Adeus fosso, olá caras novas: o Sporting reinaugura Alvalade com um festival de golos
MIGUEL A. LOPES
Os reforços Suárez e Mangas bisaram, Trincão também fez dois, a outra aquisição, Vagiannidis, estreou-se com uma assistência. Em dia de mostrar as novidades no estádio, correu tudo bem ao Sporting contra o Arouca (6-0), num jogo em que os visitantes ficaram com 10 aos 30'
A primeira versão do novo Alvalade, aquela inaugurada em 2003, é, esteticamente, a arquitetura do Sporting dos fantasmas. As cadeiras coloridas soavam a CSKA, o fosso tinha toques de separação entre bancadas e equipa, tudo cheirava a jejum, possuía 19 anos sem ganhar inscritos na pedra.
Com o passar dos anos, Alvalade foi recuperando o verde, perdendo a paleta cromática, voltou a tons mais familiares. Na ressaca do bicampeonato, a reinvenção ficou concluída. Foi-se o fosso, criaram-se uma série de lounges, espaços corporate, lugares VIP, experiências premium e demais léxico do marketinês.
No primeiro dia no Alvalade 2.0., o Sporting banhou-se numa piscina de golos, como se o betão que cobriu o fosso fosse feito de remates. O Arouca foi a vítima, num 6-0altamente marcado pela circunstância de, aos 30', os visitantes terem ficado reduzido a 10 e visto um penálti dobrar a vantagem dos bicampeões.
Buscando novas tendências para conjugar com o rebranding, o Sporting viu as caras novas terem protagonismo. Ricardo Mangas foi titular pela lesão de Maxi e aos 2' já andava na pequena área do Arouca, um lateral com alma de atacante e instinto goleador. Logo aos 20' — Alvalade 2.0., não é? —, o canhoto aproveitou um ressalto para inaugurar o marcador. Na madrugada da jogada esteve um grande passe de Debast, Zenoenbauer, para Trincão, provando a excelência do belga na construção.
Ricardo Mangas celebra o 1-0
MIGUEL A. LOPES
O Arouca chegou a Lisboa com vontade de mostrar o futebol apoiado e pensado de Vasco Seabra, escrito pelos pés talentosos de Pedro Santos, Fukui e Lee, trio de médios que se movimenta ao ritmo a que troca a bola. No entanto, o penálti e expulsão de Nandin abriram caminho para um serão de pesadelo.
Luis Suárez é um daqueles atacantes bicéfalos, capaz de olhar para o jogo e para a baliza em simultâneo. Tem um ADN de simulações, de deixar a bola passar para companheiros, de toques que estimulam ligações com Trincão e Pote, como um engenheiro que ergue pontes, ao invés de fossos. Além das combinações tricotadas, o colombiano também mira a baliza. Transformou o penálti no 2-0, atiraria uma bomba de pé esquerdo para o 5-0, já aos 62', quando o Arouca só pedia que o relógio andasse mais rapidamente.
Não há só novidades em Alvalade. A suster os horizontes do futuro está a base do passado recente e, nessa, Trincão é de aço.
O virtuoso canhoto, que definitivamente já não é o lado B do ataque, como na era de Viktor, mas o protagonista. Fez o 3-0 num remate em que evidenciou a facilidade de execução que o destaca, um quase insultuoso gosto para rematar forte e colocado. Na noite em que tudo foi aos pares — Alvalade 2.0., três jogadores com dois golos cada intercalados —, Francisco bisou aos 76', fixando o resultado final.
Suárez atira para o 5-0
MIGUEL A. LOPES
Honra seja feita ao Arouca. Mesmo quando o jogo se transformou numa contenda dolorosa, uma vida a dezenas de metros de distância de Rui Silva e tendo de sofrer e sofrer, os lobos iam tentando ligar futebol, sair da pressão, atuar com sentido e ordem.
Outra das novidades de Alvalade é que o relvado é híbrido. Longe vão os tempos do piso esburacado, fonte de críticas constantes de Paulo Bento, uma dor de cabeça que chegou a ter de ser pintado de verde para parecer menos mau. Também neste Sporting há notas híbridas, os laterais que podem ser alas, os homens de apoio a Suárez em permuta, fazer e desfazer.
Rui Borges, desde que chegou ao Sporting, empenhou-se em que as alas da defesa fossem reforçadas. Mangas, seu jogador, bisou, com o segundo golo do canhoto a ser 100% feito por reforços. Um ano depois da novela Ioannidis, os verde e brancos lá contrataram um jogador ao Panathinaikos, com Vagiannidis a estrear-se ao intervalo. O grego serviu Mangas para o 4-0.
Com a goleada selada, Harder entrou com a vontade do costume (máxima) e o discernimento habitual (não tão grande). Com Kocho com tudo para marcar, o jovem ponta de lança abusou do egoísmo, não marcando nem ele, nem o companheiro.
A noite foi de celebração, como quando se inauguram obras em vésperas de autárquicas. O fosso foi coberto por golos.