Crónica de Jogo

Um Bicho mordeu o espicaçado FC Porto

Um Bicho mordeu o espicaçado FC Porto
Diogo Cardoso

Dando seguimento aos bons sinais da pré-época, o FC Porto tornou oficial a sua transfiguração. No primeiro jogo do campeonato, Farioli utilizou sete reforços, mas foram os velhos conhecidos, Samu e Pepê que marcaram em dia de homenagem a Jorge Costa. Rodrigo Mora não saiu do banco contra o Vitória SC (3-0)

Em dias de maior reflexão identitária, pensamos no que queremos para o dia seguinte àquele em que pensamos sobre isso. Nestes tempos em que desejam ser algo apesar de ainda não saberem o quê, os dragões têm a atitude de Jorge Costa para preservar como parte do espólio do clube. Co-autor do “ser FC Porto” deixou escrito nessa obra os princípios gerais que se exigem a quem veste de azul e branco. Na estreia no campeonato, contra o Vitória SC (3-0), a equipa de Farioli foi mordida por um Bicho que lhe transmitiu uma insaciável forma de estar.

O FC Porto foi Jorge Costa quando pressionou impetuosamente os conquistadores. Nos primeiros instantes, já andava Borja Sainz a fazer carrinhos sobre a relva quase junto à área do adversário, atitude que o antigo defesa certamente aplaudiria. Foi Jorge Costa sobretudo por trazer para a nova época uma maneira menos robótica de praticar futebol. Talvez o ChatGPT fosse capaz de pôr os dragões a jogarem como Martín Anselmi gosta, mas não da forma mais criativa como agrada a Francesco Farioli.


Diogo Cardoso

Não se escrutina qualquer problema em que uma equipa com uma caldeirada de novos jogadores e, por isso, em processo de descobrimento se agarre às lendas do passado para nelas se inspirar na desejada renovação do museu, com carências ao nível dos novos troféus. Logo nesta fase em que todos os sonhos, por mais loucura que possam ter na sua constituição, parecem possíveis, o FC Porto conseguiu um arranque aliciante ainda que frente a um pouco fiável Vitória SC. Se estivéssemos na última jornada do campeonato, diríamos que os minhotos estavam a tentar praticar um futebol acima das capacidades, mas, dado o crepúsculo em que vai a liga e o passado recente do clube, a evolução merece continuar a ser seguida.

Era suposto os reforços andarem às apalpadelas na nova casa. Pelo menos, seria esse o procedimento normal. No entanto, Victor Froholdt parece já ter dado provas de fugir ao padrão na trituradora que Farioli montou na dupla de médios interiores, da qual também faz parte Gabri Veiga. Conectado a tal protagonismo está o posicionamento à largura de Pepê e Borja Sainz. No fundo, o treinador italiano parece já ter encontrado o lugar certo para cada peça sem que nenhuma pise a outra.

A começar a quinta época no FC Porto, Pepê parece um artigo vintage, que em tempos teve valor, chegou a parecer antiquado, mas, mais tarde, acabou por recuperar o encanto. Em campo aberto, picou sobre Charles e adiantou os dragões.

Diogo Cardoso

Luís Pinto, técnico que se estreou na Primeira Liga não exatamente como um desconhecido, teve o seu momento de praxe. Apesar de ter nove jogadores no onze inicial que faziam parte do plantel da temporada passada (contra seis do FC Porto), em que foi à Europa quebrar recordes, as cabeças não pareciam pensar da mesma forma. Por iniciativa própria, Oumar Camara tentava gestos técnicos ineficazes. Lidava bem Alberto Costa, o menino formado no Vitória SC que hoje é do usufruto do FC Porto, com o jovem francês de 18 anos para o qual o Paris Saint-Germain não conseguiu arranjar lugar no balneário da equipa principal.

As armadilhas colocadas na zona central capturaram a posse e, em investidas com propósito, os dragões não precisaram de muita elaboração para abordarem a baliza. Victor Froholdt, um antro de pragmatismo, rematou ao lado na tentativa de quebrar a barreira que separava o FC Porto do segundo golo. Samu também entrou nessa luta contra um obstáculo chamado finalização. A cruzamento de Alberto, o espanhol abriu caminho para uma corrente de ar de conforto no marcador.


ESTELA SILVA

João Mendes começou a desenrolar-se pela esquerda, fazendo companhia a Oumar Camara no ataque do Vitória SC e, num lance esforçado, levou Jan Bednarek a um corte em cima da linha. No entanto, os conquistadores continuavam a cometer equívocos na construção e sem resposta para as variações de flanco do FC Porto que contornavam o bloco defensivo em 4x4x2.

Talvez fosse dispensável a última meia hora de inoperância. As queixas musculares justificaram os ferrugentos acontecimentos. Já depois de Samu bisar, Luuk de Jong estreou-se, elevando para sete o número de reforços utilizados. Rodrigo Mora não somou minutos.

Por cima dos habituais números, os jogadores do FC Porto levaram também o dois de Jorge Costa numa manobra tipográfica que pareceu elevar ao quadrado os algarismos que são o bilhete de identidade dos futebolistas em campo. Os azuis e brancos potenciaram mesmo o rendimento. Agora, a consistência será a chave.


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