Coronavírus

Portugal, Reino Unido e quarentena: e se um clube inglês vencer a Liga dos Campeões em Lisboa?

Portugal, Reino Unido e quarentena: e se um clube inglês vencer a Liga dos Campeões em Lisboa?
Michael Regan

Com duas equipas inglesas, Chelsea e Manchester City, a disputar lugares na “final a oito” que se joga em Portugal, sobram algumas dúvidas sobre o que farão quando tiverem de voltar a casa. E se levarem a medalha de campeão no bolso?

A uma semana do regresso da Liga dos Campeões, cujas eliminatórias finais terão lugar em Lisboa, Portugal continua fora dos corredores aéreos do Reino Unido. A obrigação de fazer quarentena durante 14 dias no regresso a casa tem levado os britânicos a cancelar viagens a Portugal, com os efeitos que se conhecem no turismo.

Mas há pelo menos 22 homens a viver em Inglaterra que tudo farão para viajar para o país nas próximas semanas. Manchester City e Chelsea disputam dois lugares na “final a oito” da competição, o que levanta algumas perguntas: como será a quarentena dos jogadores no regresso? Tendo em conta que a época termina, as férias dos atletas ficam comprometidas? E se algum dos clubes vencer a competição, o regresso a casa é feito sem celebração à chegada?

Antes de lhes responder, há dois pontos prévios a ter em conta. O primeiro é que a fase final se disputa a partir de 12 de agosto, e vai até 23 do mesmo mês, o que significa que até lá as condições podem mudar. O Governo britânico é claro: “os países e territórios podem ser retirados ou adicionados a esta lista de exceções a qualquer momento”. A lista a que se refere, e da qual Portugal está fora, é a dos países “seguros”, para onde os britânicos podem viajar sem restrições. As avaliações são feitas semanalmente e as duas grandes atualizações da lista distaram cerca de um mês. O que não invalida que Portugal seja adicionado antes disso.

O segundo ponto é que não é certo que ambas as equipas inglesas ainda em competição joguem mesmo em Lisboa. Uma delas, aliás, está praticamente eliminada. Com uma segunda parte desastrosa em Stamford Bridge, o Chelsea viu-se derrotado por 0-3 pelo Bayern de Munique. A segunda mão que se joga na Alemanha, no sábado, dia 8, é pouco mais do que um pro forma. Quanto ao City, de Pep Guardiola, a situação é oposta: ganhou fora (1-2) ao Real Madrid, que se vê ainda privado do capitão Sergio Ramos, expulso nessa partida. Há, pelo menos, uma forte hipótese de os ingleses de Manchester viajarem para Lisboa.

Foi a pensar nisso que o Governo britânico abriu exceções às obrigações de quarentena. Fê-lo com os atores e realizadores, num momento em que Hollywood retomava as produções e os Estados Unidos estavam fora da lista de países seguros do Reino Unido (ainda estão). Fê-lo também com funcionários de serviços essenciais, do Governo. E fê-lo ainda com os atletas de elite, a jogar em Inglaterra ou no estrangeiro. Questionado pela Tribuna Expresso sobre as condições da vinda destes atletas a Portugal, o executivo britânico, através da Embaixada em Portugal, remete a resposta para a página em que estão listados os cuidados a ter no regresso, que dispensam os atletas de quarentena e que os clubes se comprometem a assegurar.

Findo o campeonato inglês, a discussão virou-se agora para as férias dos jogadores. Jurgen Klopp, treinador do campeão Liverpool, contrariou a indicação da Federação Inglesa de dar apenas duas semanas de férias aos jogadores, e permitiu-lhes liberdade imediata desde o fim do campeonato no passado domingo. Uma liberdade condicionada: os destinos têm de ser aprovados pelo clube e os jogadores têm de garantir que conseguem deixar os países no caso de um surto. Além disso, são aconselhados a escolher destinos seguros, o que levou o guarda-redes Alisson Becker, por exemplo, a decidir não visitar a família no Brasil.

Há quem escolha Portugal para as férias. Ex-futebolista do Chelsea, John Terry tem partilhado as mini-férias na propriedade que tem na Quinta do Lago e ouviu, conta o "The Sun", as críticas dos que se sentem injustiçados por terem sido obrigados a cancelar férias em Portugal e ainda não sabem se serão reembolsados. A esses, Terry respondeu com uma pergunta: “Sou o único ex-jogador ou jogador no estrangeiro? Não.” Disse ainda que tem uma semana para passar fora com a família — “e a minha intenção é aproveitá-la ao máximo”.

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Em caso de vitória, clubes “terão que respeitar regras de distanciamento social”

A hipótese não é tão remota assim. Se algum dos clubes, com mais probabilidade o Manchester City, vencer a Liga dos Campeões, o executivo britânico impedirá os festejos? Mesmo excluídos da obrigação de quarentena, os jogadores vão diretamente do aeroporto para casa?

A resposta à Tribuna Expresso é lacónica. “Quando voltarem ao Reino Unido, terão que respeitar as regras de saúde pública e de distanciamento social que foram implementadas pelo Governo do Reino Unido”, diz o executivo do país. Acrescentando mais à frente três links úteis: “Proteja-se a si e aos outros do coronavírus”; “Mantendo-se alerta e seguro (distanciamento social)”; “O que pode e o que não pode fazer”.

Sobre festejos, o Governo diz mais. “No caso de Man City e Chelsea passarem para as etapas finais do torneio, os clubes terão um papel importante na comunicação com os adeptos”, que garante “o respeito pelas medidas em vigor para quem visita Portugal”. Em comunicado divulgado no início do mês, a UEFA confirmou que os jogos da Liga dos Campeões, bem como os da Liga Europa, vão ser disputados à porta fechada. Com as limitações extra impostas pelas autoridades britânicas, é pouco provável que haja adeptos ingleses a querer viajar até Lisboa.

A Tribuna Expresso tentou contactar responsáveis de Chelsea e Manchester City, para perceber que medidas especiais estão a ser tomadas e que recomendações estão preparadas, mas até ao momento não obteve resposta.

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