Crónica de Jogo

Arouca - Sporting. Entre a instabilidade, Paulinho prolonga o romance com a Taça da Liga

Arouca - Sporting. Entre a instabilidade, Paulinho prolonga o romance com a Taça da Liga
DeFodi Images/Getty

Com um bis do avançado português, que chegou aos oito golos em cinco jogos na prova, os leões venceram (2-1) nas meias-finais e esperam por FC Porto ou Académico de Viseu na final. O Sporting voltou a tremer e a mostrar fragilidades recentes, mas continua a relação de amor — do clube, do treinador e do dianteiro — com a Taça da Liga

Arouca - Sporting. Entre a instabilidade, Paulinho prolonga o romance com a Taça da Liga

Pedro Barata

Jornalista

O aparato montado pela Liga Portugal à volta desta final four da Taça da Liga até pode ser um exercício de entusiasmo e otimismo louvável, com luzes, sons, DJ's e influenciadores em Leiria para tentar fazer destes dias uma espécie de semana da festa do futebol. Há um conjunto de atividades — ou ativações de marca, perdão — do gosto das gentes do marketing, com jogos de estrelas, sorteios e barulho. Muito barulho.

Mas, no final de contas, o campo não mente, como dizia Alfredo Di Stefano. E as bancadas que o rodeavam estavam com muitas clareiras, numa noite de janeiro fria, pouco propícia aos glamours com que a Liga quer pintar estes dias em que se decide o vencedor da Taça da Liga — perdão, o #Campeaodeinverno.

Há uma certa contradição entre as intenções da Liga e a realidade aqui, tal como há uma contradição entre o momento recente do Sporting e o costume de quem veste de verde e branco na prova que se iniciou em 2007/08. É que, apesar da instabilidade conhecida e analisada, este é o clube que venceu quatro das últimas cinco edições do torneio, o treinador que ganhou todos os desafios que nele disputou, somando três conquistas como técnico e seis como jogador. E o avançado que é criticado por não marcar nas outras provas e que aqui se transforma em faminto goleador.

Com um bis de Paulinho, que assim já marcou sete vezes em cinco encontros na Taça da Liga — por contraste, tem três festejos nos restantes 18 compromissos da campanha —, o Sporting bateu (2-1) o entusiasmado Arouca, esperando por FC Porto ou Académico de Viseu na final do torneio com o qual todos em Alvalade parecem ter uma relação de amor. No meio de meses atribulados, há sempre uma Taça da Liga para manter viva a chama da época, mesmo em noites geladas de inverno.

PAULO CUNHA/Lusa

A meia-final começou com o Arouca, embalado pela época histórica que coloca o clube pela primeira vez a discutir o acesso à final de uma prova nacional e no sexto lugar da I Liga, a ameaçar Adán. Após canto bem trabalhado, Basso rematou para defesa de Adán, mas o lance foi anulado por fora de jogo e seria uma exceção no guião da etapa inicial.

Durante quase todo o primeiro tempo, viu-se em Leiria um Sporting em ataque organizado, procurando desbloquear a organização de um adversário que, muitas vezes, apresentava uma linha de sete defesas, com os teóricos extremos Antony e Sylla a juntarem-se à linha recuada, que era reforçada por Busquets, encaixado entre Basso, o líder, e Opuko, o gigante. Ao intervalo, os 71% de posse para os verde e brancos e 14 remates, contra apenas um dos de amarelo, traduziam estatisticamente o que os olhos testemunhavam.

O primeiro leão a criar desequilíbrios foi Marcus Edwards. Aos 10', o inglês recebeu na sua zona preferida, descaído para a meia-direita, e foi tirando toda a gente do caminho com um misto de técnica e agilidade. O canhoto soltou para Nuno Santos, mas o ala optou por cruzar e não rematar, não tendo Morita nem Paulinho ofercido a melhor sequência ao lance. O médio japonês, titular pela primeira vez desde 13 de novembro, ainda antes do Mundial, e o avançado português seriam os mais perigosos do Sporting na primeira parte.

