Crónica de Jogo

A velha Croácia expõe os problemas de Portugal

A velha Croácia expõe os problemas de Portugal
RODRIGO ANTUNES/Lusa

No regresso da seleção ao Jamor, a equipa de Martínez foi derrotada (2-1) no penúltimo jogo amigável antes do Euro 2024. A qualidade de Modric e companhia foi um problema para uma equipa que juntou poucos recursos ofensivos à fragilidade defensiva

A velha Croácia expõe os problemas de Portugal

Pedro Barata

Jornalista

Da qualificação perfeita para a preparação imperfeita. Do 2023 só com vitórias, 10 triunfos em 10 jogos, 36 golos marcados e dois sofridos, para o 2024 das dúvidas e fragilidades, das interrogações e hesitações, do hábito em encaixar duas vezes por desafio.

Na receção à Croácia, no penúltimo amigável antes do Euro 2024, Portugal perdeu (2-1). Foi a segunda derrota nos últimos três jogos, depois da registada na Eslovénia, e a quarta partida seguida em que a equipa nacional sofreu dois golos.

Do apuramento que provocou delírio para os particulares que geram apreensão. Apreensão pelo mau hábito de sofrer golos, com oito concedidos nos derradeiros quatro compromissos, apreensão por, desta feita, nem o ataque ter salvado Portugal.

O jogo ofensivo foi previsível, denotando, até, incompatibilidades: muita gente de bola no pé de início (Bernardo, Bruno, Vitinha, Félix) e poucos movimentos no espaço, criativos que vinham para dentro (Bernardo, Félix) e laterais que não conseguiam acrescentar quando recebiam abertos (Dalot e Nuno Mendes). Frente à Croácia, a equipa imutável, o bloco liderado por Modric que há tantos anos aposta nos mesmos e no mesmo jogar paciente e técnico, escondendo a bola, Portugal teve o mais forte opositor da era Roberto Martínez. E a pior exibição.

O regresso ao Jamor foi anunciado simultaneamente com o plano para renovar o Estádio Nacional. Mas, tal como o velinho estádio precisa de obras e melhorias, também esta seleção está a precisar de retoques rumo à Alemanha. A tarde começou mal, logo com o golo de penálti de Modric aos 8', e nunca se endireitaria.

Gualter Fatia/Getty

Depois do madrugador 1-0, Portugal passou por largos minutos de dificuldades. Sem as assimetrias e nuances estruturais da maioria das partidas da era Roberto Martínez, a equipa da casa tinha Bernardo Silva e João Félix vindo para dentro e entregava as alas a Diogo Dalot e Nuno Mendes.

Com uma circulação pouco agressiva, o primeiro tempo passou sem que Livakovic, o guarda-redes do Fenerbahçe que tinha José Mourinho como espectador muito atento na bancada, fizesse qualquer defesa. Gonçalo Ramos e Bruno Fernandes ameaçaram timidamente, num contraste com as diversas oportunidades que os medalhados de bronze do último Mundial foram desperdiçando.

Com o seu meio-campo eterno, composto por Brozovic, Kovacic e Modric, velhos caminhantes que entre si somam 372 internacionalizações, a Croácia conseguiu, em certos momentos, aplicar uma fórmula única no mundo: jogar uma espécie de futebol andante, de circulação precisa e pausada entre os seus centrocampistas, escondendo a bola, levando o encontro para uma dimensão difícil de contrariar, uma receita que valeu um segundo e um terceiro lugares nos dois últimos Mundiais. O craque supremo desta equipa, Modric, mereceu uma ovação do Jamor quando, já no segundo tempo, foi substituído.

Luka, Majer e Gvardiol, este último por três vezes, estiveram perto do 2-0. Em cima do intervalo, a Croácia dispôs da melhor chance das que dispôs no primeiro tempo, com Kramaric, dentro da área, a rematar para uma bela defesa de Diogo Costa. O guardião acabaria por fazer várias intervenções que impediram um desaire mais duro.

Os alarmes soaram no relvado, nas bancadas e no banco, com Bob a mudar quatro jogadores para a etapa complementar. Saíram Diogo Dalot, Nuno Mendes, Gonçalo Ramos e João Félix e entraram Nélson Semedo, João Cancelo, Diogo Jota e Rafael Leão.

Modric faz o 1-0 de penálti
Diogo Cardoso/Getty

As trocas tiveram efeito imediato. Logo aos 48', Bernardo Silva deu para a corrida de Nélson Semedo, que serviu Diogo Jota para o empate.

Não obstante, a igualdade só durou seis minutos, ainda menos do que os oito que distaram entre o apito inicial e o 1-0. Pasalic, recém, entrado do lado visitante, disparou forte à entrada da área, com Diogo Costa a desviar a bola para a barra. Budimir, atento, pescou o ressalto para fazer o 2-1.

Portugal reagiu com o seu período mais entusiasmante no jogo. Cancelo, Bernardo Silva, Vitinha e Bruno Fernandes estiveram, no espaço de cinco minutos entre os 64' e os 69', perto do 2-2. Mas o golo não surgiu e, até final, só por uma vez Livakovic foi chamado a intervir.

Já no banco, Modric e Kovacic conversavam, sorriam, abraçavam-se. Pareciam dois velhos companheiros, dois homens que, separados por nove anos de diferença (Modric nasceu em 1985 e Kovacic em 1994), nos soam a companheiros de geração graças aos milagres de fintar o tempo que Luka, eterno, faz. Eram a expressão das virtudes da velha Croácia, sempre pronta para voltar a competir.

Para Portugal, as dúvidas acentuam-se. Vem aí o último amigável, no dia 11, contra a República da Irlanda, em Aveiro. Depois, a 18 de junho (20h00, SIC), chega a estreia no Euro, contra a Chéquia. A há muito necessária renovação do Jamor irá demorar, mas Roberto Martínez tem pressa para realizar as obras de melhoria da seleção.

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