Crónica de Jogo

O novo Benfica mudou a face sem ser (para já) muito diferente do velho Benfica

O novo Benfica mudou a face sem ser (para já) muito diferente do velho Benfica
ANTONIO PEDRO SANTOS

As águias conquistaram a Eusébio Cup, derrotando (3-2) o Fenerbahçe de Mourinho. Com os reforços Dedic, Barrenechea e Ríos de início, Pavlidis e Aktürkoğlu destacaram-se antes de Henrique Araújo marcar o golo do triunfo

O novo Benfica mudou a face sem ser (para já) muito diferente do velho Benfica

Pedro Barata

Jornalista

Vieram pelas novas aquisições, ficaram pelo Seixal. O futebol de julho pode assemelhar-se a um blind date para os adeptos, um encontro às cegas. Disseram-me que este tipo que vem do Brasil tem boa pinta, mas como será ele em pessoa?

Além de blind date, a bola do verão é, também, oportunidade para os mais novos provarem que são merecedores do lugar com que sonham desde que, em muitos casos ainda antes da adolescência, entrarem numa academia. Foi com uma equipa recheada desses miúdos que o Benfica terminou um jogo que começara com expetativas em torno de outros reforços.

Entre Gonçalo Oliveira, Joshua Wynder, Diogo Prioste, Rafael Luís ou João Rego, há já um quase veterano entre os jovens. Henrique Araújo estreou-se pela equipa principal do Benfica em janeiro de 2022 e, mais de três anos e meio depois, ainda não conseguiu estabilizar a carreira. À procura da confiança de Bruno Lage, entrou aos 66' da Eusébio Cup e fez o 3-2 final contra o Fenerbahçe.

No último teste antes da Supertaça, que realizar-se-á a 31 de julho, os encarnados entraram com aparência renovada. Enzo e Ríos no meio-campo fazem crer que este é um coletivo diferente, outra entidade desportiva, sensação agravada pela presença de Obrador ou Dedic nas laterais e de João Veloso, outro produto do Seixal, como titular no meio-campo.

Não obstante, um olhar mais atento nota que parte dos vícios do velho Benfica ainda estão aqui. A tendência para altos e baixos no jogo, característica normal face à época, mas também a falta de criatividade no meio-campo ou alguma permeabilidade defensiva.

O desafio que homenageia e figura maior da história do clube teve uma equipa local bem melhor no primeiro tempo. Aí, o velho Benfica notou-se pela universalidade de Pavlidis, que tanto olha para a baliza como para o jogo, e pela agressividade de Aktürkoğlu, disposto a marcar aos rivais do seu Galatsaray. As referências atacantes da época passada uniram-se para o 1-0, marcado pelo turco, com o grego a estar na génese do 2-0, um auto-golo de Brown.

Dois treinadores setubalenses
ANTONIO PEDRO SANTOS

Não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão e não se pode dizer que o primeiro encontro entre Nicolás Otamendi e Richard Ríos tenha gerado uma amizade. No calor de um encontro entre Argentina e Colômbia, os dois trocaram acusações, entre comentários sobre fitas no cabelo e insinuações quanto a veteranos que, alegadamente, já não correm.

Reunidos no Benfica, o clube aproveitou a contratação do médio para gerar conteúdo, à boa maneira do mercado de transferências de 2025, em que ser viral rivaliza com os golos nas métricas de importância. Feitas as pazes, chegou a outra face da moeda: em cima do intervalo, quando Amrabat fez uma entrada indigna de pré-época sobre Ríos, Otamendi correu para ir tirar satisfações ao adversário, protegendo o companheiro.

Em cima do descanso, Kahveci, após perda de bola dos lisboetas na saída, maquilhou uma má primeira parte dos visitantes e reduziu. Para a segunda parte entraram Samuel Soares, Leandro Santos, Barreiro e Bruma. Também foi lançado, do lado turco, John Duran, atacante que há meses custou uma fortuna ao Al-Nassr, mas que está no Fener por empréstimo. Aos 52', o colombiano protagonizou um lance digno de Mark Landers, com um remate de desenhos animados, que parecia levar uma chama acesa acoplada à bola. Bateu com estrondo no poste.

O Benfica realizava minutos tristes, desconexos. O sol já não brilhara, a temperatura descera, o futebol já não tinha tanto aroma a verão e parecia mais um rotineiro desafio de outono, só que com mais calor. Com os homens de Lage tentando encontrar a sua versão adaptada às trocas, os vice-campeões turcos empataram, fazendo valer a valia dos seus atacantes. Aos 60', En Nesyri, carrasco de Portugal no Catar, fintou o fora de jogo e apontou o 2-2.

Dizem as tradições da bola de pré-época que a parte final dos amigáveis é marcada por um entra e sai a fazer lembrar a escadaria de uma estação de metro. Com 2-2, Lage lançou Obrador, Henrique Araújo, Prioste, Prestianni e Schjelderup, Mourinho também foi realizando trocas, mas a noite foi perdendo um fio lógico. Aos 77', Bruma lesionou-se sozinho a receber uma bola, um bom resumo da felicidade que o tem acompanhado desde que chegou ao clube.

O velho Benfica tinha o eterno Otamendi a ganhar bolas em ambas as áreas. Este também tem. O argentino saltou aos 81' para assistir Henrique Araújo, que surgiu cheio de vontade em viver uma nova vida onde sempre sonhou brilhar. Da união entre reforços e gente do Seixal se fez a noite da Eusébio Cup, a tal Eusébio Cup onde não apareceu João Félix, um possível reforço que é, também, gente do Seixal.

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