Crónica de Jogo

Ei, seleção, ainda não estamos de férias

Ei, seleção, ainda não estamos de férias
PATRICIA DE MELO MOREIRA

Jogo algo anémico de Portugal frente à Bósnia, com resultado (3-0) mais interessante que o futebol apresentado, lento e arrastado, com os balcânicos, principalmente na 1.ª parte, muito competentes a secar a criatividade portuguesa. A melhoria nos últimos 15 minutos, com Bruno Fernandes mais adiantado, ajudou a avolumar o triunfo

Sobre o terceiro jogo da era Roberto Martínez, que tal como os dois primeiros acabou em vitória e sem golos sofridos, algumas rápidas considerações.

Há uma diferença entre intenções e ações. Prometer futebol de ataque não significa que ele vai, de facto, aparecer. Um 3-0 nem sempre significa o que parece significar. Jogando com três centrais num grupo em que Portugal é imensamente favorito, convém que pelo menos um deles tenha vontade de sair a jogar. Cristiano Ronaldo e João Félix são incríveis jogadores, mas não ligam. As férias só começam na noite de terça-feira.

Portugal venceu a Bósnia, continua com um score perfeito nesta fase de qualificação para o Euro 2024, sem sequer um golo sofrido, mas o jogo com a seleção balcânica pareceu, em boa parte do tempo, um inconveniente amigável de final de época, com Portugal a desenhar um futebol arrastado e previsível que a boa organização defensiva dos bósnios soube secar, tapando com mestria o corredor central.

Só na última metade da 2.ª parte, após a saída de Félix, a entrada de Rúben Neves e a subida de campo de Bruno Fernandes, é que Portugal foi, de facto, o Portugal que se espera com este grupo de jogadores, mais versátil, consequente, marcando aos 77’ e já nos descontos, dando aos números um volume talvez exagerado e que não deve maquilhar as dificuldades da 1.ª parte.

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Com grandes dificuldades em encontrar caminhos para a baliza e vários jogadores em claro défice de forma neste final de época - João Félix e João Cancelo, à cabeça -, Portugal viu a Bósnia ter, até, as primeiras oportunidades do jogo: Barasic, aos 22’, quase enganava Diogo Costa com um cruzamento travestido de remate, e Dzeko, aos 29’, falhou aquilo que não esperávamos que falhasse, sozinho, na área, num claro sinal daquilo que a equipa queria fazer: fechar linhas de passe e tentar ataques rápidos, surpreendendo Portugal.

O primeiro golo da seleção nacional, já com o relógio a fazer cócegas ao intervalo, apareceu numa rara jogada de envolvimento coletivo na frente, com Cristiano Ronaldo, bem, a baixar e a servir de pivô, deixando para a entrada de Bruno Fernandes que depois isolou Bernardo Silva. O jogador do City, com a classe do costume, picou a bola por cima do guarda-redes bósnio. A vantagem era bem-vinda, mas a 1.ª parte fazia recordar alguns dos momentos mais monótonos de Portugal dos últimos anos.

Depois do intervalo, a Bósnia entrou a pressionar Portugal e o jogo entrou num registo feio, atrapalhado de parte a parte. A entrada de Rúben Neves para a vez de Félix, errático e sem ligação ao jogo, soou a cautela de Roberto Martínez, mas a subida de Bruno Fernandes para terrenos mais adiantados seria essencial para a melhoria de Portugal nos últimos minutos: aos 77’, é da cabeça do médio do Man. United que sai o remate para o 2-0, após cruzamento tenso de Rúben Neves, numa jogada em que Cristiano Ronaldo teve o mérito de arrastar uns quantos adversários consigo, abrindo todo o espaço para Bruno.

MIGUEL A. LOPES

Aos 88’, mais uma vez Neves na jogada, a dar para Cristiano que, altruísta, deu a bola a um bem colocado Diogo Jota, displicente na hora de rematar. O 3-0 apareceria já nos descontos, um belo remate à entrada da área de Bruno Fernandes, com a parte de fora do pé, assumindo-se assim o médio como a grande figura da vitória portuguesa, com Cristiano Ronaldo também em bom plano no jogo número 199 com a seleção nacional.

A falta de tropeções de Portugal para já nesta fase de qualificação deixa a presença no Euro bem encaminhada, mas Martínez terá ilações para tirar destes três jogos: será Félix compatível com Ronaldo? Onde colocar Rafael Leão nesta equipa, ele que nem sequer entrou? Não poderá Portugal arriscar mais na saída dos centrais? Terça-feira, na Islândia, no possível jogo 200 de Ronaldo, não é má altura para testar outras soluções. Para Martínez ir de férias mais descansado.

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