Crónica de Jogo

Nem foi preciso um grande Sporting de Braga para castigar a falta de energia e a escassez de ideias do Benfica

Nem foi preciso um grande Sporting de Braga para castigar a falta de energia e a escassez de ideias do Benfica
Carlos Rodrigues

A equipa de Carvalhal impôs a segunda derrota seguida à de Lage, com um 2-1 que se tornou somente na quarta vitória dos minhotos no terreno do Benfica em 69 visitas para o campeonato. Uma péssima primeira parte colocou as águias em desvantagem por dois golos, não chegando a reação no segundo tempo para esconder as limitações dos lisboetas

Nem foi preciso um grande Sporting de Braga para castigar a falta de energia e a escassez de ideias do Benfica

Pedro Barata

Jornalista

Um lance sintetiza boa parte da exibição do Benfica contra o Sporting de Braga. Aos 40', quando as águias já perdiam por 1-0, os minhotos dispuseram de um canto na esquerda. Tudo convidava à precaução, ao despertar dos alertas: a desvantagem no marcador, a bola colocada na zona mais previsível, o coração da área, em busca do alvo mais previsível, o central Robson Bambu, o homem mais forte da equipa de Carvalhal na bola aérea.

Nada naquele cruzamento apelou à ilusão, convidou ao engano. Foi tudo às claras, transparente. E, mesmo assim, Robson Bambu, um homem de 1,85 metros que não passa propriamente sem ser notado, elevou-se sem oposição diante de Trubin. Não havia urgência no Benfica, não havia energia, só apatia, adormecimento.

Talvez o sono tenha começado na primeira parte de Alvalade e chegado ao primeiro tempo da Luz. Seja como for, o 2-0 era uma montanha que os lisboetas não conseguiram escalar. A reação no segundo tempo, apressada e baseada no coração e não alicerçada na cabeça, não chegou para mais do que maquilhar a derrota, a segunda seguida.

Pela quarta vez em 69 deslocações ao terreno do Benfica no campeonato, os bracarenses saíram vencedores. Mas a vitória nem assentou, para o Sporting de Braga, numa grande exibição, numa epopeia, numa tarde de grande acerto na Luz. Foi mais o mérito de explorar as fragilidades do adversário, de sentir a debilidade, de surfar em cima de uma primeira parte com pouca energia e de uma segunda com escassa criatividade.

Se não houve alertas na equipa antes daquele canto, já há alarmes soando nas bancadas. Os avisos surgem pela forma dos assobios, que foram sendo dedicados a uma equipa que parece confusa: pouco pressionante, pouco lúcida. Frágil. Os duelos contra Viória, Bologna ou AFS, antes do Natal, foram sintomas, estas derrotas talvez confirmem a quebra.

FILIPE AMORIM

Apesar da primeira parte de pesadelo, o Benfica até entrou melhor, criando uma excelente oportunidade logo aos 8’. Bah abriu em Pavlidis, que aproveitou uma saída a destempo para ficar com a baliza à mercê. No entanto, já sem muito ângulo, o grego não acertou com o alvo. O ex-AZ Alkmaar, que só marcou uma vez nas últimas oito partidas da I Liga, voltou a sair de um encontro em branco, sendo substituído aos 67’, cabisbaixo, entre alguns apupos dos adeptos.

Carvalhal, pressionado pela má série recente do Sporting de Braga — apenas um triunfo nos cinco duelos antes desta visita —, montou uma equipa apostada em explorar a falta de agressividade na pressão do Benfica. Frente a Bruno Lage, seu antigo adjunto, o treinador dos minhotos viu recompensada a fé num reforço de inverno recém-chegado.

Fran Navarro viveu meses de apagão no FC Porto. Não atuava na I Liga desde agosto, mas só precisou de 17 minutos e de tocar oito vezes na bola pelo seu novo clube para, no primeiro disparo pelos bracarenses, se estrear a marcar. O passe de Victor Gómez aproveitou a descoordenação da linha defensiva dos da casa, a finalização de Navarro foi de especialista nas movimentações na área.

Estar em desvantagem transformou o fim de tarde num pesadelo para o Benfica. O público assobiava, a equipa acumulava maus passes. Faltavam ideias e criatividade, o ambiente era de hesitação e dúvida. O meio-campo, com Kökçü mais recuado e Barreiro e Aursnes como interiores, foi uma experiência que durou 45’. Depois do lance de Pavlidis logo a começar, só em cima de intervalo, num mau cabeceamento de Otamendi, voltariam as águias a criar uma verdadeira ocasião de golo.

Cada perda de bola do Benfica era uma oportunidade para um dos maiores talentos que o futebol português produziu no século XXI mostrar a sua qualidade. Bruma não teve, nem terá, uma carreira condizente com as extraordinárias capacidades existentes dentro de si, mas, aos 30 anos, é um regalo vê-lo em ação neste SC Braga. Conduz, pensa, dribla, desequilibra.

JOSE SENA GOULAO

Eficazes, os minhotos dobraram a vantagem ao segundo remate à baliza. Na verdade, fizeram apenas dois tiros enquadrados em todo o desafio. Aos 40’, Bambu aproveitou a apatia dos locais para saltar sem oposição e marcar. O intervalo chegou com o Benfica com muitos problemas para resolver.

Para a segunda parte, Bruno Lage lançou Arthur Cabral, uma presença mais agressiva e física para contrastar com a falta de confiança de Pavlidis. Com mais energia, as águias entraram na etapa complementar a pressionar, ameaçando reduzir por Bah, que atirou para boa defesa de Matheus, e Di María, cuja substituição aos 82’, com 2-1 no marcador, foi um dos pontos de surpresa do jogo.

Do lado do Sporting de Braga, entrou Diego Rodrigues, 19 anos e em estreia absoluta na equipa principal. Mas as trocas que mais surpreenderam foram as de Lage, nomeadamente uma tripla mudança aos 67', lançando o habitual Amdouni, tal como Schjelderup, que teve direito a bem mais minutos do que o normal, e a Renato, que não jogava desde 11 de novembro. Nenhum foi feliz no desfecho do encontro.

Aos 78', Arthur Cabral, numa bela finalização após recuperação de Barreiro, reduziu. Acreditou-se num assalto final do Benfica, mas nada disso. Não houve ideias, não houve criatividade, não existiram recursos para tentar o empate que não passassem pela bola despejada na área.

O Sporting de Braga limitou-se a ir aguentando, sem ter, na verdade, de protagonizar um enorme exercício de resistência. A melhor chance depois do 2-1 até foi dos minhotos, num remate ao lado de Roger. O Benfica foi jogando em repelões, sem fio condutor, como uma máquina com pouco cérebro, um corpo que entrou adormecido e terminou a disparar para todas as direções sem, na verdade, saber para onde atirar.

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