Chico Conceição e Diogo Costa evitam a tempestade para o FC Porto em Guimarães
HUGO DELGADO/Lusa
Um golo e uma assistência do canhoto deram a volta ao jogo contra o Vitória (2-1). A equipa de Pacheco aplicou um vendaval de futebol ofensivo no primeiro tempo, provocando a ira de Sérgio Conceição, mas Diogo Costa foi herói e o FC Porto fica a aguardar o resultado do dérbi
Talvez nada retrate melhor o primeiro tempo do FC Porto do que a imagem de Sérgio Conceição mostrada pela realização televisiva pouco antes do 1-1. Na linha lateral, o técnico parecia pronto para entrar em campo, pegar nos seus 11 homens e trocá-los por outros 11. Fosse o Vitória-FC Porto um livro de banda-desenhada e da cabeça do treinador sairiam bolas de fumo e sinais que representassem o vernáculo que a boca lançava.
Poucas vezes se viu o treinador tão descontente como na primeira parte em Guimarães. Naquele momento, o Vitória levava 10 remates efetuados, oito deles dentro da área, contra um dos dragões. Diogo Costa já fizera cinco defesas e os homens mais adiantados dos visitantes eram de uma passividade — ofensiva e defensiva — brutal.
Um dos alvos dos gritos de Sérgio era Francisco Conceição, que parecia perdido entre o vendaval de camisolas brancas. As defesas de Diogo Costa faziam de bóia de salvação para os dragões. Como a chuva que não parava de cair, os ataques dos locais chegavam em abundância, precipitando-se para cima dos azuis e brancos, que não os conseguiam detetar nem evitar.
O guardião dos visitantes deu-lhes tempo, margem para se manterem à tona de água. E, solidário com o esforço de outro produto do Olival, Chico juntou-se à causa para levar o FC Porto a sobreviver à tempestade.
Primeiro foi uma assistência para Zaidu, um cruzamento com GPS incorporado, semelhante ao que fizera a meio da semana, contra o Antuérpia. Depois foi um lance com marca registada, uma arrancada à Francisco Conceição. Meia-direita, condução de bola pegada ao pé, puxar para dentro, remate ao poste mais distante, golo.
Se usássemos um qualquer programa informático para tirar nitidez à face de Chico e lhe apagássemos, também, o nome da camisola, continuaríamos a perceber que o golo fora do canhoto que veste a 10 do FC Porto. A obra foi pessoal, o triunfo foi coletivo. 2-1 e tempestade esquivada.
MIGUEL RIOPA/Getty
Desde 2015/16 que a equipa de Guimarães não vence a do Porto em casa. Na altura, o técnico do Vitória era Sérgio Conceição, que fala do clube do D.Afonso Henriques sempre com respeito e admiração, como se aquele gente partilhasse muita da sua visão de ver o futebol.
Evanilson, aos 5’, até foi o primeiro a criar perigo, obrigando Varela a boa defesa, mas foi uma exceção na constante que foram as ofensivas sucessivas dos vimaranenses. A primeira parte foi de clara superioridade local, refletindo os números finais, também, esse ascendente. 14 tiros dos da casa, 9 dos forasteiros, duas defesas feitas por Bruno Varela, sete por Diogo Costa.
Aos 17’, após cruzamento da direita, João Mário desviou a bola com o braço e deu um penálti para o Vitória. André Silva ainda viu Diogo Costa, o especialista em castigos máximos, defender um primeiro disparo, mas marcou na recarga, apesar de o dono da baliza da seleção ainda ter esboçado uma segunda parada que seria digna de Benji Price. Nos 20 minutos seguintes, o melhor que aconteceu ao FC Porto foi mesmo estar a perder só pela margem mínima.
Os vice-campeões nacionais eram frágeis na defesa da profundidade, deixando que Jota se isolasse, e na resposta a cruzamentos, com Maga e Mangas escapando à marcação. Com Taremi no banco, o 4-3-3 de Sérgio Conceição estava cheio de buracos. Jota Silva, André Silva ou Mangas ameaçaram o 2-0, mas encontraram-se, uma e outra vez, com o muro de Diogo Costa.
MIGUEL RIOPA/Getty
Mas o futebol é belo porque não tem lógica, porque prognósticos só no fim do jogo, porque não se sabe o que acontecerá até acontecer e mais mil e umas expressões do eterno reino das frases feitas. Zaidu estava a ter um primeiro tempo de pesadelo. Não se sabia se estava lesionado ou, somente, totalmente desastrado, mas o nigeriano era uma das faces do desastre. Pois bem, veio do lateral o 1-1.
No segundo dos dois remates à baliza feitos pelos azuis e brancos até ao descanso, Zaidu respondeu da melhor forma a um cruzamento de Chico Conceição para empatar. A igualdade era escasso prémio para a superioridade do Vitória e pena reduzida para a falta de acerto do FC Porto, mas a cara de Sérgio Conceição a ir para os balneários evidenciava que muito teria de mudar.
Ainda nem 10 minutos estavam decorridos na segunda parte quando entraram Galeno e Taremi, saindo Zaidu e André Franco. O iraniano entrou com uma folha na mão, dando-a a Eustáquio, que a leu como se de um mapa do tesouro se tratasse. Conhecimento do plano obtido, guardou o segredo na meia, não fosse parar a mãos alheias.
O 1-1 de Zaidu
MIGUEL RIOPA/Getty
O FC Porto nunca foi propriamente dono e senhor do duelo no Minho. Mesmo quando o Vitória já não era uma avalanche ofensiva, a equipa de Álvaro Pacheco propunha um jogo disputado num campo de minas, cheio de truques e perigos que evitar, nunca levando o adversário a sentir conforto.
Diogo Costa ganhou tempo para o FC Porto se manter no jogo, para a equipa lamber feridas enquanto a ira de Sérgio Conceição viajava do banco para o relvado. Francisco Conceição ganhou o jogo para o FC Porto, uma união do Olival contra o dilúvio.
Aos 59', veio o tal lance de marca registada do canhoto. Mau alívio de Tomás Ribeiro, condução para dentro, três pontos.
Ainda faltavam mais de 30 minutos, mas o Vitória já não apresentava a mesma clarividência para tentar o golo. Dani Silva ainda voltou a testar Diogo Costa, mas o guardião respondeu à altura. Pepe saiu lesionado, colocando uma incógnita para a lista da seleção, Galeno e Pepê desperdiçaram, nos instantes finais, alguns lances em transição.
Voltar a perder pontos, após o desastre contra o Estoril, seria um pesadelo para Sérgio Conceição. Diogo Costa e Chico Conceição resgataram a equipa, deixando-a a assistir ao dérbi de Lisboa de cadeirão.