Num Arouca sem bola, os belos pés esquerdos de David Simão e Alan Ruiz sofriam. Muito longe da baliza rival, davam a sensação de arma um pouco desaproveitada. Após 45 minutos de cenário quase sempre idêntico, de ataque organizado de uns e resistência de outros, o tempo de compensação da etapa inicial trouxe um carrossel de emoções com o VAR como protagonista.

DeFodi Images/Getty

Tudo começou com um canto da esquerda para o Sporting. Depois de o cruzamento ser tirado, o Arouca partiu para contra-ataque, com uma condução de Busquets. O espanhol serviu Antony que, descaído para a esquerda, bateu de trivela, num gesto que parecia ter a intenção de assistência. Mas a bola, caprichosa, foi rumo à baliza de Adán, sobrevoando o guardião espanhol para abrir o marcador.

O lance espoletou imediatamente muitos protestos por parte dos jogadores do Sporting. Os leões reclamavam mão de Basso em ação com Coates. Após longa indefinição e consulta do VAR, Fábio Veríssimo decidiu anular o golo do Arouca e marcar livre para os verde e brancos, justamente pela infração do capitão.

Na sequência do livre, foi-se do 1-0 para o Arouca para o 1-0 para o Sporting. Nuno Santos cruzou ao segundo poste, Pedro Gonçalves assistiu para o coração da área, Paulinho disparou de primeira para levar os lisboetas na frente para o descanso.

O Arouca voltou dos balneários mudando de postura. Mais pressionante, mais agressivo, tendo mais bola, para felicidade dos pés de David Simão e de Alan Ruiz. Aos 55', Matheus Reis quase perdeu a bola para Dabbagh em zona proibida.

2022/23 vem sendo histórico para o Arouca, que sonhou com um troféu nacional e aspira às provas europeias. É a temporada da redenção de Alan Ruiz, o ex- Sporting que encontrou vestido de amarelo o contexto ideal para as promessas de talento que brotam da sua canhota. Aos 58', um dos destaques da temporada em Portugal tirou da frente Ugarte e cruzou de trivela, assistência respondida da melhor forma por Dabbagh, o palestiniano que já festejou por uma dezena de vezes na época.

PAULO CUNHA/Lusa

A igualdade abriu a porta para as instabilidades recorrentes do Sporting. Entre a falta de contundência ofensiva, a menor fiabilidade defensiva ou a tremideira que surge quando as coisas não correm de feição, os pecados dos leões em 2022/23 são do conhecimento geral. Em Leiria, voltaram a surgir, com Opuko a ameaçar dar a volta ao marcador.

Para tentar chegar à vitória, Rúben Amorim lançou Porro, suplente entre os rumores de mercado, e Arthur. O lateral espanhol esteve perto do golo aos 78', mas, se o Sporting fez 11 remates nos primeiros 35 minutos, não permitindo nenhum, apenas disparou seis vezes, concedendo seis, nos 35 minutos iniciais do segundo tempo.

Com o Arouca numa meia-final de uma prova nacional pela primeira vez, era óbvio para quem pendia o peso da responsabilidade. Mas, quando os fantasmas recentes ameaçavam voltar, o romance prevaleceu. Aos 82', Nuno Santos olhou para a área e cruzou rasteiro, onde Paulinho, tantas vezes criticado por não ser contundente na área, se atirou em carrinho para desviar para o 2-1.

Até final, David Simão ainda roçou o 2-2, mas seria o Sporting a avançar para a final. A quarta em quatro temporadas de Rúben Amorim como técnico, que aspira à décima vitória da carreira entre os bancos e os relvados. A quinta das últimas seis épocas para o clube. E, quem sabe, a terceira do palmarés de Paulinho, que no troféu feito aconchego para os lados de Alvalade leva, no total, 20 golos em 33 partidas.

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