Crónica de Jogo

Portugal derreteu quem está tão habituado ao gelo

Portugal derreteu quem está tão habituado ao gelo
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Depois da qualificação perfeita, Portugal começou a preparação para o Europeu com uma vitória frente à Suécia (5-2). Jota Silva estreou-se com a camisola da seleção e até esteve perto de marcar no Estádio D. Afonso Henriques. Quem não vacilou foi Gyökeres, avançado do Sporting com quem os nórdicos contam para melhorar as muitas fragilidades da equipa

O ambiente em Guimarães, como quase sempre acontece, foi quente. Os suecos, povo habituado a ter poucos dígitos no termómetro, não se deu bem a tentar colocar água na fervura. Melhores do que a lidarem com o calor, os nórdicos são engenhosos na bricolagem ou então este é só o perpetuar de um estereótipo criado pela multinacional especializada na matéria com origem naquela zona do globo. Na tentativa de montar uma oposição eficaz a Portugal, faltaram alguns parafusos para manter erguida uma estante onde a seleção nacional fez repousar o compêndio das instruções sobre como manietar um jogo. Como cantam os ABBA: “Mamma Mia.”

Roberto Martínez desenhou uma equipa-protótipo, um produto que, apesar da aparência perfeita, não se sabia se funcionava. Nuno Mendes foi uma das peças introduzidas na maquinaria. Afinal, por ter estado a contas com uma grave lesão, o lateral do Paris Saint-Germain realizou, contra a Suécia, apenas o seu segundo jogo desde que o espanhol assumiu o cargo de selecionador nacional. O defesa formado no Sporting foi propositadamente retraído nas cavalgadas para, em organização ofensiva, sustentar os riscos que, no mesmo corredor, Rafael Leão corria em lances de um contra um.

No espaço à largura, o extremo do AC Milan carregou Portugal para o ataque com diagonais perigosas. Como a lógica é algo em que o futebol é poupado, foi de um lance vindo da direita que Bernardo Silva acertou no poste. O ferro foi justo com Leão e deixou o ressalto nos pés do jogador em maior evidência para que este fizesse o primeiro golo do encontro.

A Suécia estreou em Guimarães o selecionador dinamarquês Jon Dahl Tomasson que não fugiu à estrutura que a equipa tradicionalmente utiliza. Gyökeres foi o homem mais adiantado com Isak, jogador do Newcastle, a vagabundear nas suas costas. Nem por isso o ponta de lança do Sporting teve o mesmo sucesso que vem mostrando no clube de Alvalade. Bem guardado por Pepe, por Rúben Dias e, quando necessário, por Palhinha, o avançado foi um daqueles foguetões que não chega a entrar em órbita porque tem um problema na descolagem. No entanto, o Gyökerismo, essa religião que profetiza, está vivo e graças a isso lucram os vendedores dos cachecóis com o nome do internacional sueco que apareceram emoldurados no Estádio D. Afonso Henriques.

No geral, Portugal, mesmo sem Cristiano Ronaldo, João Cancelo ou João Félix, derreteu os nórdicos, tão habituados ao gelo. Apesar de Leão abrir sobre a esquerda, o povoamento do espaço central estava garantido por um altruísta Gonçalo Ramos e Bernardo Silva. A dupla de médios interiores, Bruno Fernandes e Matheus Nunes, também se estabeleceu no último terço. Se tal infiltração não se verificasse, dificilmente tinham sido os autores dos dois golos que davam uma vantagem de 3-0 ao intervalo.

A diferença no resultado pouca influência teve no que Roberto Martínez fez na segunda parte. Esperava-se que Jota Silva, Francisco Conceição e Dany Mota pudessem somar a primeira internacionalização, mas os primeiros a serem lançados foram Bruma, António Silva e Toti Gomes. Um remate de Cajuste aqui, outro de Kulusevski ali foi o melhor que a Suécia conseguia produzir, mais por força dos erros portugueses do que por mérito. Bruno Fernandes é que não perdoava perante as facilidades e, diante do guarda-redes Robin Olsen, foi só escolher entre Gonçalo Ramos e Bruma. Acabou por entregar o quarto golo ao jogador do Sp. Braga.

Nélson Semedo continuava a ser o lateral mais projetado e encarregou-se ele próprio de garantir que Gonçalo Ramos não ficava com ciúmes e também deixava bola redonda na baliza. Pelo meio, o inevitável aconteceu: Gyökeres reduziu para a Suécia.

Dos potenciais estreantes, Jota Silva foi aquele que teve mais sorte, indo a jogo perante o público vimaranense. Já com João Neves e João Mário também em campo, o jogador do Vitória SC teve uma boa hipótese para marcar, mas permitiu a defesa a Olsen. Quem acabou por fechar as contas foi Gustaf Nilsson, jogador que rendeu Gyökeres.

Depois da qualificação perfeita para o Europeu, Portugal arranca a preparação com um resultado positivo, embora com dificuldades para manter a baliza a zero. Turquia e Chéquia, adversários que Portugal já sabe que vai defrontar na fase final, podem esperar um adversário que se multiplica em soluções. Para já, no caminho da seleção, segue-se a Eslovénia, na próxima terça-feira.

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