que levará alguém a ter que fazer um para ele.

Rafał Majka, o gregário de luxo que realizou a última corrida da carreira, teve uma derradeira oportunidade de hastear Pogačar antes deste começar a voar. Mais tarde do que o costume, a 36,6 quilómetros, o camisola arco-íris atacou e, 2,3 quilómetros depois, já se tinha colado a Quinn Simmons. A parelha durou instantes.

Isolado, o líder da UAE Emirates não viu os perseguidores conseguirem alcançá-lo antes de concluir os 241 quilómetros entre Como e Bérgamo. Remco Evenepoel (+1:48), o consagrado segundo classificado, ocupou a posição que habitualmente Pogačar lhe deixa quando competem em simultâneo. Michael Storer (+3:14) fechou o pódio.

Tadej Pogačar passou 50 dias de 2025 a pedalar em cima de uma bicicleta. Ganhou a Strade Bianche, a Volta à Flandres, a Liège-Bastogne-Liège, o Tour, os Mundiais, os Europeus e a Volta à Lombardia. Nos monumentos em que não venceu, terminou no pódio. Qualquer uma destas conquistas servia para um ciclista comum se sentir realizado com a sua carreira. Pogačar fez isto numa época que, avaliou o próprio, "foi a melhor até agora".


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