Crónica de Jogo

Neemias Queta aspirou e Portugal varreu a Chéquia no primeiro jogo do EuroBasket

Neemias Queta aspirou e Portugal varreu a Chéquia no primeiro jogo do EuroBasket
Anadolu

Era um dos jogos onde Portugal podia conseguir os pontos que precisa para cumprir o objetivo de passar a fase de grupos. De regresso ao EuroBasket, 14 anos depois, a seleção nacional venceu a Chéquia (62-50). Neemias Queta fez uma exibição histórica, entrando para o topo da lista de jogadores que mais ressaltos ganharam num só encontro do torneio

Era uma vez (assim começam todos os contos de fadas, não é?) uma equipa que, em conjunto, puxou os seus maiores sonhos do plano onírico para o pavimento dos mortais. 1098 dias passaram desde que Portugal começou o caminho para o EuroBasket, uma viagem sem destino já que nos últimos 14 anos muitos a iniciaram afundando-se antes de alcançarem o lugar onde os esperavam. A ardilosa pré-qualificação implicou a realização de seis jogos (quatro contra equipas que também estão no torneio). Na fase principal de qualificação, outros tantos. É um trajeto duro o suficiente para se poder dizer que a presença no EuroBasket de um país desencontrado com estas competições é um feito em si mesmo.

No regresso, Portugal precisou da inequívoca ajuda do seu jogador mais dominante. Por mais que se tente diversificar a análise, mencionar outros nomes que não o dele, a seleção nacional é Neemiocêntrica. Ao contrário de outros termos que terminam com o mesmo sufixo, este refere-se a uma qualidade carregada por um gigante. Para Queta, 2,13m parece ser um tamanho reduzido face à paixão que tem dentro de si.

Constantemente importunado, quando o árbitro apitava lá tinha ele que endireitar as alças da camisola que os adversários lhe iam tirando do sítio. Os contactos com que o tentavam sobrecarregar pareciam apenas carícias. Numa ostentação da sua brutalidade, aspirou 18 ressaltos (e marcou 23 pontos), algo que só Pero Antic, Andris Biedrins, Toko Shengelia, Dirk Nowitzki e Arvydas Sabonis conseguiram fazer neste torneio.

Num grupo A assoberbado de qualidade, restavam poucas hipóteses tão boas para acabar o jogo com mais pontos do que o adversário. Sorver Jan Vesely e Tomas Satoransky à Chéquia colocou o desafio a um nível alcançável para Portugal, fazendo deste adversário um daqueles que a seleção nacional devia ter em particular atenção para garantir as vitórias de que precisa para seguir em frente.

De Neemias Queta espera-se sempre muito. Talvez não aquilo que fez logo a abrir o jogo. Leva já quatro épocas na NBA e nunca conseguiu marcar um triplo. Ora, no EuroBasket, na primeira vez que foi envolvido no ataque, marcou um lançamento exterior. Assim fica difícil acalmar as expectativas.

É parte da essência da seleção nacional ter duas pantagruélicas figuras debaixo da auréola laranja. Miguel Queiroz, exímio passador e conhecedor de todas as rotas que levam à marcação de pontos, foi o emparelhamento que Mário Gomes escolheu para Neemias Queta.

Um jogo de basquetebol já é fragmentado em quatro períodos, mas o primeiro deles também se subdividiu. Neemias Queta deixou a equipa a vencer por sete pontos e voltou ao campo quando os Linces tinham uma vantagem menos confortável.

Ainda bem que os torneios de seleções existem. É uma maneira agradável de ver jogadores transfigurados. Vit Krejci, que na NBA praticamente limita os seus contributos ao lançamento exterior, no EuroBasket, expandiu a intervenção com manuseamentos de bola que revigoraram a Chéquia.

Portugal, sabe-se, não é uma equipa que consiga vitórias quando a pontuação começa a escalar dos 90 para cima. Foi então que, como em tantas outras ocasiões, a seleção se agarrou à defesa para manter o jogo equilibrado.

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É quando Travante Williams se coloca na mesma montra que os melhores defensores do mundo que a irascível atitude é coroada como merece. Quando se tem ao lado Neemias Queta, o amplo homem que coloca uma mão na Antártida ao mesmo tempo que a outra está no Ártico, é o nasce um tapume no cesto. De resto, sempre que os portugueses eram batidos em penetrações, as ajudas perto do aro intervieram com eficácia.

A produtividade de Neemias Queta, que ao intervalo (32-29) já era mais do que notória, fez os jogadores de Diego Ocampo congestionarem a área pintada. A melgarem o poste chegaram a estar três adversários em simultâneo.

A este nível, no qual muitos dos portugueses não estão habituados a competir, não se vence sem os contributos marginais das figuras secundárias. Rafael Lisboa afinou o lançamento em suspensão e Portugal conseguiu a primeira vantagem de dois dígitos no encontro graças aos três triplos concretizados no terceiro quarto.

É um chavão, mas o basquetebol é mesmo um jogo de parciais, ou seja, a seguir a uma investida portuguesa veio outra checa. Em momentos de sufoco, Neemias Queta metamorfoseou-se. A bomba de oxigénio portuguesa, como não podia deixar de ser, segurou a liderança no marcador.

Era do interesse da seleção nacional manter a pontuação rasa, mas talvez não tanto como veio a acontecer (62-50). Enquanto o ataque pode não ter sido sempre brilhante, a defesa conseguiu um registo que poucas equipas vão conseguir igualar.

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