Crónica de Jogo

No meio de tantas caras novas, foi o “velho” Pavlidis a dar a Supertaça ao Benfica

No meio de tantas caras novas, foi o “velho” Pavlidis a dar a Supertaça ao Benfica
Gualter Fatia

O Benfica bateu o Sporting por 1-0 no Estádio Algarve, num encontro em que Bruno Lage apostou em vários reforços para o onze titular. Mas no final seria Vangelis Pavlidis a marcar e a empurrar a equipas nos momentos mais difíceis e quando os encarnados carregaram

Ponham Enzo, Richard, Amar, mas a música continua a ser tocada por Vangelis. Num Benfica já com várias caras novas na equipa titular, foi Pavlidis, como tantas vezes na época passada, o fator diferenciador, com os encarnados a conquistarem o primeiro título da época 2025/26, com vitória por 1-0 frente ao Sporting. O grego marcou no início da 2.ª parte, mas mais que isso continua a ser a força motriz, o garante de vontade, a energia e muitas vezes o que resta de criatividade na equipa de Bruno Lage, a expiar alguns dos fantasmas que tinha às costas desde o final da temporada passada - mas ainda com muitas dúvidas no processo ofensivo.

Talvez há muito que uma Supertaça não servia ingredientes tão propensos à indefinição. O Benfica ainda há dias jogava do outro lado do Atlântico um Mundial de Clubes que reduziu a preparação para a nova época a duas míseras semanas. Na ponta oposta, o Sporting de Rui Borges teve tempo de sobra para labutar, mas é uma equipa órfã do seu jogador mais preponderante em décadas, ainda com dúvidas sobre o sistema e vinda de um par de jogos de pré-época pouco galvanizadores. Previa-se, pois, um jogo nervoso nas emoções, morno no futebol.

MIGUEL A. LOPES

Mas a qualidade, longe de ser suprema, não foi tão tíbia assim. A incerteza tem o seu quê de fascinante quando se começa não do zero, mas alguns passos atrás e as duas equipas ainda procuram a sua melhor face. Nesse sentido, terá surpreendido mais o Sporting na 1.ª parte, num 4-2-3-1 pouco fixo e Geny a recuar no momento defensivo. Depois de uma pré-temporada enfadonha, um par de saídas ofensivas bem gizadas, já com traços de entendimento interessante entre os jogadores, deram para assustar o Benfica e soltar algum entusiasmo.

O golo anulado a Pote, aos 7’, terá sido mesmo um dos momentos de maior brilhantismo do Sporting da era Rui Borges: Maxi a ganhar a Dedic e Aursnes no lado direito da defensiva do Benfica e a encontrar Hjulmand no meio, com o capitão a dar na profundidade a Harder, a pender para a esquerda. O cruzamento do dinamarquês foi perfeitinho para a finalização fácil de Pote, mas o grandalhão, a tentar a tarefa impossível de fazer esquecer outro alto e loiro, estava ligeiramente adiantado.

Seria um excelente amuse-bouche se o Sporting tivesse, nos restantes 80 e muitos minutos de jogo, conseguido repetir tão belo croqui. Não aconteceu, mas até ao intervalo o Benfica teve sempre muitas dificuldades em acertar a pressão e o jogo simples a primeiro toque do Sporting, com Pote em destaque a ligar setores, talvez pudesse ter sido mais feliz se lá à frente estivesse outro nórdico.

O golo do Benfica, logo no início da 2.ª parte, colocou gelo nos ímpetos do leão. Depois de uma 1.ª parte desastrada, Richard Ríos, uma das caras novas a saltar já para o onze, com Amar Dedic e Enzo Barrenechea, rodopiou a meio-campo, fazendo depois a bola galgar metros até aos pés de Pavlidis. O grego lançou Dahl e o cruzamento do sueco seria aliviado para zona perigosa por Maxi. A reação dos jogadores do Sporting foi tartaruguesca e, quem mais, estava lá Pavlidis para aproveitar o corte, rematando rasteiro para o golo - a bola ainda tocou num companheiro, mas as mãos de Rui Silva foram demasiado amanteigadas para um remate defensável.

No meio de tanta novidade, era Pavlidis que embalava a resposta do Benfica a uma 1.ª parte pouco acertada, helenicamente líder de uma equipa que resiste a encontrar rotinas.

Eurasia Sport Images

Por falar em resposta, não foi boa a do Sporting ao golo. Pavildis quase marcava novamente, aos 59’, com Rui Silva a redimir-se do erro cometido minutos antes. Só quase 10 minutos depois Rui Borges alteraria peças, lançando o reforço Luis Suárez, Debast e Kochorashvili, mudanças que voltariam a trazer algum alento ao Sporting. Ou, pelo menos, outras soluções. A qualidade na saída de Debast, a capacidade de encontrar linhas de passe do belga, foi já bastante bem recebida por Suárez, que mostrou também já alguns pormenores interessantes e boa comunicação com os recém-companheiros.

Aos 75’, um remate de Trincão testou Trubin, numa fase de mais pressão do Sporting, que dois minutos depois viu Pote acariciar uma bola que merecia outra energia depois de uma excelente combinação entre Hjulmand e Trincão. Pote, ao 82’, ligou bem com Suárez no corredor central, mas o colombiano seria desarmado no momento certo. E quanto a futebol talvez estejamos falados, porque a partir daí o jogo tornou-se quezilento, queixoso, desinteressante, com a mão leve de Fábio Veríssimo para cartões a ajudar pouco a um show desde já pouco exuberante.

O primeiro dérbi do ano poderá ser uma radiografia interessante do que vem por aí. Sporting e Benfica são duas equipas ainda carregadas de dúvidas, com umas quantas incógnitas, gente por chegar e caras novas ainda à procura do melhor encaixe. Há muito por onde evoluir, e isso são as boas notícias. As más é que é possível que durante algum tempo o campeonato seja equilibrado, mas nivelado por baixo. Há vida nova na I Liga, todas as equipas grandes tiveram uma ou outra alteração estrutural. Quem for mais rápido a adaptar-se neste jogo de sobrevivência, com tão pouco tempo de adaptação, poderá sair em vantagem.

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