Crónica de Jogo

À 12.ª contagem de votos, a seleção de Roberto Martínez foi finalmente derrotada

À 12.ª contagem de votos, a seleção de Roberto Martínez foi finalmente derrotada
Jurij Kodrun/Getty

Depois de 11 vitorias seguidas, Portugal foi batido (2-0) na Eslovénia, deixando de ter um registo feito só de triunfos com o técnico espanhol. Numa exibição muito cinzenta, a seleção demorou 79 minutos para fazer um remate enquadrado com a baliza adversária

À 12.ª contagem de votos, a seleção de Roberto Martínez foi finalmente derrotada

Pedro Barata

Jornalista

Lá se foi o registo perfeito. Lá se foi a ideia de chegar ao Europeu com 15 vitórias consecutivas, de olhar a recordes, de navegar em águas tranquilas rumo à Alemanha. Contra a Eslovénia, adversário inédito para Portugal, o 2-0 foi o castigo para uma exibição apática e triste, sem revolta nem chama, quase parecendo aceitar pacificamente o desaire.

Enquanto o país discutia eleições e votações, acordos e desacordos, a seleção foi escrutinada pela 12.º vez com Roberto Martínez e, pela primeira vez, não venceu. Enquanto se miravam para os corredores da Assembleia da República e se procuravam reações de protagonistas, a equipa nacional submeteu-se a votação pelo 12.º encontro com o treinador espanhol e, pela primeira ocasião, perdeu.

Juntando Danilo Pereira, Rúben Neves, Otávio ou Vitinha no onze, com João Félix ou Cristiano Ronaldo na frente, Portugal foi uma equipa de escassa profundidade ofensiva e raras aproximações com perigo à baliza de Oblak, o gigante que só foi testado quando Gnezda Cerin já abrira o marcador, aos 72'.

Aos 79', Vitinha assinou o primeiro remate enquadrado com o alvo, um minuto antes de Max Elsnik firmar o 2-0 final. Já com o resultado feito, Ronaldo obrigou o antigo guardião do Benfica à segunda e última defesa que fez em toda a noite, constatação numérica da falta de fluidez atacante da equipa visitante. Lá se foi o registo sem tristezas: o adeus à perfeição foi provocado pela abstenção de bom futebol.

Soccrates Images/Getty

Um lance exemplificou a fraca qualidade que, desde o começo, se viu em Ljubljana. Aos 30', Portugal, sem soluções para avançar em campo, foi levando a bola para trás, até um chutão de Diogo Costa que foi parar a pés eslovenos. Os visitados colocaram Janza em posição de cruzamento, mas o gesto técnico do lateral quase colocou a bola fora do estádio.

Sem forma de progredir, presa num meio-campo sem dinâmica nem transporta de bola, amarrada a um ataque sem largura, Portugal não ameaçava Oblak. Na melhor jogada nacional da etapa inicial, Cancelo, o lateral-vagabundo, foi da esquerda para a direita para combinar com Dalot, acabando a servir João Félix, que rematou sem direção.

Ao descanso, as estatísticas contavam uma história sem balizas, um relato de uma noite de escassa emoção, entalada entre a cabeça que pensa nas decisões das épocas de clubes e mira já para o Europeu da Alemanha: três remates para a Eslovénia, um para Portugal, nenhum deles enquadrado com a baliza rival. Talvez os protagonistas dentro do relvado devessem olhar para a ousadia de Tadej Pogacar, o fenómeno do ciclismo vindo da Eslovénia, e utilizar algum desse arrojo e espírito ofensivo.

Para a segunda parte, Martínez lançou António Silva e Francisco Conceição. O extremo canhoto seguiu, assim, as pisadas do pai, no sexto par de ascendente e descendente que vestiram a camisola nacional.

Não obstante, foi o outro nome a entrar a errar. António Silva perdeu a bola para Sesko, que só não abriu o marcador porque Diogo Costa fez uma bela defesa.

Sem chegar, nunca, a níveis Pogacarianos, a última meia-hora teve mais emoção. Cristiano Ronaldo passou boa parte do encontro de braços abertos, gesticulando com o árbitro, os companheiros e os adversário, desligado do jogo e das jogadas, mas aos 60' roubou a bola e deu em Francisco Conceição, que solicitou Vitinha. O lance terminou com um remate ao lado do madeirense.

Portugal nunca esteve verdadeiramente por cima e, na reta final, vieram os golos da derrota. Aos 72', num desenho ofensivo de qualidade que aproveitou a apatia defensiva nacional, Cerin fez o 1-0. À 12.ª partida, foi a primeira vez que a equipa de Martínez estava atrás no marcador, insinuando-se já a derrota eleitoral. Na resposta, João Félix atirou ao poste, mas a noite eslovena não era para Portugal, que sofreu o 2-0 aos 80'.

Aos 93', com o resultado já feito, uma bola sobrou para Cristiano Ronaldo, que vinha claramente de fora de jogo. Ainda assim, o capitão recebeu a bola e rematou-o para a baliza, num último gesto de descontentamento e frustração. Foi como o assinar da derrota nas urnas do relvado.

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