Depois de uma hora em que enviou três bolas aos ferros e falhou mais umas quantas oportunidades douradas, o Sporting sofreu pelo recém-entrado Abel Ruiz e a partir daí nunca mais se encontrou. O SC Braga está na final da Taça da Liga após vencer por 1-0, esperando agora por Benfica ou Estoril
Diz aquele cliché gostoso da bola sobre determinados duelos que foi jogo que teve duas partes distintas, não sabendo quem o lança que, sim, o jogo tem sempre duas partes distintas, a 1.ª e a 2.ª. Mas o SC Braga - Sporting, tendo duas partes distintas, como todos, foi para lá disso: pareceu às tantas que eram dois jogos completamente diferentes. Um até aos 60 minutos, de domínio do Sporting, de jogo fluído, fosse em ataque apoiado ou nas transições, faltando apenas esse bem primordial no futebol que é o golo. Golo que apareceu mas na baliza contrária, aos 65 minutos, lance que viraria a história da partida de pernas para o ar, como se além de um golo o Sporting tivesse recebido um murro bem em cheio do nariz, daqueles que desorientam e quase humilham, depois de todo um esforço desperdiçado.
Antes desse golo do recém-entrado Alan Ruiz, um glorioso remate de cabeça após cruzamento não menos impressionante de Zalazar, ainda assim perante defesa leonina algo anestesiada, o Sporting foi o Sporting das últimas semanas, de cadência atacante permanente, apenas com Gyokeres algo escondido, algo que já tinha acontecido no jogo do campeonato - talvez o SC Braga tenha o antídoto. Sem demais contribuição do sueco, muito marcado, era o lado esquerdo do Sporting e as ligações Pote-Trincão-Nuno Santos que iam encontrando os espaços que a linha de cinco do SC Braga ia dando à entrada da área - Vítor Carvalho era mais uma central a defender, ocupando-se de secar Edwards, tarefa que cumpriu com galhardia, mas destapando a equipa em outros terrenos.
PAULO CUNHA
Depois de 10 minutos iniciais de jogo mal-apessoado, descoordenado de parte a parte, o Sporting acertou o passo, logo após Pote atirar ao poste desde Lisboa. Com espaço pelo meio, Nuno Santos ia depositando passes atrasados que resultavam em perigo, Tricão ia marcando aos 23’, mas Matheus estava atento e após a meia-hora foi o próprio quase-prémio-Puskas a atirar de meia distância, num lance que Matheus defendeu por artes esotéricas, com a bola a resvalar até ao ferro.
Era o ferro número 2, não ficaria por aí o Sporting, que para lá daquele lado esquerdo ainda contava com as incursões de Eduardo Quaresma pelo outro lado, central feito médio desbravador. Num dos lances, o menino ainda cravou uma roleta a um jogador do SC Braga antes de ultrapassar mais uns quantos e rematar bem próximo do poste, lance Zinedine Zidane aprovaria, perdoem as comparações inusitadas.
O ferro número 3 foi feito de mais uma candidatura de Nuno Santos ao Puskas, deve ter ficado tão danado por aquele golo de letra não ter chegado este ano que agora tentou uma suave trivela, que foi como que por inércia beijar o poste, mais um.
PAULO CUNHA
Gyokeres apareceu finalmente naquelas correrias desenfreadas já na 2.ª parte, aos 54’ quase marcada depois de uma transição eficaz do Sporting, três-quatro toques pela esquerda e o sueco a falhar aquilo que raramente esbanja e poucos minutos depois foi Pote a irromper pelo meio, a combinar com Trincão e a rematar bem junto ao poste, novamente o poste.
E foi então que apareceu o golo do SC Braga e um jogo que era um jogo passou a ser um jogo completamente diferente, o Sporting perdeu-se e as entradas de Paulinho e Matheus Reis não foram grande ajuda para uma equipa que deixou de conseguir ligar jogo, discernir. O golo, aliás, passou a estar sempre mais próximo da baliza de Franco Israel, que primeiro comprometeu, ao colocar a bola nos pés de Zalazar, e depois salvou, com uma dupla intervenção, à guarda-redes de andebol, à entrada do último quarto de hora. Daí para a frente, o Sporting descaracterizou-se, voltando as bolas bombeadas para a área que tornou tão feio o jogo leonino na última época, sem soluções para o baque emocional que foi não ter aproveitado para golear quando para isso teve oportunidades.
O SC Braga, numa das piores fases da época, teve Artur Jorge a mexer bem no banco e soube ser o adulto na sala quando o jogo se descontrolou. Vencer a Taça da Liga pode salvar a época e os minhotos sabem disso. No sábado, a final é com Benfica ou Estoril.